Economia

Poupança tem o melhor resultado para um mês de novembro desde 2009

No acumulado desde janeiro, a diferença entre depósitos e saques já é a maior da série histórica, iniciada em 1996

BRASÍLIA — Mesmo depois de o governo alterar a rentabilidade da caderneta de poupança, a aplicação bateu recorde de captação. Em novembro, os depósitos em poupança superaram as retiradas em R$ 4,086 bilhões, em novembro, segundo dados do Banco Central (BC). É a maior captação líquida para o mês desde 2009, quando o resultado ficou em R$ 4,469 bilhões. Somente no dia 30, último dia para pagamento da primeira parcela do 13º salário o captação líquida foi de R$ 3,643 bilhões.

No resultado acumulado de janeiro a novembro, a diferença entre os depósitos e os saques chegou a R$ 40,2 bilhões e superou toda a captação de 2010 (R$ 38,7 bilhões), ano com o melhor desempenho desde o início da série histórica, iniciada em 1996. Em todo o ano passado, a captação líquida ficou em R$ 14,186 bilhões.

Os economistas atribuem dois motivos para a alta deste ano: uma migração de recursos que estavam nos fundos de investimentos para a poupança (com a queda dos juros, os rendimentos dos fundos não são mais tão atraentes e o risco da poupança é menor) e a alta dos salários que faz sobrar dinheiro no fim do mês e estimula o cidadão a economizar.

Ontem, a presidente Dilma Rousseff lembrou em um discurso para empresários que o Brasil aceitou calmamente as mudanças no rendimento da aplicação apesar do “trauma do sequestro da poupança”. No início do governo Collor, em 1990, o governo confiscou o dinheiro dos brasileiros que estava aplicado. Por isso, neste ano, a equipe da Fazenda teve cuidado para explicar que nada mudaria para os recursos que já estavam aplicados.

— Nós alteramos a regra da caderneta de poupança: uma barreira que uns consideravam intransponível por causa do trauma – disse a presidente na ocasião.

Desde o dia 4 de maio, os novos depósitos feitos não são mais corrigidos pela fórmula de 6% ao ano, além da taxa referencial (TR) toda vez que a taxa básica (Selic) cair para 8,5% ao ano. Quando estiver menor que esse patamar, a aplicação rende 70% da Selic mais TR. O gatilho da mudança foi acionado ainda em maio quando o Comitê de Política Monetária (Copom) diminuiu os juros básicos de 9% ao ano para 8,5% ao ano. Hoje, a taxa está em 7,25% ao ano.

Toda essa mudança de regra foi feita para abrir caminho para o Banco Central poder cortar ainda mais os juros sem fazer com que a poupança recebesse uma enxurrada de recursos. Uma corrida para a aplicação criaria um problema para o próprio governo. O receio do Ministério da Fazenda era que uma retirada de dinheiro dos fundos de investimentos atrapalharia o financiamento da dívida pública já que eles são recheados desses papéis. Para não desestimular a indústria dos fundos, o governo orientou os bancos públicos liderassem um movimento de queda das taxas de administração para deixar as aplicações mais competitivas.

Ao todo, os brasileiros guardam R$ 484,9 bilhões na aplicação mais tradicional do país. É mais um recorde histórico.