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Madeira que iria para o lixo ganha design arrojado com soluções ecológicas e econômicas

Arquitetos e artistas plásticos montam ambientes com objetos reutilizáveis

RIO — Dar um novo destino para gavetas inutilizadas, caixas de vinho descartadas, pallets encostados e janelas velhas. Essa esse é o desafio que decoadores, designers e arquitetos tem levado a cabo a pedido de seus clientes com resultados surpreendentes. O arquiteto Fernando Menezes, por exemplo, sócio da marca Tamanduá Bandeira, recebeu a proposta de transformar uma antiga academia de ginástica em um charmoso loft. Fã do reaproveitamento de materiais, ele utilizou janelas de demolição para cobrir uma das paredes do cômodo.

— Meu objetivo era reduzir os gastos com a reforma. Aproveitando janelas de demolição, consegui 12 por R$ 350. Por isso criei um ambiente reaproveitando 80% dos móveis antigos. Também reaproveitei itens como espelho, que serviu para revestir uma parede inteira, e as cadeiras da academia. Já a mesa de apoio, por exemplo, foi achada no lixo, e a da cozinha foi feita a partir de madeiras que seriam descartadas. Antes de você reformar qualquer ambiente, você tem dar uma olhada no que pode ser reaproveitado. Um banco pode ganhar um novo estofado, um móvel, uma nova cor — explica o arquiteto

Usados como suporte no transporte de cargas pesadas, os pallets se tornaram o queridinhos de quem tem anos de estrada, mas também de quem se aventura na decoração de ambientes. O fotógrafo e artista plástico Marcelo Braga, por exemplo, começou a criar móveis há dois anos e meio e já fez até uma grana extra com os móveis que desenhou.

— Os pallets são muito versáteis. É uma madeira de excelente qualidade, resistente à carga e impacto. Basta usar a criatividade para enxergar a infinidade de possibilidades que ele oferece. A gente consegue fazer peças únicas de decoração, como mesa de centro, que também pode ser usada como puff, suporte para televisão, painel para plantas em áreas externas e fechadas, entre outros — ensina.


No loft formulado por Fernando Menezes, janelas de demolição revestem uma parede inteira
Foto: Divulgação/Fernando Menezes
No loft formulado por Fernando Menezes, janelas de demolição revestem uma parede inteira Foto: Divulgação/Fernando Menezes

Uma das peças mais fáceis de fazer, segundo Marcelo, é a cadeira.

— Nela utilizamos os pallets por inteiro, sem ter que fazer adaptações de corte. Usamos os encaixes que ele oferece. Tornamos mais confortável acrescentando o estofado e agregamos valor ilustrando com grafites para customizá-las.

A onda ecológica também invadiu a central de carpintaria do Consórcio Linha 4 Sul, responsável pela implantação da linha 4 do metrô entre Ipanema e Gávea. Dez colaboradores reciclam peças como tapumes, pilares, formas e carretéis de cabo de aço e criam móveis utilitários que atendem os canteiros de obra e áreas de convivência. A confecção de mesas, cadeiras, sofás, bancos e jardineiras já reaproveitou mais de 1,5 tonelada de madeira.

— Existe um custo alto para descartar a madeira por causa da quantidade, além da preocupação ecológica com o destino deste material — pondera o engenheiro André Amprino, responsável pelo canteiro da obra da rua Ceará.

No espaço de convivência dos colaboradores do canteiro do poço Igarapava, localizado na Avenida Visconde de Albuquerque, no Leblon, é possível relaxar entre uma folga e outra. Para David Penna, engenheiro civil, os móveis mudam o ambiente do local.

— O ambiente de uma obra é muito cinza. A ideia é tentar humanizar o trabalho deles.


Nos canteiros do Consórcio Linha 4 Sul, no Leblon, pallets viram móveis na área de convivência dos colaboradores
Foto: Felipe Hanower
Nos canteiros do Consórcio Linha 4 Sul, no Leblon, pallets viram móveis na área de convivência dos colaboradores Foto: Felipe Hanower