Edição do dia 29/08/2014

30/08/2014 00h26 - Atualizado em 30/08/2014 01h07

Economia brasileira tem retração com baixo nível de investimento

Dados do IBGE indicam uma retração em praticamente todos os setores.
Entre abril e junho, economia recuou 0,6% em relação ao trimestre anterior.

Bruno Grubertt / Sandra Passarinho / Janaína LepriCampo Grande, MS / Rio de Janeiro, RJ / São Bernardo do Campo, SP

A economia brasileira está encolhendo. Os números divulgados na sexta-feira (29) pelo IBGE dão conta de retração em praticamente todos os setores, com um dado preocupante: nível baixo de investimentos.

De abril a junho, a economia brasileira recuou 0,6% em relação ao trimestre anterior, que teve o dado revisado: o crescimento de 0,2% virou uma queda de 0,2%. Como houve dois trimestres seguidos de queda na comparação com o período imediatamente anterior, alguns economistas dizem que o Brasil está tecnicamente em recessão.


AVANÇO DA AGROPECUÁRIA EM RITMO MENOR

Dos setores produtivos da economia, só a agropecuária avançou, embora em um ritmo bem menor que no primeiro trimestre: passou de 3,6% para 0,2% de crescimento. Por enquanto, é o milho que está nos campos em Mato Grosso do Sul, mas o desempenho do grão e do café não foram tão bons no segundo trimestre deste ano, segundo dados do IBGE.

Foi a soja, mais uma vez, o grande destaque da agropecuária, e a valorização dela também provocou um impacto positivo no PIB. O preço da saca de 60 kg aumentou 10% e o volume produzido cresceu 6%, o que ajudou a alavancar o PIB do agronegócio.

Outros destaques foram a mandioca e o arroz. Já a pecuária não teve um crescimento tão alto segundo o levantamento do IBGE.


QUEDA NO SETOR DE SERVIÇOS

Já o maior setor produtivo da economia caiu 0,5%, a primeira retração dos serviços desde o quarto trimestre de 2008, durante a crise mundial. Teve impacto direto nessa redução dos serviços um outro setor que durante anos impulsionou nossa economia: o consumo das famílias, que continua crescendo, mas pouco: ficou em 0,3% no trimestre.

As famílias continuaram gastando mais, mas em um ritmo menor. Segundo economistas, a inflação mais alta reduziu o poder de compra. Os juros elevados deixaram os empréstimos mais caros. Essa situação que foi agravada também pelo endividamento das famílias.

Com o orçamento mais apertado, o apetite pelas compras diminuiu e, como renda e consumo estão diretamente ligados aos serviços, o avanço tímido dos gastos dos brasileiros contribuiu para o recuo desse setor. E essa queda nos serviços foi puxada principalmente pelo desempenho negativo no comércio, que encolheu 2,2% no segundo trimestre.


INDÚSTRIA RECUA 1,5%

Responsável pelo emprego de qualidade, a indústria apresentou dados alarmantes. Houve recuo de 1,5%, a quarta retração consecutiva.

O resultado negativo já era esperado pelo mercado, que já anda meio desanimado com a inflação, os juros altos e os índices declinantes de confiança do consumidor e dos empresários, com impacto negativo na taxa de investimentos, que caíram pela quarta vez seguida: -5,3%.

Mais um número ajudou a puxar o PIB para baixo: gastos do governo em queda. Os investimentos caíram porque faltam confiança e dinheiro e os custos das empresas aumentaram em um cenário de juros altos e inflação. Mas tem ainda outra explicação para essa queda: o desempenho ruim da indústria, como a automotiva.

Em São Bernardo do Campo (SP), por exemplo, algumas montadoras estão freando a produção e suspendendo contratos de trabalho. Isso afeta toda a cadeia, já que a indústria deixa de comprar componentes de outras indústrias.

Desse jeito, ninguém investe em novas máquinas. Por isso que a queda da produção industrial puxou para baixo o investimento , que agora tem a menor participação no PIB desde 2006. Chegou a 16,5%, enquanto os economistas dizem que o ideal é um índice acima de 20%.


QUEDA DO PIB JÁ ERA PREVISTA

A queda do PIB já era prevista pelos mercados, que mantiveram para este ano previsão de crescimento entre 0,5% e 1%.

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, não concorda com o que economistas chamam de retração (veja ao lado).

Recessão é quando você tem desemprego aumentando e renda da população caindo. No Brasil, nós temos o contrário. Nós temos o emprego crescendo. Mesmo
que a taxas mais baixas, continua crescendo. E os salários estão crescendo, a massa salarial
está crescendo, então não dá
para dizer que está parado"
declara Guido Mantega, ministro da Fazenda

"Há uma perspectiva de recuperação moderada da indústria em julho, isso pelo fato de junho ter sido muito ruim em virtude da Copa do Mundo. Mas, para agosto e setembro, ainda não dá para a gente esperar uma continuidade dessa recuperação em função dos níveis baixos de confiança tanto de empresários do setor industrial, de serviços, comércio e até mesmo a expectativa dos consumidores andam em baixa", analisa Luciano Rostagno, estrategista-chefe do banco Mizuho.

"A definição de recessão depende do gosto do freguês. Não existe uma definição exata. Por exemplo, nos EUA eles não olham só o PIB, eles olham vários outros indicadores. O que dá para dizer é que a economia está realmente em um momento bem dificil e que os primeiros dados indicam que o terceiro trimestre também vai ser um trimestre de dificuldades", prospecta Chico Pessoa, economista da LCA.