Cultura

Produtor do Nirvana dá bronca em bandas brasileiras no Facebook

'Por que você estão cantando em inglês? Nunca entendo uma palavra', escreveu Jack Endino, absolvendo apenas o Sepultura
Jack Endino em foto publicada em seu perfil do Facebook Foto: Reprodução
Jack Endino em foto publicada em seu perfil do Facebook Foto: Reprodução

RIO - Jack Endino foi um dos fundadores do selo independente Sub Pop, responsável, entre outras coisas, por lançar bandas como Nirvana ao mundo. Em seu perfil no Facebook, ele se descreve como "produtor, engenheiro de música e músico desde 1984. Guitarrista da Kandi Coded. Ex-guitarrista da Skin Yard. Produtor de mais de 375 discos em 11 países. Padrinho do grunge". Acontece que nesta quarta-feira Endino usou esta mesma página para fazer um desabafo sobre as bandas brasileiras .

"Bandas brasileiras! Por que vocês estão cantando em inglês? Eu nunca entendo uma palavra! Qual o objetivo? Isso não vai lhes dar sucesso fora do Brasil e não entendo como possa trazer sucesso dentro do Brasil. Sim, eu sei que Sepultura fez isso, mas o inglês deles era excelente, as letras boas e eles eram contratados por uma gravadora de metal internacional. Quem mais fez isso? Fico realmente frustrado e confuso com isso", escreveu.

Até a noite de quarta, o post ganhou mais de 1,4 mil comentários, boa parte deles de brasileiros descontentes com as observações do produtor. Alguns colocam links para vídeos no Youtube de bandas que fazem justamente o que Endino critica.

Produtor precisou se justificar

Graças à repercussão negativa de suas declarações, Endino acabou se justificando, também por meio de sua fanpage. "Ok, ok, desculpas a todos! Não era minha intenção ofender ninguém. Não estou rindo de vocês. Eu amo o Brasil e a música brasileira. Obviamente eu não estou ouvindo as bandas certas e obviamente eu estou completamente enganado!", disse, na tentativa de amenizar a revolta.

"Mas, prestem atenção, eu não entendia isso (bandas cantando inglês) quando visitava a Alemanha, Portugal, México ou Itália. Simplesmente soa 'estranho' que uma pessoa queira escrever letras em um idioma que não é o seu idioma nativo. Eu gosto do português, gosto do espanhol, mas eu jamais tentaria escrever músicas nestas línguas porque já é difícil para mim escrever em inglês! O Brasil é um gigante musical. Por que cantar em inglês? Essa é minha simples questão. Me ajudem a entender".

O pedido do produtor, obviamente, foi prontamente atendido. A reação dele, desta vez, veio com algumas palavras em português: "Ok, amigos, recebi ótimas respostas, muito obrigado! As coisas realmente mudaram desde a primeira vez em que estive no Brasil, em 1993", desculpou-se, para levantar mais uma questão. "'Feijoada Acidente', do Ratos de Porão. Qual versão é melhor? A em inglês ou a cantada em português?". Novamente, o músico recebeu uma chuva de comentários.

A polêmica só se deu por (aparentemente) encerrada com mais uma justificativa do produtor. "Publiquei aquilo de forma emocional e meu ponto não ficou claro. Ok, não me referia apenas ao Brasil. Eu sei que isso é rock'n'roll e que não há regras. Claro que vocês são livres para cantar em qualquer idioma, mesmo que nem todo mundo no seu país possa entender. Mas, se você não é bom com aquele idioma, então ninguém vai poder entender o que você diz... você estará cantando para ninguém! Como isso pode ser bom para a carreira de alguém?".

"Muitas bandas têm dificuldade de serem reconhecidas em sua própria cidade. E se você acha que sua cidade não importa... se você espera alcançar o sucesso fora do seu país... não se esqueça de que você está competindo com milhares de bandas que são nativas naquele idioma, que já vivem naquele país e que fazem shows naquele país. E você não. Então você não pode ser apenas 'ok'. Você tem que ser o melhor. Alguém tinha que dizer isso, mas eu não falei da melhor maneira possível. Agora sim", completou, encerrando o assunto, ao menos por enquanto.

Em 1988, Endino aceitou produzir o disco de estreia de uma banda até então desconhecida, liderada pelo então jovem Kurt Cobain. Por cerca de US$ 600 ele gravou "Bleach", disco que lançou o Nirvana no mercado.