Economia

Lucro do Bradesco sobe apenas 1,7% no terceiro trimestre

Ganho foi de R$ 2,893 bilhões entre julho e setembro

SÃO PAULO – Com mais tarifas, calote em queda e bons resultados no ramo de seguros, o Bradesco lucrou R$ 2,86 bilhões no terceiro trimestre, valor 1,7% maior que o do mesmo período de 2011. No acumulado dos nove primeiros meses do ano, o ganho subiu um pouco mais, 2,24%, chegando a R$ 8,48 bilhões — o quarto maior resultado entre os bancos brasileiros para o período, segundo cálculo da consultoria Economatica.

As pressões do governo para a redução dos spreads (diferença entre o que os bancos pagam a investidores e o que cobram nos empréstimos dos clientes), combinado com a atuação mais agressiva dos bancos públicos, derrubaram de 30%, em setembro de 2011, para 26% a participação das receitas com crédito no resultado do banco. Em contrapartida, as receitas com prestação de serviços (tarifas) somaram R$ 12,8 bilhões de janeiro a setembro, um salto de 15,3% sobre 2011, contribuindo com 26% no lucro do período.

— O banco ganhou muito em receitas com serviço e manteve bons resultados no ramo de seguros, e isso fez com que, mesmo não tendo crescido tanto no crédito, o lucro líquido superasse o do ano passado — diz Luiz Miguel Santacreu, analista da Austin Rating.

Mesmo com a economia em ritmo lento e a inadimplência ainda em patamar elevado, a carteira de crédito do Bradesco cresceu 11,8% até setembro, atingindo R$ 371,6 bilhões. De acordo com Luiz Carlos Angelotti, diretor de Relações com Investidores da instituição, o Bradesco deu prioridade à expansão das operações nas carteiras de crédito habitacional e de consignado, que têm margens menores mas menor risco do que negócios com veículos e aquisição de carteiras de bancos menores.

Rentabilidade teve queda

O resultado dessa mudança no mix da carteira, somada à queda nos juros, foi que a rentabilidade (medida pelo retorno sobre o patrimônio líquido médio) fechou setembro em 19,6%, abaixo dos 22% de setembro de 2011. A expectativa para a expansão da carteira de crédito é de 14% neste ano.

— No novo cenário de juros e margens menores, é razoável que o retorno fique entre 18% e 20% — disse Angelotti.

Levando em conta que a Selic recuou ao patamar de 7,25%, que passa a ser referência de rentabilidade das aplicações no mercado financeiro, João Augusto Salles, analista da Lopez Filhos, diz tratar-se de um excelente retorno.

— Com os juros caindo, a rentabilidade vai cair, mas entre 18% e 20% é um excelente índice de retorno — disse Salles, observando que o Bradesco tem elevado nível de capitalização, o que lhe permite expandir agressivamente o volume de financiamentos.

Os atrasos superiores a 90 dias (principal indicador de inadimplência do setor) recuaram entre o segundo e o terceiro trimestre, de 4,2% para 4,1% da carteira, ainda acima dos 3,9% de setembro de 2011.

Caem ações de outros bancos

O resultado do banco pesou sobre as ações do Bradesco na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). As ações preferenciais (PN, sem voto) fecharam em queda de 1,85%, a R$ 31,75. Já os papéis ordinários (ON, com voto) recuaram 1,12%, a R$ 26,46. O banco perdeu ontem sozinho R$ 1,7 bilhão de valor de mercado ontem.

Segundo Illan Besen, especialista em Bolsa da Icap Corretora, apesar da pequena diferença, o balanço do Bradesco veio dentro do que o mercado esperava. O motivo da queda seria a perda de rentabilidade do banco (o chamado ROE, rentabilidade sobre o patrimônio líquido), que ficou em 18,4% no terceiro trimestre, segundo a base de dados da Economatica, bem abaixo dos trimestres anteriores.

— Esse retorno era de 20% a 22% nos últimos anos. Os analistas sabiam que essa rentabilidade ia encolher por causa da ingerência do governo sobre os bancos. Mas esse resultado confirma essa expectativa, de margens menores das instituições — explica Besen. — As ações dos bancos estão sofrendo bastante por causa da intervenção do governo. E isso pode continuar.

Recuaram Itaú Unibanco PN (1,13%, a R$ 8,75) e Santander units (1,78%, a R$ 14,37). O papel do ON do Banco do Brasilficou estável, a R$ 22,70. A Bovespa caiu pelo terceiro pregão seguido: 0,38%. O dólar comercial caiu 0,15%, a R$ 2,025. (Colaborou Bruno Villas Bôas)