Política

Comissão da Verdade diz que resistência de militares brasileiros é ‘constrangedora’

Para integrantes da CNV, estrangeiros são mais colaboradores que brasileiros

Integrantes da CNC criticam postura das Forças Armadas brasileiras em não divulgar dados sobre o período da ditadura no país
Foto: André Coelho / Agência O Globo
Integrantes da CNC criticam postura das Forças Armadas brasileiras em não divulgar dados sobre o período da ditadura no país Foto: André Coelho / Agência O Globo

BRASÍLIA — Depois de receber documentos da Argentina e dos Estados Unidos, o coordenador da Comissão Nacional da Verdade (CNV), Pedro Dallari, criticou a resistência das Forças Armadas brasileiras em colaborar com as investigações sobre os crimes cometidos durante a ditadura militar. A Comissão pela Memória da Província de Buenos Aires entregou relatório à CNV sobre 11 brasileiros desaparecidos na Argentina. O vice-presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, ofereceu ao governo brasileiro documentos do Departamento de Estado sobre o período da ditadura no Brasil.

— É paradoxal e até constrangedor para nós que estejamos recebendo mais informações de governos estrangeiros que aquelas que nos são fornecidas pelas Forças Armadas — afirmou Dallari.

Em recente relatório encaminhado à Comissão Nacional da Verdade, as Forças Armadas afirmaram que não houve tortura ou morto em prédios administrados pelos militares. Para integrantes da comissão, a tentativa dos militares de negar a tortura e morte em dependências das Forças Armadas não tem plausibilidade. Para Dallari e outros integrantes da CNV, é preciso que haja uma mudança na postura dos militares.

Na tarde desta terça-feira, o ex-ministro da Justiça José Carlos Dias, um dos integrantes da comissão, interrogou o capitão da reserva do Exército Roberto Amorim, que atuou no Pará, antes da operação militar que devastou os guerrilheiros do PC do B na região. Segundo o ex-ministro, o capitão também negou envolvimento com qualquer situação de violação de direitos humanos e até acusou, sem citar dados concretos, guerrilheiros de prática de justiçamentos.

— Ele foi um pouco arrogante na postura. O advogado dele até pediu desculpas. Eu disse, então, que aqui ele poderia depor e que nada aconteceria com ele — disse José Carlos Dias.

A partir das 9 horas desta quarta-feira o ex-ministro e outros integrantes da comissão se reúnem com a ministra Ideli Salvatti, da Secretaria Nacional de Direitos Humanos, para pedirem pressa nos laudos feitos depois da exumação dos restos mortais do ex-presidente João Goulart. Para José Carlos Dias, estão demorando demais na conclusão no estudo. No relatório entregue pela Comissão pela Memória da Província de Buenos Aires à CNV existem referências sobre Jango.

Para o secretário-executivo da comissão, André Saboia, esta é mais uma prova de que o ex-presidente estava sendo vigiado ainda em 1976, quando morreu. A partir das 14 horas de amanhã a CNV deverá interrogar Cláudio Guerra, ex-agente da didatura, réu confesso de crimes cometidos durante a ditadura.