Brasil Religião

Sudanesa condenada à morte por se casar com cristão é recebida pelo Papa no Vaticano

Meriam Ibrahim foi libertada depois de seu caso gerar repercussão internacional

Papa Francisco expressou “sua gratidão e alegria” pela chegada da sudanesa
Foto:
L’Osservatore Romano
/
AP
Papa Francisco expressou “sua gratidão e alegria” pela chegada da sudanesa Foto: L’Osservatore Romano / AP

CARTUM - Condenada à morte por se casar com um cristão, a sudanesa Meriam Ibrahim pode, enfim, sentir-se segura. Em maio deste ano, ela recebeu a pena capital após ser acusada de apostasia (abandono à religião) por ter deixado a fé islâmica. Após a repercussão internacional que o caso gerou, ela foi libertada, mas impedida de deixar o Sudão. Nesta quinta, finalmente, Meriam foi levada à Itália e recebida pelo primeiro-ministro italiano, Matteo Renzi. Ela e se encontrou com o Papa Francisco na Casa Santa Marta, residência do Pontífice no Vaticano.

Mãe de uma criança de 2 anos, Meriam estava grávida quando recebeu sua sentença. Ela foi obrigada a dar à luz na cadeia, no dia 27 de maio. Marido da sudanesa, Daniel Wani apelou à corte do país, que decidiu libertar sua mulher, no dia 24 de junho. A família, em seguida, tentou embarcar para os Estados Unidos, mas foi presa no aeroporto e liberada dois dias depois. Desde então, o casal e seus dois filhos vinham se refugiando na embaixada americana.

Nesta quinta, a família chegou a Roma acompanhada de sua família e do vice-ministro dos Negócios Estrangeiros, Lapo Pistelli, que foi ao Sudão só para buscá-los, na quarta-feira. Ela foi liberada após intensas negociações diplomáticas do governo italiano e do Vaticano com as autoridades do Sudão. “Hoje estamos felizes, este é um dia de celebração”, disse Renzi enquanto cumprimentava Ibrahim e sua família, ao lado de sua esposa Agnese.

Lapo Pistelli disse que o papa Francisco havia expressado “sua gratidão e alegria” quando soube que Ibrahim tinha chegado. Ela será transferida para os EUA em alguns dias.

Os casamentos que misturam duas fés não são reconhecidos no Sudão, e uma pessoa que "abandona" uma religião em troca de outra pode ser acusada de apostasia. Informações dão conta de que Ibrahim foi denunciada por um parente. O pai dela é muçulmano, mas ela sustenta que foi criada na fé cristã por sua mãe, ortodoxa etíope, depois que seu pai as deixou quando ela era uma criança.

Lideranças estrangeiras demonstraram preocupação com o caso. John Kerry, secretário de Estado americano, pediu a revogação das leis que proíbem a conversão de muçulmanos para outras religiões, enquanto grupos de direitos humanos pediam a libertação de Meriam. Em junho, o Supremo Tribunal do Sudão suspendeu a sentença de morte.

Grupos de direitos humanos aplaudiram a notícia de que Ibrahim tinha finalmente sido permitida de deixar o Sudão, mas destacaram que a repressão aos cristãos no país do Norte da África continua.

A diretora Olivia Warham da Waging Peace, ONG do Reino Unido que luta contra o genocídio e violações sistemáticas dos direitos humanos no Sudão, disse que milhões de cristãos sudaneses enfrentaram brutalidade diária e limpeza étnica do regime sudanês.

“Três anos atrás, o presidente Omar al-Bashir deixou claro que não haveria espaço para os não-muçulmanos no Sudão islâmico. Ele tem honrado sua palavra, esmagando os dissidentes e matando sistematicamente as minorias étnicas e religiosas. Bombardeios aéreos comuns pelas forças armadas sudanesas destroem comunidades e hospitais cristãos, forçando as pessoas a fugir de suas áreas para esconder nas montanhas de Nuba”, afirmou. Para Warham, é chocante que a ideologia de eliminação do presidente provoca somente ocasionais palavras de pesar ada comunidade internacional, quando sanções inteligentes deveriam ser impostas aos arquitetos dessas atrocidades.