13/01/2013 08h45 - Atualizado em 13/01/2013 08h45

Imigrantes holandeses ajudaram a melhorar a pecuária leiteira no Brasil

Colônias na região de Ponta Grossa, no Paraná, são centenárias.
Reportagem faz parte dos melhores momentos do Globo Rural em 2012.

Do Globo Rural

Há pouco mais de um século, imigrantes vindos da Holanda começaram a chegar à região de Ponta Grossa, no Paraná. Não foram os primeiros holandeses que vieram para o brasil. no século dezessete eles inclusive ocuparam por algum tempo a Bahia e Pernambuco.

Como imigrantes, os holandeses começaram a voltar em meados do século dezenove e criaram colônias em vários estados. A colônia paranaense foi uma das que se destacaram pela contribuição dada à nossa agropecuária.

Em Carambeí, cidade de 20 mil habitantes, um parque industrial agropecuário bem ativo e como marca registrada, graciosos moinhos, que funcionam como estandartes holandeses enfeitando os também graciosos e produtivos campos gerais do Paraná.

Mas 100 anos atrás, a única promessa de civilização eram os trilhos da estrada de ferro. A companhia colonizadora anunciava na Europa a venda de lotes nessa área. Foi assim que no começo do século XX, os holandeses voltaram a ter interesse pelo Brasil.

No sudoeste da Holanda, a 100 quilômetros de Amsterdã, a cidadezinha de s-Gravendeel é um lugar tranquilo, e não é difícil encontrar parentes da família De Gueus, que agora vive na cidade de Carambeí, no Brasil.

No Centro Histórico de Carambeí, no bonito e variado acervo sobre a colonização, uma sala é dedicada aos De Gueus, na figura do seu Artian e de dona Helena, casal que, pode-se dizer, foi matriz de uma população.

Dick De Gueus, hoje com 70 anos, é um estudioso da genealogia da família e fundador da Casa da Memória de Carambeí. No entender de Dick De Gueus, três pilares deram sustentação à formação da colônia. Primeiro, a religião. Até hoje, a igreja evangélica reformada é uma das referências do município.

Outro pilar que sustentou a fixação das famílias em Carambeí foi a educação. Um dos cômodos do museu representa uma salinha de aula antiga, do tempo em que não havia caderno, o aluno aprendia escrevendo em uma lousinha.

O terceiro pilar foi a união dos imigrantes no trabalho, no cooperativismo.

O motor que garantiu o sucesso da implantação da primeira colônia holandesa no Brasil foi, sem dúvida, o gado leiteiro. Na Holanda existe um lugar que é considerado como o centro de origem desse gado: a região chamada Frísia, que fica bem ao norte do país.

A família de Siebe Reistman está na Frísia desde 1850. Já são cinco gerações. A vaca que ele cria é a frísia original, vermelha e branca. Faz parte de um interessante programa holandês, pois a raça esteve ameaçada de extinção. É um banco genético só que espalhado por pequenas propriedades. De apenas 40 que restavam, hoje já existem 350 cabeças. Siebe tem 66 cabeças e conta que cria por paixão, assim como fez o pai, o avô, o bisavô e o trisavô. Ele recebe um incentivo financeiro por isso.

Comparando com a vaca holandesa moderna, as características da frísia original, explica Siebe, são bom rendimento de carne e leite, mas não tanto quanto a moderna. O leite tem mais gordura e, de um modo geral, o animal é mais dócil e mais resistente às doenças.

Brasil
Localizada no norte do Paraná, a Fazenda Frankanna é uma das campeãs nacionais em eficiência de produção. A média de produção está entre as mais altas do mundo: cerca de 42 litros por dia.

A sala de ordenha é equipada com o que tem de mais moderno no Brasil hoje. A fazenda, porém, não trabalha com robôs. Por enquanto, no Brasil, não se paga o investimento nessa tecnologia, como explica um dos donos, Richard Djikstra.

“No futuro é muito provável que venhamos a usar esse tipo de equipamento. Há uma tendência no custo de mão de obra, que está se elevando ano após ano”, declara. Mais do que investir em equipamento, no entanto, o forte da fazenda está na genética do gado. Uma tradição que vem desde que a família comprou as primeiras glebas no Paraná.

No mesmo navio em que a família Djikstra viajou para o Brasil em 1947, veio um rebanho selecionado de 40 novilhas

O gado fino que veio na bagagem dos Djikstras trouxe grandes contribuições pra a formação da pecuária leiteira do Brasil, conforme analisa o agrônomo William Tabchoury, gerente de uma das maiores companhias de genética bovina do mundo.

“Os holandeses são pioneiros na identificação, controle e registro de animais. Isso se iniciou na Holanda em 1874. A partir daí teve a possibilidade de se realizar melhoramento genético do rebanho, essa é a segunda contribuição. O Brasil hoje é o quinto maior produtor de leite do mundo e cerca de 80% a 90% do leite produzido tem alguma influência da raça holandesa”, explica o agrônomo.

 


 

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