Economia

Há vagas, mas falta qualificação profissional

Meta do governo de criar 2 milhões de empregos formais não deve se concretizar, dizem analistas

BRASÍLIA — O mercado de trabalho no Brasil vive um momento peculiar. Se, por um lado, a taxa de desemprego atingiu um dos menores patamares da história; por outro, a meta de dois milhões de empregos formais anunciada pelo governo para este ano dificilmente será alcançada, dizem analistas ouvidos pelo GLOBO . As previsões vão de 1,5 milhão a 1,9 milhão de vagas, se a economia crescer entre 2,5% e 3,5%.

O economista Caio Machado, da LCA Consultores, atribuiu as projeções mais conservadoras para este ano à política das empresas em 2012. Mesmo com a desaceleração econômica, empresários preferiram não demitir, o que levou à queda nas horas de trabalho dos profissionais. No ano passado, as vagas com carteira assinada criadas somaram 1,3 milhão, sobretudo devido aos setores de serviços, comércio e construção.

— Agora, há um espaço para aumentar a atividade sem contratar mais gente — disse.

Para o economista do Bradesco Leandro Câmara Negrão, diante do apagão de mão de obra no país, as empresas não reduziram seus quadros por medo de perder empregados capacitados e, depois, não conseguir repor com a mesma qualidade, o que terá impacto nas estatísticas do emprego deste ano:

— O Brasil vem de um período de retenção de emprego que começou em meados de 2010 e ficou com estoque de emprego rodando acima do que o nível de atividade sugeria.

Temor de pressão na inflação

Tatiana Milito, gerente de Recursos Humanos do hotel Windsor Barra, contou que, por mês, precisa preencher pelo menos 15 vagas. E a tarefa é árdua. Embora cheguem cada vez mais currículos, poucos são os que atendem ao perfil exigido. E ainda é preciso lidar com a rotatividade crescente.

— Há uma disputa muito grande pelo profissional de hotelaria — disse Tatiana.

Especialista em mercado de trabalho, o economista José Márcio Camargo, da Opus Investimentos, destacou que, de um lado, o país tem restrições importantes no que diz respeito à oferta, como carga tributária elevada e produção cara. De outro, com a taxa de desocupação em 5,5%, a abertura de mais vagas pode contribuir para a elevação dos preços de bens e serviços. Ou seja, com falta de mão de obra qualificada, os empresários vão pagar mais para tirar os trabalhadores de concorrentes ou treinar seus funcionários. E esses gastos devem ser repassados ao consumidor, pressionando ainda mais a inflação.

— A taxa de desemprego está muito abaixo do sustentável, tanto do ponto de vista de pressão inflacionária quanto da competitividade — disse Camargo.