Economia

Jovens espanhóis retiram qualificações de currículo para conseguir emprego

FMI pede a Espanha que suavize medidas de austeridade para não elevar taxa de desemprego

David Juárez (direita), após três meses desempregado, aceitou um trabalho por tempo indeterminado e em casa para não deixar sua área
Foto: Arquivo Pessoal
David Juárez (direita), após três meses desempregado, aceitou um trabalho por tempo indeterminado e em casa para não deixar sua área Foto: Arquivo Pessoal

RIO - Diante da escalada da crise na Espanha, os jovens estão omitindo qualificações para conseguir empregos em suas áreas. Pedagogos que após meses desempregados aceitam trabalhos de monitores escolares, engenheiros que buscam trabalho como garçons em restaurantes e discotecas e jornalistas que escondem suas pós-graduações para retornarem à redação. Para fugir da crise, os jovens espanhóis estão usando destes artifícios para conseguir empregos.

Este é o caso de David Juárez, 23 anos, com master em jornalismo esportivo e que chegou a pensar em deixar de lado o sonho de uma carreira na área por conta das dificuldades para conseguir sequer uma entrevista de emprego. Após três meses desempregado e procurando empregos em outras áreas, aceitou ser freelancer para o mesmo veículo onde trabalhava para não deixar sua área.

— Era bastante comum eu não dizer que tenho master para tentar uma entrevista. Estava aberto a bicos em outras áreas. Éramos 30 formandos em 2011, só dois estão empregados — afirma. — A vaga que estou agora é por tempo indeterminado e trabalho de casa.

Segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE, correspondente ao IBGE no Brasil), o desemprego na Espanha bateu recorde histórico no último quadrimestre de 2012: chegou a 26% da população ativa, contabilizando 5,97 milhões de pessoas. O impacto foi forte entre os jovens de 16 a 24, com 55% da população ativa desde grupo fora do mercado de trabalho.

Para evitar um agravamento da crise na Espanha, o Fundo Monetário Internacional (FMI) deu respaldo nesta quinta-feira ao país ibérico para que suavize suas medidas de austeridade após apresentar projeções alarmantes para 2018.

A diretora-gerente Christina Lagarde defendeu de forma contundente que o relaxamento serviria para dar tempo de o governo espanhol conseguir reducir seu déficit público sem que coloque a renda e o emprego da população em xeque.

Casada e sem filhos, Natalia Lopez Rocuant, 27 anos e moradora de Madri, reclama que ficou três meses procurando emprego como cozinheira e só conseguiu voltar ao trabalho depois que seu marido decidiu juntar as poucas economias para abrir um pequeno negócio próprio.

- No começo, todos procuram em suas áreas mas logo deixam currículos em qualquer outra profissão. Até por contratos de poucas horas. Conheço exemplo de um engenheiro que busca trabalho de garçom em discotecas e restaurantes.

A medida extrema destes profissionais, apesar de bem qualificados mas ainda muito jovens, visa a entrada de qualquer forma no mercado de trabalho diante da recessão prolongada pela qual passa o país, que realiza profundos cortes no orçamento. A situação é tão surreal que a irmã de Mercè Folch, diplomada em Logopedia (especialista em fala, linguagem e comunicação), na impossibilidade de conseguir um emprego fixo optou por trabalhar em três de poucas horas.

- As pessoas não conseguem empregos em suas áreas e vão realizar bicos, sobretudo em bares. Minha irmã tem três empregos de três horas cada um. Mas aqui onde moro, tem muita gente tentando ser vendedor na Decathlon [loja de artigos esportivos] - contou Mercè Folch, há quase doze meses sem trabalho após apenas três meses (entre julho e setembro de 2012) trabalhando cobrindo férias.