Prédio da UPP Andaraí tem Octógono para jovens da comunidade treinarem MMA

qui, 21/02/13
por camilocoelho2 |
categoria Andaraí
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“Quando eu entrei para a polícia queria ser do Bope (Batalhão de Operações Especiais), matar, trocar tiro, prender, ser um policial de guerra mesmo. Com o tempo aqui na UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) fui desenvolvendo carinho pela comunidade e percebi que me sinto mais feliz vendo uma criança chutando um saco de boxe ou lutando no tatame. Esse sorriso de criança me deixa muito mais feliz do que se tivesse entrado para o Bope para ver um bandido preso ou morto pelas minhas mãos”.

A declaração é forte, mas reflete exatamente o momento da segurança pública no Rio de Janeiro, com a atual política de pacificação das comunidades. Uma nova polícia militar está começando a aparecer e o soldado Walmor Silva de Souza representa, e muito bem, essa nova classe. São policiais treinados para desenvolver um relacionamento com a comunidade. Lotado na UPP Andaraí, Walmor levou isso a sério e correu atrás para montar um projeto novo e ousado.

Ele chama o projeto de UPP Fight. E já conseguiu até montar um octógono dentro da sede da Unidade de Polícia Pacificadora do Morro do Andaraí. Com a ajuda de amigos, Walmor correu atrás de patrocínio e juntos eles montaram o espaço, utilizado atualmente para o treinamento de aproximadamente 100 jovens moradores da comunidade, que têm aulas de Jiu Jitsu, Karatê e MMA.

- Esse projeto consegue estreitar os laços existentes entre a Polícia Militar e a comunidade. Muitas crianças conseguiram criar uma amizade com os policiais depois deste projeto – explica Walmor, que está há três anos na PM e já oferece as aulas desde o ano passado.

As inscrições para 2013 ainda estão abertas e acontecem no prédio da UPP. Para esse ano estão disponíveis aulas de Jiu-Jitsu, às segundas, quartas e sextas (9h às 10h30 / 14h às 16h30 / 18h30 às 21h30), Caratê às terças e quintas (19h30 às 21h30), Muay Thai também às terças e quintas (17h30 às 19h30 / 19h30 às 22h) e Luta Olímpica, nos mesmos dias (11h30 às 12:30 / 14h às 15h30). Quem quiser mais informações pode ligar para o telefone 2332-1766.

Para entender mais sobre o projeto e entender onde ele quer chegar, leia a entrevista que fiz com o soldado Walmor. Entre outras coisas, ele fala que sonha formar campeões de luta moradores do Morro do Andaraí e quer ampliar o projeto para outras comunidades. Mas depende de apoio. Conheça mais essa história incrível:

1) Quando surgiu a ideia do projeto UPP Fight? Há quanto tempo você dá aulas para as crianças?

A ideia do projeto UPP FIGHT surgiu quando eu fui para a administração da UPP Andaraí. Sempre trabalhei na rua, na tropa e tinha facilidade de poder treinar na academia perto de casa por causa da escala. Como eu fui pro expediente e lá a gente trabalha todos os dias, ficou mais difícil continuar o treinamento. Foi quando eu pensei: já que eu não posso treinar, vou trazer o treino para perto de mim. Comecei a dar aulas de MMA para as crianças daqui da comunidade. O projeto UPP Fight cresceu muito e acredito que ele pode ajudar na transformação da Polícia Militar como um todo.

2) Como é sua carreira no mundo da luta? É de qual academia?

Sou praticante de Jiu jitsu, wrestling e kick boxing. Antes de ser policial eu já treinava. Não consegui lutar profissionalmente porque precisei opter entre a carreira de lutador e de policial militar. Escolhi a minha estabilidade aqui e achei melhor dar chance para a garotada. Sou da academia Zanco (Família Fight) e treino também com Antoine Jaoude (Wrestling) na seleção brasileira.

3) Como vocês conseguiram montar um octogon dentro da UPP? Quem apoiou vocês?

Toda a parte da obra foi feita por mim e por amigos da comunidade. Não tenho experiência nenhuma com obra, então nós procuramos informações na internet. Aprendemos como montar um octógono e fazer um tatame de lona e fomos à luta. O material foi um apoio da Secretaria de Esportes, que nos mandou a verba e selecionei o que comprar. No começo foi difícil, pois não pensei como eu poderia montar tudo isso e fiquei meio perdido. Depois foram aparecendo amigos e me ajudaram na obra. Foi tudo montado por amadores, não utilizamos nenhum profissional e no final de tudo tivemos uma grande surpresa, pois montamos um CT que está muito além de outros locais profissionais.

4) A ideia do projeto é crescer para onde?

A idéia do projeto primeiramente é desenvolver mais escolinhas em outros lugares e no final realizar um evento grande de MMA entre as comunidades. Mas, para isso, precisamos de mais parceiros. Tenho tudo planejado, falta apenas o investimento.

5) Vocês já participam de competições?

Sempre coloco eles para participarem de competições. Já disputaram o estadual de Jiu Jitsu, a Copa das UPPs, e outros eventos que aconteceram.

6) Quantos alunos são? Quem são seus destaques?

Temos aproximadamente 100 alunos, divididos em Jiu Jitsu, Karatê e MMA. Temos muitos destaques: o William, que é meu xodó, tem 14 anos apenas e um grande potencial. O Matheus, com 12 anos, vem mostrando que precisa apenas ser lapidado. Mas além deles, temos muitos outros. Todos são muito bons.

7) Qual a importância do projeto para o relacionamento da polícia com a comunidade?

Enorme. As aulas acontecem dentro do nosso prédio. Com isso, o convívio da comunidade com a polícia passa a ser constante. Se não fossem as aulas, não haveria esse contato. Aqui seria uma base militar, sem contato com o exterior. Esse projeto consegue estreitar os laços existentes entre a polícia e a comunidade. Muitas crianças fizeram amizade com os policiais depois deste projeto.

8 E pessoalmente? Qual a importância desse projeto pra você como pessoa?

A maior da minha vida. Antes de ser policial, eu tinha sonho de ser do BOPE, matar, trocar tiro, prender, ser um policial da guerra mesmo. Com o tempo e convívio aqui na UPP, fui perdendo esse sonho e desenvolvendo carinho com a comunidade. Agora percebi que me sinto mais feliz com isso, estar ajudando as crianças. Hoje me sinto mais feliz vendo uma criança chutando um saco de boxe ou lutando num tatame top de linha. Esse sorriso de criança me deixa muito mais feliz do que se tivesse entrado para o Bope para ver um bandido preso ou morto pelas minhas mãos.

Veja esse vídeo feito no dia da inauguração do espaço:

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