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Neandertais e homens modernos conviveram por até 20 mil anos

Novo estudo revela que houve uma troca elevada de genes e hábitos culturais

Reconstituição do rosto de um Neandertal
Foto:
Divulgação
Reconstituição do rosto de um Neandertal Foto: Divulgação

RIO - A Bélgica pode guardar a resposta sobre os últimos neandertais a habitarem a Europa. Um estudo publicado pela “Nature” mostra que a última vez que eles andaram por lá foi há 40 mil anos. Isso significa que eles teriam vivido ao lado de seres humanos modernos, os Homo sapiens , por pelo menos quatro mil anos na região e por até 20 mil anos se forem levadas em conta outras áreas na Ásia. Ou seja, muito mais do que se imaginava até agora.

Como e quando os neandertais morreram são dois grandes mistérios da evolução. Mas novos materiais analisados podem estar prestes a resolver a questão.

Os cientistas analisaram 196 amostras de ossos, carvões e cascas encontradas em 40 sítios de neandertais entre Espanha e Rússia. Eles concluíram que esta espécie desapareceu desta região há, pelo menos, 39 mil anos.

Isto significa que houve uma sobreposição deles na Europa com os Homo sapiens recém-chegados, com sua anatomia mais sutil e ferramentas de pedra e ossos mais complexas, por pelo menos 4 mil anos.

A sobreposição também se encaixa com dados arqueológicos sobre o tipo de ferramenta que cada um utilizava, as quais sugerem que os neandertais chegaram a copiar os materiais mais sofisticados dos novos migrantes.

Estudos anteriores sugeriram que os neandertais, que surgiram pela primeira vez na Eurásia há cerca de 250 mil anos, morreram rapidamente quando os Homo sapiens apareceram, indicando intensa competição por recursos e até mesmo conflitos violentos, culminando em uma extinção destes seres ao sul da Espanha.

ÚLTIMO REDUTO EUROPEU

No entanto, os novos estudos apontam um grau de mistura genética e cultural elevado.

— Agora temos o primeiro cronograma robusto que lança nova luz sobre algumas das principais questões em torno das possíveis interações entre neandertais e humanos modernos — disse o professor Tom Higham, da Universidade de Oxford, principal autor do estudo.

As pesquisas também apontam que um conjunto de cavernas perto de Spy, na Bélgica, em vez de cavernas na Espanha, pode ser um dos últimos locais na Europa onde os neandertais viveram. No entanto, Chris Stringer, do Museu de História Natural de Londres, disse que a nova análise não se estendeu ao Uzbequistão e à Sibéria, onde se sabe que havia neandertais, o que significa que a espécie pode ter sobrevivido por mais tempo.