Política

Polícia amplia ocupação de favelas em São Paulo

Outras três regiões passam a ser alvos de ação de combate ao crime; madrugada teve mais sete assassinatos
Reforço emergencial. Polícia Militar destaca 160 policiais para comunidade de Parada de Taipas, na Zona Norte Foto: Michel Filho
Reforço emergencial. Polícia Militar destaca 160 policiais para comunidade de Parada de Taipas, na Zona Norte Foto: Michel Filho

SÃO PAULO — Um dia depois da negociação de medidas conjuntas entre os governos federal e do estado para tentar conter a onda de violência em São Paulo, a Polícia Militar ampliou a ocupação de áreas dominadas pelo crime com operações em três favelas, duas da capital paulista e outra de Guarulhos, na região metropolitana. Desde o começo do ano, 90 policiais militares já foram mortos, em muitos casos fora da hora de expediente. Além disso, dois presos foram transferidos para o Presídio de Segurança Máxima de Presidente Bernardes, no interior do estado.

Quarta-feira pela manhã, 160 policiais militares ocuparam a região de Parada de Taipas, na Zona Norte da capital paulista, com 32 motos e 15 carros. Um helicóptero também foi utilizado. Em Santa Inês, na Zona Leste, outros 130 PMs tomaram as ruas da região, com o reforço de 20 motos e 20 carros, além de um helicóptero. Dentro de um barraco, a polícia apreendeu duas armas e drogas.

A Favela São Rafael, em Guarulhos, foi ocupada por 110 policiais, com 12 motos e 27 carros, um helicóptero. Até o final da tarde, a PM informou ter abordado 359 pessoas na comunidade e fiscalizado 95 veículos. Duas pessoas foram presas em flagrante, quatro carros foram apreendidos, e um menor foi detido.

Na semana passada, a PM deu início à Operação Saturação na Favela de Paraisópolis (na Zona Sul), a segunda maior de São Paulo. Durante esse tipo de ação, a polícia aborda suspeitos e faz bloqueios em vias das comunidades. Até agora, 36 pessoas foram presas em flagrante. Seis adolescentes foram apreendidos, e 11 foragidos da Justiça, capturados. A polícia conseguiu apreender 16 armas ilegais, uma granada, 351 munições de diversos calibres, 37,8 quilos de cocaína, 339,8 quilos de maconha, 483 gramas de crack e 50 unidades de drogas sintéticas. Apontado como chefe do tráfico em Paraisópolis, Antônio Cesário da Silva, o Piauí, deve ser transferido hoje para o presídio federal de Porto Velho, em Rondônia.

Apesar da maior pressão, São Paulo voltou a ter uma madrugada de violência. Entre a noite de terça-feira e a tarde desta quarta-feira, sete pessoas morreram e pelo menos três ficaram feridas em novos ataques criminosos na capital, em Guarulhos e em Cotia. Das vítimas, quatro foram assassinadas na Zona Leste da capital paulista. Em Itaquera, o jovem Leonardo da Silva, que completaria 20 anos quarta-feira, estava com um grupo de amigos, quando foi baleado, por volta das 23h da terça-feira. Ele foi atacado por quatro homens que estavam em duas motos. Leonardo e o amigo Vitor Felipe Borges Martins, de 25 anos, morreram. A irmã de Martins era ex-policial militar.

Já na Penha (na Zona Leste da cidade), o delegado Diogo Zamut Júnior foi atingido por um tiro no ombro. Ele foi socorrido e não corre risco de morrer. Não há pistas dos atiradores.

Na reunião realizada na terça-feira, os governos federal e do estado decidiram seis medidas conjuntas para combater o crime em São Paulo. A principal delas é a criação de uma agência de inteligência para tentar asfixiar financeiramente a facção que domina os presídios paulistas. Também estão previstas a criação de uma central de perícias, a transferência de presos envolvidos em mortes de policiais para presídios federais, a realização de blitzes conjuntas em estradas, portos e aeroportos do estado, a implantação de um programa de combate ao crack e criação de uma central de monitoramento.

Para especialista, Estado tem de conter ‘ciclo de vingança’

O Ministério da Justiça e o governo paulista devem concentrar seus esforços para, primeiramente, romper o “ciclo de vingança” que desencadeou a onda de violência em São Paulo, onde 90 policiais já foram mortos desde o início do ano. Para Sérgio Adorno, do Núcleo de Estudos da Violência (NEV), da USP, a integração anunciada pelos dois governos precisa dar mais segurança à sociedade e também à força policial. Adorno afirma ainda que faltam respostas sobre a origem do recrudescimento da relação entre as polícias e o crime organizado:

— Em 2006 teve rebeliões simultâneas nas prisões. Havia um comando centralizado que estava determinando essas ações. Agora, não se consegue ver esse comando. A sensação que se tem é que são ajustes de contas que estão ocorrendo em diversos fragmentos, em pedaços da cidade. Não se sei se podemos afirmar com segurança: é possível que tenha havido algum desequilíbrio, algo desencadeador, um conflito entre as polícias e a organização criminosa — afirmou o estudioso.

Adorno considera a cooperação entre os governos “necessária e estratégica”:

— O crime organizado não conhece fronteiras, atravessa territórios, países. Quanto mais articulação houver entre o governo federal e os governos estaduais maior será o ganho para a segurança pública.