Rio

Guerra do tráfico na Maré fecha Avenida Brasil e leva pânico a motoristas e pedestres

Militares usaram tanque para proteger quem passava pela via. Secretaria investiga se ações têm motivação política
Tanque do Exército é usado para proteger pedestres de tiroteio no Complexo da Maré Foto: Alexandre Cassiano / Agência O Globo
Tanque do Exército é usado para proteger pedestres de tiroteio no Complexo da Maré Foto: Alexandre Cassiano / Agência O Globo

RIO - A presença de tropas do Exército não impediu, nesta quarta-feira, que confrontos entre traficantes no Complexo da Maré levassem pânico à Avenida Brasil, que foi fechada três vezes por causa de tiroteios. À tarde, o sentido Zona Oeste da via expressa, por exemplo, ficou bloqueado por militares da Força de Pacificação por cerca de 20 minutos. Pedestres e passageiros de ônibus tiveram que se deitar no asfalto para se proteger dos tiros. A mureta divisória da avenida virou trincheira. Os traficantes disputam o controle do comércio de drogas nas favelas Vila do João e Conjunto Esperança. Uma alta fonte do governo informou que a Secretaria de Segurança investiga se ações recentes do tráfico teriam motivação política.

Tiroteio na Maré. Motoristas e passageiros correm para se proteger Foto: Alexandre Cassiano / Alexandre Cassiano
Tiroteio na Maré. Motoristas e passageiros correm para se proteger Foto: Alexandre Cassiano / Alexandre Cassiano

Policias do Batalhão de Operações Especiais (Bope) foram acionados para conter os confrontos, que começaram de madrugada. De acordo com informações da Força de Pacificação, criminosos das favelas do Caju tentam tomar o Conjunto Esperança e a Vila do João, dominados por uma quadrilha rival. Após um dos confrontos, um jovem foi encontrado morto. Policiais da Divisão de Homicídios investigam o caso. Em nota, a Força de Pacificação informou que a vítima foi baleada durante troca de tiros entre traficantes rivais.

TRÊS SÃO PRESOS COM FUZIS

No fim da tarde, policiais da Unidade de Polícia Pacificadora do Parque Alegria, no Caju, e do 4º BPM (São Cristóvão) prenderam três homens que teriam participado da tentativa de invasão da Maré.

O confronto mais violento aconteceu à tarde, por volta das 14h. Na Avenida Brasil, uma das mais importantes e movimentadas da cidade, motoristas que seguiam em direção à Zona Oeste tentaram voltar na contramão. Nas pistas de sentido contrário, também houve confusão, e o trânsito ficou congestionado. Um tanque da Força de Pacificação foi usado como escudo para que moradores da Maré e pessoas que queriam utilizar a passarela pudessem atravessar a avenida sem riscos. Por causa da insegurança, funcionários do prédio anexo da Fundação Oswaldo Cruz, que fica às margens das favelas, foram liberados mais cedo.

A polícia recebeu informações de que, para escapar dos soldados da Força de Pacificação, traficantes atravessaram o Canal do Cunha a nado. Por volta das 16h30m, com a chegada dos homens do Bope, houve novos confrontos.

Outros tiroteios entre os traficantes aconteceram de manhã. Por volta das 5h30m, a pista lateral sentido Zona Oeste da Avenida Brasil foi fechada por cerca de dois minutos. A mesma pista foi interditada por volta das 9h10m, para que tanques de guerra da Força de Pacificação pudessem fazer manobras. No acesso ao Conjunto Esperança e à Vila do João, moradores passavam apressados.

SETE MIL SEM AULAS

O presidente da Associação de Moradores da Vila do João, Marco Antônio Barcellos, contou que, de madrugada, ouviu tiros no Conjunto Esperança. De acordo com ele, os militares da Força de Pacificação não têm conseguido lidar com o problema:

— O Exército não consegue resolver, parece até que não tem ocupação militar.

Os confrontos deixaram quase sete mil crianças da rede municipal sem aulas nesta quarta-feira. Nas favelas Vila do João e Conjunto Esperança, segundo a Secretaria municipal de Educação, seis escolas, três creches e um Espaço de Desenvolvimento Infantil (EDI) não abriram as portas. A Secretaria estadual de Educação informou que, até as 14h, as escolas da sua rede funcionaram, mas houve baixa frequência.

O Complexo da Maré está ocupado desde abril por homens do Exército e por fuzileiros navais. A Força de Pacificação conta com 2,4 mil homens. Em agosto, após assinatura da presidente Dilma Rousseff e a renovação da Garantia da Lei e da Ordem (GLO), a Força de Pacificação confirmou que ficará na Maré até o fim deste mês. Na semana passada, o efetivo foi reforçado na região devido aos constantes tiroteios.

A Secretaria de Segurança afirmou que a polícia está atuando na Maré e ressaltou que as comunidades ficaram décadas abandonadas pelo poder público. Ainda segundo o órgão, o processo de pacificação não vai recuar.