Economia Previdência privada

Pela 1ª vez desde 1999, mudança na tábua de expectativa de vida vai elevar aposentadorias do INSS

Expectativa de vida do brasileiro cresceu, mas recuou nas faixas acima dos 50 anos, o que beneficia quem se aposentar nos próximos 12 meses

RIO — Pela primeira vez desde 1999, o anúncio do aumento da expectativa de vida dos brasileiros não vai provocar uma redução no valor a ser recebido pelos trabalhadores que forem pedir a aposentadoria pelo INSS, nos próximos 12 meses.

A tábua de mortalidade, divulgada nesta quinta-feira pelo IBGE, mostra que a esperança de vida ao nascer, que era de 73,76 anos em 2010 subiu para 74,08 anos em 2011. Mas nas faixas etárias acima dos 50 anos, o número recuou.

— Essa mudança aconteceu porque a tábua de 2011 foi construída com base nos censo de 2010 e as demais eram projetadas. Como houve melhora na qualidade dos dados, ocorreu essa diferença — explicou Fernando Albuquerque, pesquisador do IBGE.

E como a expectativa de vida no momento da aposentadoria é uma das variáveis usadas pelo INSS na hora de calcular do benefício, essa queda vai significar ligeiro aumento no valor a ser recebido. Tudo por causa do fator previdenciário, fórmula matemática que determina que quanto maior a expectativa de vida menor o valor da aposentadoria. As diferenças, entrentanto, variam caso a caso, segundo as condições de cada trabalhador.

Imagine que um homem vá se aposentar aos 55 anos de idade, após 35 anos de contribuição, e tenha como resultado da média de seus 80% maiores descontos ao INSS um valor de R$ 3 mil.

Se ele pedir a aposentadoria até amanhã, quando ainda está em vigor a tábua de mortalidade de 2010, seu fator previdenciário será calculado com base numa expectativa de vida de 25,2 anos e resultará num fator previdênciário de 0,7141. Aplicado sobre os R$ 3 mil, sua aposentadoria será de R$ 2,142,30.

Se o mesmo trabalhador hipotético entrar com seu pedido de aposentadoria a partir do dia 1º de dezembro, seu fator previdenciário será de 0,7169, porque na nova tábua do IBGE, a esperança de vida aos 55 anos recuou para 25,1 anos. E o valor a ser recebido da Previdência será R$ 22.150,70.

Confira a nova tabela de fator previdenciário divulgada pela Previdência

Tendência é que a expectativa de vida volte a crescer

Mas não foi sempre assim. Desde que as tábuas de mortalidade começaram a ser divulgadas pelo IBGE, a expectativa de vida do brasileiro vinha crescendo em todas as faixas etárias e com isso, o valor das novas aposentadorias concedidas pelo INSS a trabalhadores nas mesmas condições vinha caindo ano a ano.

Considerando as mesmas condições do trabalhador usado como exemplo, a perda gerada apenas pelo aumento da expectativa de vida registrada entre 1999 e 2010 chega a mais de 5% do benefício. Isso porque, em 1999, a esperança de vida aos 55 anos era de 23,5 anos, o que resultava num fator previdenciário de 0,7527. Aplicado, por exemplo, sobre uma base de contribuição de R$ 1 mil, daria direito a uma aposentadoria de R$ 752,70. Se os mesmos valores fosse calculados pela expectativa de vida de 2010, o benefício seria de R$ 714,10.

Segundo Albuquerque, nos próximo anos, a tendência é que a expectativa de vida volte a crescer em todas as faixas etárias, porque como só há censo a cada dez anos, os números voltarão a ser projetados e nesses casos, estima-se crescimento para todas as faixas etárias.

— Em 2003, quando publicamos a tábua de 2002 com base no censo, houve uma diferença maior mas para aumentar a expectativa de vida. No faixa de 60 anos, por exemplo, a expectativa passu de 17,8 anos para 20,3, uma diferença de 2,5 anos. Nesse ano, a diferença provocou queda na expectativa de vida, o que do ponto de vista da aposentadoria é bom para o trabalhador — diz Albuquerque.

São essas diferenças — em sua maioria para baixo — no valor das aposentadorias pagas que levaram o Ministério da Previdência a economizar cerca de R$ 56 bilhões com pagamento de aposentadorias desde a criação do fator previdênciário. E também leva aposentados e alguns parlamentares a pedirem que a fórmula seja extinta. O projeto que pede o fim do fator previdenciário, de autoria do senador Paulo Paim (PT-RS) está pauta da Câmara, aguardando votação.