Economia

Dólar fecha na máxima a R$ 2,011, maior nível desde janeiro

Bovespa fechou no menor nível desde novembro

RIO - O dólar comercial fechou em forte valorização nesta quinta-feira e ultrapassou a barreira psicológica de R$ 2, considerada por operadores como o teto da cotação permitida pelo Banco Central. O movimento de valorização ganhou força depois que o ministro da Fazenda, Guido Mantega, defendeu a cotação atual do câmbio. A moeda americana encerrou o pregão com avanço de 1,05%, na máxima do dia, a R$ 2,011. Foi a primeira sessão que a moeda americana terminou acima de R$ 2 desde 28 de janeiro deste ano e o maior patamar desde 25 de janeiro deste ano.

A piora do humor do estrangeiro ao investimento no Brasil, em preferência a outros mercados, também ditou o tom dos negócios na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) e o Ibovespa, principal índice brasileiro, fechou em queda de 0,81%, aos 55.576 pontos, menor nível desde 16 de novembro do ano passado.

— Hoje foi resultado de uma mistura que não é interessante: mau humor com o Brasil de investidores estrangeiros, estresse nos últimos dias com temores de um rebaixamento de rating do Brasil e toda essa preocupação com o Chipre que contamina os mercados globais. Bolsa despencando, com juros e dólar subindo, lembra um país que não víamos há um bom tempo — disse Gustavo Godoy, gerente de tesouraria do banco Daycoval.

As apostas do mercado na desvalorização do dólar foram embasadas pela última divulgação do Banco Central que mostrou saída de US$ 990 milhões de dólares do Brasil em março somente até o dia 15. Na opinião de operadores, o movimento de saída de divisas continuou com o risco de insolvência do Chipre, que voltou à tona nesta semana, e o persistente mau humor de investidores estrangeiros para aportar recursos no Brasil.

A disparada do dólar ocorreu pouco depois de o ministro da Fazenda, Guido Mantega, voltar a manifestar opinião sobre a cotação da moeda americana, durante depoimento na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado. Ele disse que a atual taxa de câmbio é mais competitiva para o setor de manufaturados.

— O câmbio estava muito valorizado. Mas hoje não está muito valorizado — disse Mantega.

O mercado aproveitou que o Banco Central não tentou segurar a cotação e as declarações de Mantega para testar o potencial de alta do dólar frente ao real, na opinião de Felipe Pellegrini, gerente de câmbio do banco Confidence.

— Essas declarações do Mantega, sem intervenção do Banco Central, fizeram com que o mercado testasse o teto informal de R$ 2 — disse Pellegrini.

Preocupações com a evolução da crise na Europa ditaram o tom dos negócios na Bolsa, com o mercado à espera de uma tentativa de acordo buscada pelo presidente do Chipre para evitar que o país fique insolvente e obter um pacote de resgate.

— Por enquanto o mercado aguarda um plano B para o Chipre. Há muita especulação sobre uma ajuda da Rússia — disse Luís Gustavo Pereira, estrategista da corretora Futura.

Após um dia de fortes perdas, as ações preferenciais (PN, sem direito a voto) da Cemig conseguiram recuperação parcial. Os papéis tiveram uma das maiores altas do Ibovespa, de 1,35%, a R$ 22,50, e a valorização era acompanhada por diversas ações do setor elétrico.

Entre as ações mais negociadas da Bolsa, Petrobras PN recuou 1,69%, a R$ 18,53, enquanto Vale PNA subiu 0,15%, a R$ 33,10.

Depois de avançar forte alta ao longo do dia, papéis ordinários (ON, com voto) da OGX Petróleo fecharam em queda de 5,34%, a R$ 2,48.

O pessimismo dos investidores com o Brasil também fez os juros futuros fecharem em alta na Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F). Contratos de Depósito Interfinanceiro (DI) com vencimento em janeiro de 2014 subiram para 7,84%, de 7,81% no fechamento do dia anterior. Já os contratos DI com vencimento em janeiro de 2015 avançaram de 8,54% para 8,59%. De acordo com cálculos da gestora Tese Investimentos, do ex-diretor do Banco Central Francisco Pinto, o fechamento dos contratos de juros futuros indica que a Selic vai estar em 8,25% no fim deste ano.

Na Europa, o FTSE 100 recuou 0,69% em Londres. Em Paris, o CAC 40 perdeu 1,43%, enquanto o DAX sofreu queda de 0,87% em Frankfurt. Em Madri, o IBEX 35 perdeu 0,77%, enquanto o FTSE MIB de Milão retrocedeu 0,50%.

As bolsas asiáticas fecharam em comportamento divergente. Enquanto o índice Nikkei, de Tóquio, subiu 1,34%; o Hang Seng, de Hong Kong, caiu 0,14%.