Economia

Salário das domésticas foi o que mais subiu em janeiro: 6%

Aumento veio acompanhado de queda de 5,9% nos empregos do setor, na comparação com dezembro

RIO – O serviço doméstico está mais caro. No mês passado, foi o setor da economia com maior aumento real de salário na comparação com o mesmo período de 2012. A alta de 6% supera o resultado da indústria, de 1,5%, e do comércio, de 4%. Já a construção civil registrou queda de 0,9%. Os salários dos trabalhadores das seis maiores regiões metropolitanas do país, cobertas pela Pesquisa Mensal de Empregos (PME), divulgada nesta terça-feira pelo IBGE, tiveram uma alta real média de 2,4%. E o aumento da remuneração do trabalhador doméstico veio acompanhado de uma queda de 5,9% nos empregos do setor na comparação com dezembro. Só em janeiro, 88 mil domésticos desapareceram do mercado em Rio de Janeiro, São Paulo, Salvador, Recife, Porto Alegre e Belo Horizonte.

— Nenhum outro grupo de trabalhador teve um ganho de renda maior do que os domésticos. A alta chegou a 6,6% no Rio e a 7,8% em São Paulo — disse Cimar Azeredo, coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE.

A série histórica da PME mostra que, desde 2003, a parcela de domésticos na população ocupada cai. Naquele ano, eles representavam 7,6% desses trabalhadores. Hoje, são 6,1%. No mesmo período, os rendimentos da categoria acumularam alta de 53,2%, quase o dobro da média geral dos trabalhadores, que foi de 27,2%. Mesmo assim, o salário das domésticas chega a 40% da média de todos os trabalhadores.

Segundo Azeredo, a queda no emprego doméstico está ligada ao encarecimento do serviço e à falta de mão de obra, já que muitos profissionais que antes trabalhavam em casas de família estão conseguindo se inserir em outros ramos de atividade, como prestação de serviços e no comércio.

A engenheira Flávia Bastos Loureiro se deparou com a falta de profissionais no mercado há duas semanas, quando sua funcionária decidiu pedir demissão para cuidar do filho.

— Percebi que os salários estão muito altos. Minha ideia é pagar o piso mínimo de R$ 730, mas estão pedindo pelo menos R$ 1.200 — disse.

Segundo Azeredo, essa redução da oferta de mão de obra doméstica é um sinal de redução da desigualdade.

— Essas pessoas não nasciam com o sonho de ser domésticas, mas não tinham formação ou opção no mercado. Hoje, a demanda por essas profissionais está maior do que a oferta de mão de obra. Isso é estrutural, já vem ocorrendo há algum tempo — avaliou.

Aquecimento do mercado

Para o Fernando Holanda Barbosa Filho, da Fundação Getulio Vargas, o fenômeno está relacionado ao aquecimento do mercado de trabalho e ao fortalecimento do setor de serviços, que não exige profissionais tão qualificados:

— Quanto mais forte o mercado, menor o interesse das pessoas em permanecer no serviço doméstico e será preciso pagar mais para manter o empregado.

A relações públicas Flávia Centurion tenta conseguir uma empregada doméstica há mais de um ano.

— Só no ano passado, tive três empregadas, mas houve problemas de adaptação. As experiências não passavam de 20, 30 dias — contou.

E a perspectiva de ampliação dos direitos dos domésticos, com obrigatoriedade de pagamento do FGTS, horas extras e adicional noturno, deve encarecer ainda mais o custo desses serviços, observou o professor da FGV.

— Ninguém tem nada contra direitos dos domésticos, mas a mudança na legislação aumentará custo e reduzirá a demanda pelos serviços. Mas o fato de a mudança ocorrer num momento de mercado aquecido reduz o impacto negativo para o trabalho. Já do ponto de vista de quem contrata haverá alta de custo.

Estudiosa da situação das domésticas no país, Hildete Araújo, professora de da Universidade Federal Fluminense não é pessimista em relação à ampliação dos direitos das domésticas e acredita que apenas as famílias de menor renda, que já mantêm relação precária com esses empregados vão demitir.

— E quando a gente fala que está havendo ganho de renda isso é uma verdade que ocorre há alguns anos e se intensificou com o aumento do salário mínimo, mas, com tudo isso, elas ainda têm os salários mais baixos entre todas as ocupações femininas. E há a informalidade que atinge quase 70% da categoria — explicou a pesquisadora.

Desemprego de 5,4%

A PME registrou uma taxa média de desemprego de 5,4% em janeiro, a menor já registrada para o mês desde 2002, quando teve início da série histórica. Frente a dezembro, porém, houve alta, já que no último mês de 2012 a taxa ficou em 4,6%, com o fechamento de 292.577 postos de trabalho.

Um dos destaques da pesquisa foi o aumento de 23% no número de desocupados na região metropolitana de São Paulo em janeiro frente a dezembro, um acréscimo de 126 mil pessoas no contingente dos que procuram trabalho. A região ficou com a maior taxa de desemprego, 6,4%. No Rio, o número de pessoas sem trabalho aumentou 7,3% em relação a dezembro, já a taxa de desemprego de janeiro foi de 4,3%.

— Os números vieram dentro do esperado e mostram um mercado de trabalho aquecido. A taxa de São Paulo é resultado da indústria, que tem grande peso na região e, apesar da leve recuperação em janeiro, vem gerando poucos empregos — disse José Márcio Camargo, da Opus Investimento. ( Colaboraram Marcello Corrêa e Bruno Rosa )