Economia

Tombini: endividamento externo de empresas brasileiras é positivo

Presidente do BC diz que captações a juros baixos ajudaram na reestruturação das companhias
Alexandre Tombini, presidente do Banco Central
Foto: Gustavo Miranda / Agência O Globo
Alexandre Tombini, presidente do Banco Central Foto: Gustavo Miranda / Agência O Globo

WASHINGTON – O presidente do Banco Central (BC), Alexandre Tombini, afirmou esta tarde que o endividamento externo das empresas brasileiras, alvo de alerta do Fundo Monetário Internacional (FMI) no seu Relatório de Estabilidade Financeira Global, é positivo. Segundo Tombini, a abundância de recursos externos a juros baixos vem garantindo não só fonte de financiamento ao setor real da economia, como também ajudou na reestruturação dos passivos financeiros das companhias.

O FMI acredita que o Brasil, como outros emergentes, deve se preocupar em não “ter demais de uma boa coisa”. Um dos focos de atenção deve ser o endividamento corporativo em moeda estrangeira, que exporia as empresas a perdas em caso de fuga de capitais ou aumento internacional de juros.

Utilizando como medida a proporção entre dívida e patrimônio, a alavancagem das empresas brasileiras (excluído o setor financeiro) passou de menos de 80% antes da quebra do Lehman Brothers para cerca de 90% no ano passado. A quantidade de dívida em moeda estrangeira também apresentou alta: de cerca de 7,5% do PIB em 2007 para cerca de 12% em 2012.

Tombini informou que, segundo dados compilados pelas Nações Unidas para o ano de 2012, as empresas brasileiras foram as maiores tomadoras de empréstimos no exterior dentro da comunidade internacional.

— Mas esta é uma coisa positiva, considerando o fato de que vivemos com taxas de juros muito baixas no exterior, isso permitiu que as corporações brasileiras fizessem uma espécie de melhora na sua estrutura de passivos — disse o presidente do BC.

Outro lado positivo é o fato de o endividamento significar que não foram fechados os canais de financiamento às empresas em decorrência da crise global. Ele lembrou também que, em 2012, segundo a ONU, o Brasil foi o quarto maior receptor de Investimento Estrangeiro Direito (IED) do mundo, atrás apenas de China, Hong Kong e Estados Unidos.

Este forte fluxo de capital de longo prazo, afirmou Tombini, é um dos resultados do conjunto de políticas adotadas pelo Brasil em 2010 e 2011 para calibrar os fluxos de capitais de curto prazo e evitar que a expansão acelerada de crédito se transformasse numa bolha.

Percentual de investimento externo mais do que dobrou

Enquanto no auge da enxurrada de recursos externos – o fluxo pulou de US$ 96 bilhões em julho de 2010 para US$ 170 bilhões 12 meses depois – apenas 30% eram IED, o percentual foi invertido para 70% no ano passado.

Tombini participou de seminário organizado na sede do FMI para discutir a experiência de países emergentes, como Brasil, Israel e Filipinas, que vêm lidando com inundação de capitais externos desde a introdução das políticas monetárias expansivas pelos quatro maiores BCs do mundo.

Ele reconheceu que os fluxos excessivos e os sinais trocados entre as políticas monetárias do Brasil e dos países ricos tornou a vida do BC brasileiro “complexa” nos últimos anos, mas ele considera as ações e medidas implementadas nos últimos anos no Brasil bem-sucedidas em evitar uma bolha de crédito e garantir estabilidade financeira, com controle inflacionário.

Tombini fez coro ao FMI e afirmou que estudo do BC a ser apresentado nesta sexta-feira na reunião dos países do G-20 “corrobora a ideia de que de fato, sem julgamento, efeitos colaterais das políticas (dos maiores BCs do mundo) estão presentes”, especialmente em decorrência dos programas de compra de títulos e ativos por bancos centrais como o americano Federal Reserve (Fed) nos últimos três a quatro anos. Mas o presidente do BC brasileiro reconheceu que o cenário não vai mudar tão cedo e cabe aos emergentes continuar usando a criatividade.

— Acho que hoje chegamos a uma espécie de compromisso pelo qual as economias avançadas vão continuar a implementar suas políticas, não porque as pessoas querem, mas porque elas precisam fazer isso. Então (veremos a continuidade de) política de juros baixos, política monetária não convencional e os mercados emrgentes terão que lidar, vez por outra, com esses fluxos de capitais muito voláteis, usando a caixa de ferramentas para ajudar a assegurar esses dois objetivos, de estabilidade financeira, de um lado, e de estabilidade monetária, do outro — disse Tombini, que participa nos próximos dois dias da reunião de Primavera do FMI e do Banco Mundial e dos encontros paralelos do G-20.