10/03/2013 07h57 - Atualizado em 10/03/2013 07h57

Rio vive um relacionamento sério com o ar-condicionado

Contra a sensação térmica de 47ºC, aparelhos ficam ligados o dia todo.
Loja vendeu mais de 600 aparelhos até 23 de fevereiro.

Lilian QuainoDo G1, no Rio

Com os termômetros marcando 40 graus e o suor escorrendo com os 50 graus de sensação térmica, os cariocas estão vivendo um relacionamento sério com o ar condicionado.

Só na rede varejista Ricardo Eletro as vendas de aparelhos de ar refrigerado cresceram 40% do início do ano até 21 de janeiro, na comparação com o mesmo período do ano anterior.

Em 2013, de janeiro a 21 de fevereiro, o crescimento das vendas de aparelhos de ar-condicionado na rede Ricardo Eletro foi de 40% sobre o mesmo período anterior, informou a assessoria da rede.

O mercado para 2013, segundo representantes da varejista, é de 2,7 milhões de peças do modelo split (o de instalação mais simples, que oferece ao consumidor menor nível de ruído no ambiente e maior economia de energia), e de cerca de 582 mil peças do modelo janela, um crescimento de 3% sobre o ano de 2012. Para eles, é perceptível que o consumidor opta por já ter o ar-condicionado como um eletrodoméstico essencial, principalmente nas regiões quentes.

Rosângela Nucara (Foto: Lilian Quaino/G1)Rosângela Nucara está sem ar-condicionado desde o Natal (Foto: Lilian Quaino/G1)

Na rede ViaVarejo, que engloba as marcas Ponto Frio e Casas Bahia, as vendas de aparelhos de ar-condicionado e ventiladores triplicou em relação aos dias que antecederam o período de calorão. Segundo a assessoria da rede, as lojas ainda estão abastecidas e preparadas para atender a demanda de consumo.

Calor x consumo
A alta nas vendas de aparelhos acompanhou a subida da temperatura. Segundo o Instituto Nacional de Meteorologia, a temperatura média de fevereiro ficou três graus acima do verificado no mesmo mês em anos anteriores.

Além da termperatura, os meteorologistas passaram a divulgar também a sensação térmica, ou seja, a sensação de calor que a pessoa tem, muitas vezes maior do que a que aparece nos termômetros. E foi nos dias de mais alta sensação térmica que a Light registrou os picos de consumo no mês de fevereiro. O que quer dizer que aparelhos de ar-condicionado e ventiladores estavam ligados a toda.

Nesses dias, o carioca sofreu com o calor. No dia 19, a máxima registrada pelo Instituto Nacional de Meteorologia foi de 36,4ºC, mas a sensação térmica chegou a 46ºC. Foi o pico de consumo de energia registrado pela Light: cerca de 110 GWh, contra os cerca de 90 GWh registrados num dia típico de fevereiro (entre os dias 1 e 22).

No dia 21, segundo maior consumo de energia, a máxima foi de 37,7ºC, com a sensação térmica de 47ºC. No dia 20, a máxima foi de 37,2ºC, mas o carioca sentiu um calor de 40ºC. A temperatura máxima no mês foi de 39,1ºC, nos dias 17 e 18, segundo o Inmet.
 

Flávio Conceição (Foto: Lilian Quaino/G1)Flávio Conceição faz as refeiçóes no quarto
enquanto o ar da sala nao chega
(Foto: Lilian Quaino/G1)

Mudança de perfil
Numa loja especializada (AmbientAir) em aparelhos de ar-condicionado num shopping da Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio, até o vendedor se surpreende ao ver os números do mês: 662 aparelhos vendidos de 1 a 23 de fevereiro.

"Tinha calculado 300 ou pouco mais, mas foi muito mais que isso", disse Flávio Conceição. Há oito anos na loja, ele explica que neste fevereiro encalorado as vendas cresceram 30% em relação a fevereiro do ano passado.

A escolha dos clientes também mudou: os aparelhos de janela ainda vendem mais do que os splits, mas a potência de 7.500 BTUs está encalhada: a preferência no verão do maçarico é pelos aparelhos de 10 mil e 12 mil BTUs.

"Todo mundo chega falando a mesma coisa, que este mês está demais", disse. Outra mudança do consumidor que chamou a atenção do vendedor é a escolha por aparelhos em 220 volts.

"Como os aparelhos ficam ligados o dia inteiro, a corrente de 220 volts é uma boa escolha não somente para baratear um pouco a conta de luz, mas, principalmente, para não sobrecarregar a rede doméstica. Nessa época, com muitos aparelhos ligados, é comum a sobrecarga desarmar o sistema", disse.

Ele próprio se confessou um viciado em ar-condicionado. Só pega ônibus refrigerado e se prepara para comprar um aparelho para sua sala, já que a família passou o verão confinada nos quartos, onde tem ar-condicionado.

"Tomo café, almoço e janto no quarto. Nunca mais fui na sala. A gente pensa que basta ter ar no quarto, mas com um calor desses, não dá. Tem que ser na casa toda. Este ano está demais. E olha que meu condomínio é arborizado", contou.

Sem convívio com a família
Quem também deixou de frequentar a sala de estar e lamenta a perda do espaço de convívio da família é Rosângela Nucara, moradora do Leblon, na Zona Sul do Rio, mãe de dois adolescentes e funcionária de uma empresa ligada ao ramo de petróleo. Seu aparelho split deu defeito em dezembro e até agora não conseguiu vaga para agendar o conserto.

"Tudo que eu consegui foi um diagnóstico de que é um problema de gás. Mas ninguém aparece para consertar. Estão com muito serviço. Meu marido até começou a pesquisar preços para comprar um novo, mas não tem nada para pronta entrega. O prazo mínimo de entrega é de 20 dias", diz, ressaltando que talvez a compra de um aparelho novo saia mais em conta, uma vez que uma carga de gás no aparelho custa entre R$ 450 a R$ 500.

Ela diz que está sem ar na sala desde antes do Natal.

“Chamamos cinco empresas e pessoas que trabalham por conta própria, mas ninguém tinha agenda livre. Pensamos que era por causa dos feriados de fim de ano, mas a situação continua. Conseguimos com que uma pessoa viesse para identificar o problema. Ele ficou de voltar para consertar, e até agora nada.  Quando perguntamos dizem: ‘O rapaz saiu com muito serviço, amanhã ele passa aí.’ As respostas são simples e cordiais, mas  nada acontece”.

Oficinas cheias
E se o ser humano desaba com o calor, o carro não sofre menos. Desde janeiro uma tradicional rede de refrigeração para automóveis vem registrando um aumento de demanda por consertos de 80% em relação às épocas de temperaturas mais amenas.

Alexandre Rezende, recepcionista da loja, explica que atende de 20 a 25 carros por dia, quando o normal seriam dez carros. Os motoristas chegam com a mesma reclamação: nunca viram tanto calor e o ar não está dando vazão.

Rezende explica que, de fato, os automóveis estão sofrendo com o calor, tanto como seus donos: a pressão do calor do motor aliada ao calor do asfalto afeta as peças e o ar, de refrigerado, se torna uma baforada quente.

“Tenho notado que os carros novos são os que mais dão problema, parece que as peças estão mais frágeis”, disse Rezende. A rede tem lojas em Botafogo, na Zona Sul, Recreio, na Zona Oeste, e Bonsucesso, na Zona Norte e, segundo Rezende, todas estão lotadas.

“Se chegar depois das 10h não encontra mais vaga”, alerta ele aos motoristas encalorados e seus carros sem ar.      

Kit básico do bebê
Elisa se encontra no confortável e climatizado útero materno, enquanto sua mãe, barriga enorme, enfrenta os corredores do shopping para comprar um aparelho de ar-condicionado. Quando Elisa abrir os olhos, vai encontrar na sala de seu apartamento, num condomínio da Barra da Tijuca, um split de 24 mil BTUs, suficiente para refrigerar também a varanda, que foi envidraçada, e a cozinha do tipo americana, integrada com a sala.

Wesley Lemos, Tatiana Lima e Alessandra Cavalcanti (Foto: Lilian Quaino/G1)Wesley Lemos, Tatiana Lima e Alessandra Cavalcanti (Foto: Lilian Quaino/G1)


Conforto total para o bebê. Foi nisso que pensou o casal Wesley Lemos e Tatiana Lima, à espera do primeiro filho. O apartamento onde moram há um ano já tem aparelhos de ar refrigerado nos quartos, mas a sala ficou por último. A poucos dias da chegada do bebê, resolveram completar a refrigeração da casa.

“Não é luxo, é necessidade, assim como o ar-refrigerado no carro”, diz Tatiana, completando: “Este ano o calor está assustador”.

Tatiana diz que em casa o ar fica ligado o tempo todo no verão e que a conta de luz chega a ser seis vezes mais do que em tempos mais amenos. “É caro, mas nisso não dá para economizar. É uma questão de conforto e saúde”, diz.

A vendedora Alessandra Cavalcanti, que atendeu Wesley e Tatiana, diz que neste mês de fevereiro, na loja, enfrentou uma multidão de consumidores aflitos em busca de um refresco.

“Teve dia aqui de fazer fila. Quase que eu distribuí senhas. Só ficava chamando: ‘O próximo, o próximo’. Realmente, este verão está demais”, disse ela.

Cartaz no shopping Botafogo (Foto: Lilian Quaino/G1)Cartaz em loja no shopping Botafogo explica o calor
(Foto: Lilian Quaino/G1)

Sem refresco
Para enfrentar as altas temperaturas, muita gente dá uma passadinha no shopping para aproveitar o ar-condicionado e tomar fôlego para seguir viagem. Mas quem neste mês procurou um oásis no Botafogo Praia Shopping se frustrou. O sistema de refrigeração passa por uma grande reforma há meses, deixando os corredores do térreo, principalmente, quase que na temperatura da rua.

Lojistas colocaram por conta própria aparelhos de ar-condicionado portáteis em suas lojas, ou, no mínimo, ventiladores. Os lojistas confirmaram que a freguesia reclama. Disseram ainda que no sábado (16) chegaram a interromper o trabalho para fazer um protesto na calçada em frente ao shopping.

A assessoria do shopping informou que de fato a reforma no sistema de refrigeração é um trabalho complicado e demorado, mas necessário, e que, até março o ar-condicionado estará funcionando plenamente.

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