Economia

Brasil vive bom momento para desenvolvimento de start-ups, dizem especialistas

‘Vale do Silício brasileiro’, no entanto, deve ter características específicas do país

RIO — Investimento em educação, amadurecimento do ecossistema de startups e estímulo ao espírito empreendedor são alguns dos fatores que podem transformar o Brasil em um pólo tecnológico semelhante ao Vale do Silício, na Califórnia. Essa é a opinião de empreendedores e analistas do mercado que participaram, na manhã desta quinta-feira, do evento “Estimulando o Empreendedorismo e a Inovação”, organizado pela Americas Society e o Council of the Americas, em parceria com a Rio Negócios. Segundo os especialistas, apesar das diferenças entre a América Latina e a região da Califórnia onde nasceram empresas como HP, Intel e Microsoft, há potencial a ser explorado no país.

A história do Vale do Silício tem especificidades que permitiram que a região se destacasse na indústria de eletrônicos, desde meados do século passado. Desde a abundância em silício, matéria-prima para fabricação de chips eletrônicos, até a proximidade com a inovadora universidade de Stanford, diversos fatores colaboraram para a criação de um ambiente único e favorável para criação de novos negócios. Para Kevin Efrusy, sócio da Accel Partner, o país deve estar atento às próprias características para encontrar as melhores soluções.

— O Brasil tem uma economia nacional crescente, um consumo em ascenção, que criará empresas diferentes do que se viu no Vale do Silício. A pergunta é se o Rio quer ou deveria ser um Vale do Silício — argumentou Efrusy.

Para Felipe Matos, diretor operacional do programa de aceleração de empresas Start-up Brasil, do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, a criação de conexões deve ser estimulada, criando assim um ecossistema forte, como no Vale do Silício.

— Está começando a acontecer, especialmente nos dois ou três anos. Vemos um novo ecossistema surgir no Brasil. Se olharmos para o Vale do Silício, que tem dez gerações de empresas, vemos as relações até hoje. O sucesso tem a ver com a forma como esses empreendedores se conectam e colaboram — diz Matos.

Responsável por moderar o debate sobre a possível replicação do Vale do Silício, Juliano Seabra, diretor da Endeavor Brasil, acredita que, além de incentivos fiscais e financeiros, o estímulo à cultura empreendedora é fundamental para o crescimento de start-ups. A opinião é compartilhada por Scott Cutler, vice-presidente executivo da NYSE Euronext, que diz que os empreendedores devem “pensar grande”.

— Do ponto de vista dos mercados emergentes, a China é um bom exemplo. Empreendedores chineses têm uma grande ambição: criar uma empresa significativa e independente. Essa é a mentalidade desde o início. Em lugares como a China, há uma grande variedade de engenheiros e empreendedores que têm a mentalidade de criar algo muito grande — afirma Cutler.

Cidade em transformação

O evento, que teve como objetivo estabelecer a troca de experiências para o estímulo ao empreendedorismo e a inovação na cidade, contou ainda com a participação de Maria Silvia Bastos Marques, presidente da Empresa Olímpica Municipal (EOM). Ela apresentou os principais projetos desenvolvidos para receber os Jogos Olímpicos de 2016 e afirmou que a cidade vive um momento de transformação.

— Estamos absolutamente engajados nesse processo de transformação. Ao longo dos próximos anos vamos ver uma cidade diferente, porque o Rio já está mudando. Nosso mandamento número 1 é que os Jogos devem servir à cidade. Todos os projetos são de décadas, então os Jogos Olímpicos estão viabilizando a realização desses projetos — disse.