Rio

Mais um protesto contra aumento das passagens de ônibus no Centro tem tumulto

Policiais usaram bomba de gás lacrimogêneo e tiros de bala de borracha contra os manifestantes
Jovem quebra vidros de pontos de ônibus, e outros colocam fogo em montes de lixo em protesto no Centro contra aumento das passagens de ônibus Foto: Pablo Jacob / O Globo
Jovem quebra vidros de pontos de ônibus, e outros colocam fogo em montes de lixo em protesto no Centro contra aumento das passagens de ônibus Foto: Pablo Jacob / O Globo

RIO — Após fecharem a Avenida Rio Branco, no Centro do Rio, manifestantes que protestaram contra o aumento de passagens de ônibus voltaram à Avenida Presidente Vargas, na noite desta quinta-feira, onde mais cedo deram início ao ato, que chegou a reunir mais de duas mil pessoas. A via chegou a ser totalmente interditada no sentido Praça da Bandeira, na altura da Candelária, e os manifestantes ocuparam as pistas lateral e central. Muitos chegaram à altura da Praça Onze. Por volta das 21h45m, o trânsito foi liberado na Presidente Vargas. Houve confronto, e policiais usaram bombas de gás lacrimogêneo e deram tiros de bala de borracha contra os manifestantes, que atearam fogo em montes de lixo e quebraram vidros de pontos de ônibus. Um coletivo também foi atingido. Mais cedo, ao passarem pelo Tribunal de Justiça, manifestantes jogaram pedras no prédio e houve correria. Uma pessoa foi atingida e ficou ferida. Outras duas ficaram machucadas, sendo um policial militar e um manifestante. Dezenove foram detidas e encaminhadas à 5ª DP (Mem de Sá). Três delas foram autuadas, duas por desobediência e uma por porte de artefato explosivo. Todos foram liberados. O prédio da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) foi pichado.

A vidraça de uma agência do Banco do Brasil também foi quebrada. Pessoas colocaram fogo dentro do estabelecimento e em um arbusto no canteiro central da avenida. Um comboio de 20 carros do Batalhão de Choque seguiu em direção ao protesto.

A concentração para a manifestação começou antes das 17h, na Candelária. Após passarem pela Avenida Presidente Vargas, que chegou a ser interditada na altura da igreja, nos dois sentidos, os manifestantes seguiram pela Avenida Rio Branco, que também chegou a ser fechada. Após passarem pela Cinelândia, seguiram pela Rua Araújo Porto Alegre, pela Avenida Presidente Antônio Carlos e, ao chegarem à Avenida Primeiro de Março, ocuparam as escadarias da Alerj.

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Manifestantes também fazem protesto contra o aumento das passagens de ônibus em São Paulo. ( clique aqui e saiba mais )

À tarde, no Rio, o policiamento foi reforçado na região com homens do 5º BPM (Praça da Harmonia). Os policiais militares, alguns com capacetes e escudos, acompanham a movimentação dos manifestantes, que não foram impedidos de fechar as ruas por onde passaram. O início do protesto foi pacífico. No entanto, a maioria das lojas da região fechou mais cedo.

Durante a manifestação, uma equipe da TV Globo que acompanhava o protesto foi expulsa do local. Pessoas jogaram sacos de lixo contra os jornalistas, e seguranças da empresa precisaram escoltá-los até o carro. A equipe foi embora do ato.

No Centro do Rio, manifestantes confeccionaram cartazes com frases como “A luta das passagens já se nacionalizou”, “Se a tarifa não baixar, o Rio vai parar” e “Transporte público não pode ser privado”. O grupo também usou o grito de guerra “Acabou o amor, isso aqui vai virar a Turquia”.

— O protesto não é só pelos centavos de aumento (das passagens de ônibus), mas também pela péssima política pública oferecida à população — disse uma manifestante ao microfone do carro de som.

O estudante de Publicidade e Propaganda Gabriel Solano, de 23 anos, estudante da UniverCidade, em Ipanema, participa do ato usando um skate:

— Eu moro em Vila Isabel e estudo em Ipanema. Prefiro me arriscar no trânsito indo de skate para a faculdade do que pagar esse preço absurdo de passagem de ônibus.

Um aposentado exibia os dizeres 'Não me bata, me proteja', como um recado aos policiais, que usaram bombas de efeito moral no último protesto, na segunda-feira.

Um representante do Sindicato dos Petroleiros discursou num carro de som e avisou aos manifestantes que a categoria aderiu à campanha. No começo do protesto, carros tentaram avançar e frearam em cima dos manifestantes.

Manifestação na segunda terminou em vandalismo

Na noite de segunda-feira, um outro protesto contra o aumento das passagens de ônibus acabou em confrontos entre manifestantes e policiais do Batalhão de Choque (BPChoque), em vários pontos do Centro do Rio. Os agentes chegaram a usar balas de borracha e bombas de efeito moral contra as pessoas que protestavam. Pelo menos 31 estudantes, sendo nove menores, chegaram a ser detidos e serão investigados por dano, desobediência e desacato. Os manifestantes se reuniram na Cinelândia e seguiram pela Avenida Primeiro de Março, até o prédio da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj). Nas proximidades do Fórum, o BPChoque chegou e houve confronto. Os manifestantes cercaram ônibus, e os policiais usaram bombas de efeito moral e spray de pimenta para dispersar o protesto.

Revoltados, alguns manifestantes queimaram cones de trânsito em frente ao prédio do Tribunal de Justiça. As pessoas que protestavam seguiram para a Avenida Presidente Vargas e chegaram a fechar a via mais de uma vez, o que causou um grande congestionamento no entorno. A manifestação se dispersou. Explosões foram ouvidas. Após a chegada dos policiais, manifestantes revidaram com pedras contra carros e ônibus. Pelo menos duas explosões foram ouvidas. Cerca de 50 policiais militares do 5º BPM (Praça da Harmonia) acompanharam o ato público.

No dia seguinte, havia um rastro de vandalismo no Centro do Rio. Lixeiras e até monumentos históricos tombados foram danificados. Três pedras, uma delas com cerca de dez centímetros, foram encontradas numa sala da centenária Igreja Nossa Senhora do Carmo da Antiga Sé. As pedras foram atiradas por manifestantes e danificaram cinco vitrais que tinham sido restaurados em 2008.

Na semana passada, uma manifestação contra os aumentos das passagens do transporte público complicou o trânsito em quatro capitais do país. No Rio de Janeiro, quatro pessoas, sendo elas dois estudantes e dois ambulantes, foram detidas durante a confusão na Avenida Presidente Vargas, na altura da Central do Brasil. A manifestação, organizada no Facebook por participantes do fórum de luta contra o aumento das passagens, reuniu cerca de 200 pessoas no Rio.