O juiz Leandro Cano disse nesta quinta-feira (14) que considerou "natural" a postura do policial militar aposentado Mizael Bispo de Souza diante o júri. Entretanto, ele afirmou que adaptou sua condução do julgamento diante do modo do réu agir, sempre negando o crime.
"Ele quis agir dessa forma e eu tenho que respeitá-lo. Agora, a partir do momento que ele age dessa forma, eu também tenho que agir de acordo com minha consciência, pura e simplesmente. Cada um é cada um e responde por seus atos. Eu respondo pelos meus e assino tudo aquilo que eu fiz", disse o juiz.
O juiz afirmou, na sentença, que o réu demonstrou "insensibilidade" e conduta "desprezível e repugnante".
Mizael foi condenado pela morte da advogada Mércia Nakashima, ocorrida em 2010. A pena é de 20 anos de prisão em regime inicial fechado. O júri popular durou quatro dias e, segundo o Tribunal de Justiça, foi o primeiro transmitido ao vivo.
Questionado sobre o tempo da pena, de 20 anos de reclusão, o juiz disse que considera um tempo razoável, mas que o problema está na execução penal. “O problema é o efetivo cumprimento da pena, o que não acontece”, disse.
Para ele, é "frustrante" saber que o réu vai cumprir apenas sete anos em regime fechado. "Nós teríamos que acabar com a progressão de regime", disse. Segundo o juiz, ele não se deixou influenciar pela comoção pública para calcular a dosimetria da pena.
O juiz Leandro Bittencourt Cano disse que acredita que esse julgamento levou uma imagem positiva do Judiciário à população. O magistrado afirmou que a decisão de transmitir pela televisão, rádio e internet o júri garantiu mais transparência ao Judiciário.
Ele também aproveitou para elogiar os jurados pelo comportamento apresentado durante o júri. “Eles tiveram a postura de verdadeiros juízes.” Nos quatro dias de júri, as cinco mulheres e dois homens que fizeram parte do conselho de sentença fizeram dezenas de perguntas às testemunhas e inclusive ao réu.
O magistrado contou que antes de os jurados darem a sentença, eles se debruçaram sobre o processo para sanar as últimas dúvidas a respeito do caso. “O que os jurados fizeram, eu fiquei impressionado”, disse.
Ao fim da leitura, no plenário, o juiz se emocionou. "O choro foi um peso que saiu das minhas costas. Levei mais de um mês para a preparação desse processo", disse.
Sentença
O juiz falou, na sentença, sobre uma das qualificadoras do crime, motivo torpe ou fútil. Segundo o magistrado, não foi "amor", mas "delírio de posse" que levou ao crime. "Sentimento amor não faz sofrer. O instinto de propriedade, que é o contrário do amor, é que faz sofrer."
Presente em plenário, a família de Mércia ficou feliz com a condenação. A irmã Cláudia Nakashima comemorou a pena e gritou "assassino" e "maldito". Enquanto isso, a mãe, Janete Nakashima, chorou. Mizael ouviu a sentença quieto e cabisbaixo.
Família
Márcio Nakashima, irmão de Mércia, disse que a família ficou revoltada com a pena de 20 anos aplicada contra Mizael Bispo de Souza pela morte da ex-namorada. “Estamos muito decepcionados com a Justiça. Precisamos mudar o Código Penal, que é de 1940”, afirmou o irmão.
Segundo ele, a dosagem da pena foi muito branda e desproporcional à gravidade do crime e violência empregada. “A falta que a Mércia vai nos fazer é imensa. Não existe uma pena justa, mas nós esperávamos uma pena exemplar porque a impunidade promove a criminalidade”. A família informou que vai recorrer para ampliar o tempo da pena. "Eu acredito também que o promotor não está satisfeito com a pena", disse.
Júri
Segundo o Tribunal de Justiça, o julgamento de Mizael foi o primeiro do país transmitido ao vivo. Pelo vídeo foi possível acompanhar não só os depoimentos como as brigas quase que diárias entre acusação e defesa, que já chegaram a chamar a outra parte de 'mentirosa'.
O vigia Evandro Bezerra Silva, que também é réu do caso, acusado de ajudar Mizael, só será levado a julgamento no dia 29 de julho.