30/03/2011 07h00 - Atualizado em 30/03/2011 07h00

Descoberta de cientistas brasileiros oferece tratamento para Chagas

'Trypanosoma cruzi' causa mutações genéticas nas células do hospedeiro.
Teoricamente, transplante de medula óssea evita as lesões no coração.

Tadeu MeniconiDo G1, em São Paulo

Cientistas brasileiros elaboraram um novo tipo de tratamento para a doença de Chagas. A possível cura é baseada em mais de 30 anos de estudos que levaram à compreensão de como o Trypanosoma cruzi – protozoário que causa a doença – interage com o corpo do hospedeiro.

As pessoas infectadas pela doença de Chagas sofrem lesões no coração que levam à morte. Antônio Teixeira, pesquisador da Universidade de Brasília (UnB), descobriu que as lesões não são necessariamente causadas pelo T. cruzi, mas pelo próprio sistema imunológico do hospedeiro – processo conhecido como autoimunidade.

Ao longo de anos pesquisas, os cientistas descobriram que o microorganismo causa mutações genéticas nas células do hospedeiro. Uma vez que isso acontece, o sistema imunológico passa a produzir linfócitos – células de defesa – defeituosos, que atacam o coração. Desta forma, exterminar o protozoário não é suficiente para eliminar a doença.

O estudo mais recente foi feito com galinhas, que são imunes à infecção pelo T. cruzi. Com a mutação genética induzida, desenvolveram problemas cardíacos bastante semelhantes aos causados pela doença de Chagas, comprovando a hipótese. Essa pesquisa foi publicada pela revista científica “PLoS Neglected Tropical Diseases”.

Com a descoberta, há um novo tratamento possível para a doença de Chagas. Os linfócitos são produzidos na medula óssea. Portanto, Teixeira sugere que, matando os linfócitos e fazendo um transplante de medula óssea – tratamentos já existentes –, seja possível prevenir a doença. Se o coração já estiver danificado, o transplante também é uma solução.

“A função da ciência é oferecer soluções. Agora cabe à medicina utilizá-las”, afirma Teixeira, ao G1. Ele ressalta que, uma vez que a doença ataca o coração, a morte é uma questão de tempo e que, por isso, vale a pena pôr o tratamento em prática.

Trajetória
Teixeira dedica o resultado de anos de pesquisas a um agricultor que morreu aos 42 anos, pai de sete filhos, cujas iniciais eram J.E.S.. “Eu era assistente na clínica de cardiologia e ele foi meu paciente. Seis meses depois, eu estava na patologia, chegou o corpo dele e eu fui fazer o exame. Ele estava com o coração grande (inchado), mas não tinha Trypanosoma cruzi”, lembra-se. Desde então, o cientista vinha tentando compreender como se davam as lesões, uma vez que não eram necessariamente causadas pelo protozoário.

Ele agradece ainda a todos os pesquisadores que se dedicaram ao tema em pesquisas de pós-graduação, não apenas na UnB. “É uma história de construção coletiva de conhecimento científico”, define.

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