Edição do dia 12/02/2011

12/02/2011 21h30 - Atualizado em 12/02/2011 21h30

Egito vive as primeiras 24 horas de liberdade na história

Dia seguinte à renúncia do ditador Hosni Mubarak foi intensamente comemorado. Militares no poder prometeram cumprir os acordos internacionais e fazer uma transição pacífica para a democracia.

O Egito teve um sábado de muita festa. O dia seguinte à renúncia do ditador Hosni Mubarak foi intensamente comemorado. O enviado especial da TV Globo Ari Peixoto trouxe as últimas informações, ao vivo, direto da capital, Cairo.

À 00h30, na Praça Tahrir o clima era só de alegria. Neste sábado (12), a coalizão dos jovens da revolução, que reúne os grupos que iniciaram o movimento, convocou oficialmente o fim do protesto, mas parece que esqueceram de avisar aos egípcios que continuam na praça. Eles seguem cantando, dançando, buzinando. Mostram que têm a mesma disposição para festejar que tiveram para derrubar Hosni Mubarak.

Foi um amanhecer cansado, mas feliz. Para as milhares de pessoas que viraram a noite na Praça Tahrir, celebrando a renúncia do presidente egípcio, foi como transbordar um sentimento preso há 30 anos.

Um dos jovens mal sabia o que dizer, quando perguntado como se sentiu neste sábado (12). Na última sexta, no início da noite no Egito, ele e outros milhões de egípcios ouviram a notícia aguardada há 18 dias: Hosni Mubarak havia renunciado. A multidão explodiu em lágrimas de esperança e felicidade. Pelas ruas do Cairo, bandeiras, buzinas e fogos de artifício comemoravam a libertação.

Neste sábado, o número de barracas na praça diminuiu. A toda hora, passam carros e pessoas transportando os cobertores que protegeram os ativistas das noites frias do Cairo. Mas os egípcios continuam chegando em grande número à praça que virou o símbolo dos protestos contra o regime de Mubarak.

Uma das coisas que se percebe quando chega a uma das principais entradas da Praça Tahrir é que não há mais um ponto de checagem feito pelos militares. Quando alguém chegava nesse ponto, havia arames farpados, barricadas e todos eram obrigados a abrir bolsas e mostrar para os militares. Isso não existe mais, o povo anda livremente. Alguns ativistas estão mais ou menos controlando, mas mais por uma questão de segurança para evitar que haja qualquer tipo de confusão que atrapalhe a festa.

Agora, mais que nunca, os manifestantes parecem unidos aos militares, cujos tanques e blindados viraram o fundo preferido para a foto de crianças e adultos. Os jovens continuam limpando as ruas, mas agora também estão apagando as pichações nos monumentos e pintando trechos do meio-fio da praça.

Um clima de recomeço, que pode ser resumido por um cartaz que diz: “Desculpe o incômodo, mas estamos construindo o Egito”.

O novo país começa com jovens caras-pintadas, uma realidade que a professora Raquel de Camargo conhece bem. A paranaense é casada com um egípcio, mora no Cairo há dois anos e diz que compartilha a alegria do povo.

“Porque eu sei a liberdade que nós temos no Brasil, o quanto é bom ser livre e ter liberdade de expressão, como eles não tiveram por um tempo, 30 anos dentro deste regime de ditadura e agora esta liberdade, que eu espero que eles saibam como aproveitar bem esta liberdade”, declarou ela.

Neste sábado, o conselho militar que assumiu o governo afirmou que vai respeitar os tratados internacionais já firmados, o que implicitamente inclui o acordo de paz com Israel. O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, felicitou a decisão e disse que o tratado entre os dois países é fundamental para a estabilidade de todo o Oriente Médio.

Os militares reiteraram o compromisso de levar o país rumo às eleições livres e justas. Mas ainda não estabeleceram prazos para a transição do governo aos civis. O conselho pediu que a população colabore com a polícia, vista como uma força de repressão da era Mubarak.

Para a difícil transição de um regime de repressão para eleições democráticas, o Egito vai precisar de ajuda externa. Pelo menos é o que pensa o guia egípcio: “O país precisa ajuda e ajuda mundial, para as pessoas ficarem firmes na terra. Vai ser livre e vai ser melhor e estamos a contar com o apoio dos brasileiros também”, disse.