13/01/2011 07h25 - Atualizado em 13/01/2011 13h27

'Uma nova onda de censura começou no Irã', diz editor de Paulo Coelho

Arash Hejazi alega ao G1 que governo do país quer frear 'livre pensamento'.
Além do brasileiro, obra do Nobel JMG Le Clézio também teria sido banida.

Diego AssisDo G1, em São Paulo

Em foto disponibilizada em seu site oficial, o editor iraniano Arash Hejazi posa ao lado do escritor Paulo CoelhoEm foto divulgada em seu site, Arash Hejazi posa
com o escritor Paulo Coelho (Foto: Reprodução)

O escritor, jornalista e editor de Paulo Coelho no Irã Arash Hejazi afirmou ao G1 que o governo proibiu as obras do escritor brasileiro numa tentativa de controlar o “livre pensamento” e que o episódio faz parte de uma “nova onda de censura que começou recentemente” no país.

Foi Hejazi quem, segundo Coelho, o alertou sobre a decisão das autoridades iranianas em e-mail enviado no último domingo e divulgado pelo brasileiro em seu blog internacional.

“Fui informado hoje de que o Ministério da Cultura e Orientação Islâmica no Irã baniu todos os seus livros, até mesmo as versões não-autorizadas publicadas por outras editoras. Meus amigos souberam que nenhum livro que traga o nome de Paulo Coelho nele terá autorização para ser publicado mais no Irã”, explicou o editor, que atualmente vive no Reino Unido e diz temer por sua segurança em Teerã. “Seus livros foram banidos sem nenhuma explicação, e seus leitores iranianos estão ansiosos para ouvi-lo”, completou na ocasião.

O governo do Irã não se manifestou sobre o caso até agora.

Filho de um acadêmico com uma professora, Hejazi, 39, formou-se em medicina em 1996 e, no ano seguinte, ajudou a fundar a editora Caravan em Teerã, responsável por publicar a obra de Coelho no país, além de livros religiosos, místicos, poemas e romances de autores que vão de Ohmar Khayan e Milan Kundera a Gaston Leurox e Carl Gustav Jung.

A editora já teria sido vítima de censura no Irã em pelo menos outras duas ocasiões. Em 2008, a revista literária “BookFiesta” – publicada desde 2003 – foi fechada pelo Ministério da Cultura depois de divulgar um conto do italiano Primo Levi, conhecido por suas memórias sobre os anos preso no campo de concentração de Auschwitz. Em 2005, foi a vez de o romance “Zahir”, também de Paulo Coelho, ser proibido pelas autoridades locais.

Procurado pelo G1, Hejazi concordou em conceder entrevista por e-mail. Confira a seguir os principais trechos.

G1 – Você enviou um e-mail para o escritor Paulo Coelho no domingo falando sobre a proibição de sua obra no Irã, citando informações de amigos no país. Desde então, já houve alguma manifestação oficial do governo sobre o caso?
Arash Hejazi – Não. O governo do Irã nega que pratique qualquer tipo de censura no Irã. É bem improvável que eles divulguem quaisquer comunicados ou mesmo que neguem [a proibição aos livros de Paulo Coelho].

G1 – Que livros de Paulo Coelho sua editora publicou no Irã? Você já teve problemas semelhantes com a censura em relação a outros livros do brasileiro?
Hejazi
– [Publicamos] todos eles, exceto “Onze minutos”. Sim, em 2005 eles baniram “Zahir”.

Capa das edições de 'Diário de um mago' e 'O alquimista' publicadas no Irã pela editora CaravanCapa das edições iranianas de 'Diário de um mago'
e 'O alquimista' (Foto: Reprodução/Ed. Caravan)

G1 – Paulo Coelho escreveu em seu blog que já vendeu 6 milhões de cópias no Irã nos últimos 12 anos, o que é bastante, para quaisquer padrões. Como é a percepção geral sobre o escritor e sua obra na sociedade iraniana? Ele é amplamente aprovado ou recebe muitas críticas?
Hejazi
– Os números estão corretos. Nós [a editora Caravan] vendemos 2 milhões de cópias de seus livros e estimamos que as versões não autorizadas (publicadas por 27 ou mais editoras) tenham vendido cerca de 4 milhões de cópias. Ele também tem sérios críticos, como em qualquer lugar do mundo.

G1 – Que temas ou assuntos específicos presentes nos livros de Paulo Coelho podem ter incomodado as autoridades iranianas?
Hejazi
– Provavelmente o livre pensamento, o convite às pessoas para que encontrem seu prório caminho em vez de dependerem do que as normas da sociedade ditam.

G1 – Paulo Coelho comentou em seu blog que acha no mínimo estranho que seus livros estejam sendo banidos no país justamente agora, depois de anos sendo publicados oficialmente no Irã. Por que acha que isso está acontecendo? É só um mal-entendido, uma decisão arbitrária de alguém no governo ou um novo sinal de tempos negros para a cultura no Irã, como o episódio recente da prisão do cineasta iraniano Jafar Panahi?
Hejazi
– Uma nova onda de censura começou recentemente no Irã. Muitos editores, autores iranianos e, claro, autores internacionais foram banidos. Eu sei que [o romance] “O deserto”, do [prêmio Nobel franco-mauriciano de 2008] JMG Le Clézio, também foi banido.

G1 – Parece que você estaria trabalhando para traduzir para o farsi e disponibilizar de graça na internet toda a obra de Paulo Coelho. Como vai ser isso – você tem algum medo de retaliação por fazê-lo?
Hejazi
– Devemos esperar para ver.
 

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