Edição do dia 12/02/2011

12/02/2011 22h17 - Atualizado em 12/02/2011 22h17

Repórter relata impressões após queda de ditador no Egito

Segundo ele, os ativistas estão dando um voto de confiança aos militares. Ari Peixoto destaca ainda a necessidade de se reestruturar a economia.

O repórter Ari Peixoto, enviado especial ao Egito, falou sobre as impressões durante as primeiras 24 horas de liberdade no país, com a queda do ditador Hosni Mubarak.

Renata Vasconcellos: O povo no Egito derrubou uma ditadura. Agora, precisa construir uma democracia. Os egípcios confiam nos militares?

Ari Peixoto: Aparentemente, por tudo que se tem visto, os ativistas estão dando um voto de confiança aos militares, ou pelo menos, o benefício da dúvida. É bom lembrar que o chefe do conselho, o general Hussein Tantawi, é considerado muito chegado a Mubarak, mas também considerado um homem meio resistente às mudanças. A grande questão é que a oposição ainda está muito fragmentada e dividida, enquanto isso não se resolver, a região vai ficar nessa espécie de vácuo político.

Heraldo Pereira: A Justiça proibiu alguns ex-integrantes do governo de deixar o país. Como está a situação desses ex-ministros e do ex-presidente Mubarak?

Ari Peixoto: Alguns ex-ministros não podem deixar o país. Pelo menos um ex-ministro, o da Informação, Anas el-Fekki, está em prisão domiciliar. Foi ele quem tirou a emissora Al Jazeera do Qatar do ar, há uma semana. Há também autoridades do governo que tiveram bens e contas bancárias congeladas. Neste sábado (12), a TV estatal confirmou que o ex-presidente Hosni Mubarak está na mansão dele em Sharm El Sheik, às margens do Mar Vermelho.

Renata Vasconcellos: E um outro desafio dos egípcios é reconstruir a economia, porque a produção parou.

AriPeixoto: A economia foi muito afetada por essa paralisação. Ela ficou estancada. A gente tem que entender que 20% dos egípcios vivem com menos de US$ 1 por dia, estão abaixo da linha da pobreza. Mas o egípcio consegue se reinventar, consegue ser muito criativo. A gente que frequentou a praça durantes duas semanas observou que começaram a surgir alguns movimentos de comércio, por exemplo, começaram a vender bandeiras, fitinhas, crachás e cobrando por isso. Um crachá, por exemplo, custa uma libra egípcia, pelo menos R$ 0,30, parece pouco, mas vendendo muito, as pessoas acabam se recuperando. É importante perceber o seguinte: o Egito vai precisar reconquistar os investidores e os turistas. Porque o turismo, que é 11% do produto interno bruto, também foi muito afetado, as pirâmides estão fechadas até hoje.