28/02/2011 04h04 - Atualizado em 28/02/2011 07h38

Exibição de 'Lixo extraordinário' e do Oscar reúne 2,5 mil em Caxias (RJ)

Documentário não levou o prêmio, estatueta ficou com 'Trabalho interno'.
Para catadores, filme trouxe autoestima e esperança.

Beatriz PadrãoDo G1RJ

Na principal praça de Jardim Gramacho, bairro de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, mais de 2,5 mil pessoas se reuniram para assirtir à exibição do filme "Lixo extraordinário", que concorreu ao Oscar de melhor documentário, e à parte da cerimônia da premiação nos Estados Unidos.

A ideia de fazer o evento foi de Tião Santos, presidente da Associação dos Catadores do Aterro Metropolitano de Jardim Gramacho (ACAMJG), que é um dos principais personagens do filme. Ele queria que todos da comunidade pudessem se sentir parte da conquista.

Tudo foi organizado em menos de uma semana, com o apoio da iniciativa privada e da Prefeitura de Caxias. Para muitos moradores foi a primeira oportunidade de ver o documentário. Jorge Soares Júnior, estudante de cinema, ficou fascinado. "Eu estou achando fantástico poder ver essa realidade. Apesar de morar aqui, eu estava longe de conhecer o trabalho dos catadores e, na minha profissão, eu vou querer retratar esses temas", contou o universitário. A catadora Elaine da Silva Moraes se viu pela primeira vez na telona e não conseguia parar de gritar. "Eu estou emocionada, me sentindo uma celebridade. Antes do filme, eu era catadora de lixo, agora sou catadora de material reciclável", afirmou ela.

Além de Elaine, outros catadores que participaram do longa destacaram os benefícios que a produção trouxe para eles. "Agora as pessoas me reconhecem, me abraçam e eu dou entrevistas. Hoje eu já sabia que seria muito requisitada. Estou muito mais alegre, mais feliz", comemorou Leide da Silva.  "Eu entrei no Jardim Gramacho com 12 anos e ninguém reconhecia o lixo. Hoje o lixo é extraordinário graças ao Tião Santos. Agora que começaram a valorizar nosso trabalho", frisou Carla Simone dos Santos que é catadora há 25 anos e teve que parar de ir ao aterro por problemas de saúde.

João Carlos Leite, mais conhecido como Zumbi, contou que sempre gostou muito de ser catador e, após o filme, ele ficou com mais orgulho de sua profissão. "Nós éramos marginalizados na sociedade e ninguém queria saber da nossa classe. Agora todos vão entender a importância do nosso trabalho. Mesmo se não ganharmos o Oscar, vamos ficar marcados para sempre", enfatizou Zumbi que passou toda a entrevista com um sorriso "de orelha a orelha".

Antes da exibição da premiação, vários grupos de funk, pagode e samba se apresentaram e levantaram o público. "Lixo extraordinário" não conquistou a estueta em Hollywood, o prêmio ficou com "Trabalho interno”, de Charles Ferguson. Mesmo após a derrota, a festa em Gramacho continuou por mais meia hora com a bateria do grupo Cem Por Centro Samba Show.

Aterro de Gramacho vai acabar

O Aterro de Jardim Gramacho será desativado em dezembro de 2011. Os 2,5 mil catadores do local ainda não sabem onde vão poder trabalhar. Um novo aterro será construído em Seropédica, mas lá não será permitida a entrada de catadores.

A diretora financeira da ACAMJ, Glória Cristina dos Santos, explicou que a próxima reunião com a Companhia Municipal de Limpeza Urbana do Rio (Comlurb), está marcada para o dia 21 de março. Glória disse que a primeira exigência da categoria é continuar a trabalhar com material recivlável. "Além disso, queremos um contrato que permita nosso acesso às cinco usinas de triagem do lixo que serão construídas em diferentes pontos do Rio. Assim vamos garantir a sustentabilidade das cooperativas", acrescentou a diretora.

Documentário premiado
“Lixo extraordinário" foi gravado durante dois anos no lixão de Gramacho - maior aterro sanitário da América Latina -, que fica na periferia do Rio de Janeiro. O filme que mostra a trajetória do lixo até se tornar arte e expõe a vida dos catadores de lixo também foi rodado em Londres e em Nova York, onde fica o estúdio do artista plástico Vik Muniz. Seu trabalho apareceu recentemente na abertura da novela "Passione".

O documentário, resultado de uma coprodução entre Brasil (O2) e Reino Unido (Almega Projects), com direção de Lucy Walker, João Jardim e Karen Harley, teve uma trajetória vitoriosa ao longo de 2010 em diversos festivais, como Sundance, Berlim, Rio e Paulínia. Veja a lista de prêmios.

"Lixo extraordinário" concorreu com “Exit through the gift shop”, do artista plástico Banksy; “GasLand”, de Josh Fox; “Trabalho interno”, de Charles Ferguson; e “Restrepo”, de Tim Hetherington e Sebastian Junger.

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