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Após Brasil abrir caminho, Palestina vira realidade na América do Sul

TEL AVIV - O efeito dominó diplomático começou no dia 3 de dezembro, quando, ao apagar das luzes de seu governo, o presidente Lula reconheceu a Palestina nas fronteiras de antes da Guerra dos Seis Dias, em 1967 (Cisjordânia, Faixa de Gaza e Jerusalém Oriental).

Mas, o que parecia ser um ato isolado, revelou-se uma decisão em bloco da América do Sul, onde, antes, só a Venezuela reconhecera o Estado palestino com tal desenho.

Nas últimas seis semanas, Argentina, Bolívia, Equador e Guiana seguiram o passo de Brasília. Paraguai, Uruguai e Peru já avisaram que farão o mesmo, provavelmente na reunião da Cúpula América do Sul-Países Árabes, em 16 de fevereiro, em Lima.

O Chile também fez seu anúncio, mesmo que deixando de lado a questão das fronteiras. O único país que destoa é a Colômbia, que declarou que só reconhecerá o Estado palestino após um acordo de paz. Abbas: "É um passo gigante rumo à nossa independência"

O governo do presidente Mahmoud Abbas não escondeu a satisfação com a tsunami de reconhecimentos, resultado direto de um enorme esforço diplomático junto a países que ainda não haviam aceitado formalmente a existência da Palestina.

- O reconhecimento de um Estado nas fronteiras de 1967 é um passo gigante rumo à nossa independência - disse Abbas há duas semanas, em Brasília.

Cerca de 100 nações já reconheceram a Palestina desde 1988, quando o líder Yasser Arafat declarou independência na ONU. Agora, a ambição da liderança palestina é colocar em votação, em setembro, na Assembleia Geral, a criação do país nas fronteiras de 1967. Para isso, quanto mais votos, melhor.

- No Caribe, por exemplo, há 12 pequenos Estados. Mas esses países têm o mesmo peso que a China em votações na Assembleia Geral - explicou o chanceler palestino, Riad Malki.

A ideia dos palestinos de apelar para a ONU era tida como plano B, mas virou prioridade por causa do impasse nas negociações de paz com Israel. Depois de um começo promissor, em setembro, a mais recente iniciativa de paz já morreu na praia. Abbas se retirou das conversas em protesto contra o fim do congelamento temporário de 10 meses na expansão de colônias judaicas na Cisjordânia.

Irritado, o premier israelense, Benjamin Netanyahu, não se conteve durante conversa com jornalistas estrangeiros, semana passada, em Jerusalém:

- Os palestinos estão voando pelo mundo... Pela América do Sul, pela Ásia, pelos quatro cantos do mundo. Mas que economizem no preço das passagens aéreas e na gasolina! Viajem apenas dez minutos e venham a Jerusalém negociar!

Mujad Salech, diretor para América Latina do Ministério do Exterior palestino, garantiu ao GLOBO que a eventual votação na ONU não significa que os palestinos tomarão decisões unilaterais.

- Ninguém aqui diz que vamos declarar um Estado unilateralmente. Queremos chegar a um acordo por negociações. Mas Israel fala em negociar e continua a colonizar nossas terras. Temos de fazer algo.

Salech considera que a América do Sul tem muito a ganhar com o apoio aos palestinos, principalmente em termos econômicos. O Mercosul já fechou um acordo de livre comércio com o Egito e agora negocia com a Autoridade Nacional Palestina e com a Síria. Mas está de olho nos países do Golfo.

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