03/02/2011 07h21 - Atualizado em 15/02/2011 20h46

Empresa familiar entra no mercado de doces com brigadeiro quadrado

Portuguesa e filho trocaram bolinho de bacalhau por linha de doces.
Criada há 6 anos, Beijo Doce tem mais de 600 pontos de venda em SP.

Darlan AlvarengaDo G1, em São Paulo

Da receita portuguesa de bolinho de bacalhau herdada dos tataravós para a receita brasileiríssima de brigadeiro, só que em formato quadrado. Essa é a trajetória da família Rodrigues, proprietária da Beijo Doce, fabricante de docinhos distribuídos atualmente em mais de 600 pontos de venda na capital de São Paulo e cidades do litoral e do interior.

Beijo DoceElias e a mãe Ester Rodrigues, proprietários da Beijo Doce (Foto: Darlan Alvarenga/G1)

O negócio nasceu há seis anos, após um período traumático para a família de imigrantes portugueses, que desistiu do ramo de padaria após um assalto no ano 2000, no qual o patriarca foi baleado e ficou 46 dias internado na UTI (Unidade de Terapia Intensiva).

“As despesas médicas com o meu pai eram muito altas. O negócio foi ficando abandonado e quebramos. Foram quatro anos no cheque especial e acumulando dívidas”, lembra Elias de Jesus Rodrigues, de 45 anos, que criou a Beijo Doce com a mãe, Ester Rodrigues, de 67 anos.

Antes de abrir a empresa de doces, a família tentou investir na venda de bolinho de bacalhau, que fazia sucesso na padaria que era mantida no Itaim. Mãe e filho chegaram a distribuir o quitute português para diversos bares da Vila Olímpia, mas o negócio não decolou.

“O armazenamento e a distribuição eram muito complicados. Teria que investir mais e não tinha dinheiro. Sem contar que a gente tinha que ficar ensinando os cozinheiros a fritar, porque senão o bolinho nunca ficava do mesmo jeito”, afirma Elias.

A volta por cima veio com a aposta nos docinhos. Em dois anos, a empresa saiu da cozinha da família para um imóvel próprio e, desde 2009, a Beijo Doce está instalada num galpão próprio, no bairro do Cambuci, na região central de São Paulo, onde trabalham 15 funcionários.

“Minha mulher é louca por doce e a gente notava que ninguém vendia brigadeiros, beijinhos em tamanhos maiores. Então pensamos em fazer a mesma receita caseira, que a minha mãe fazia em casa, em tamanhos maiores”, conta Elias.

Segundo ele, o formato retangular e achatado surgiu na fase de testes de fabricação em escala comercial. “De início, pensamos embalar em papel filme, no formato arredondado. Mas não conseguíamos dar um padrão. Os doces amassavam e cada um ficava num formato”, recorda o empresário.

Segundo ele, o formato final – quadradinhos de 40g, foi “aparecendo meio que naturalmente”. “Já tinha paçoquinha quadrada, pão de mel quadrado, então a gente tentou embalar desse jeito”, afirma. “Não dá pra gente dizer que somos o pai da criança, mas nunca tinha visto docinhos empacotados desse jeito”, garante. Na embalagem desenvolvida pela família, o único lacre é a etiqueta com as informações nutricionais dos doces.

Embalagem sem máquina
Além de facilitar a armazenagem e o transporte, o formato também permite uma maior exposição dos doces nos pontos de venda: na grande maioria, caixas e balcões de padarias, restaurantes, cafés e lojas de conveniência.

Pode parecer surpresa, mas nenhuma máquina é usada no processo de embalagem. Toda produção é artesanal, do preparo em pequenas panelas ao corte e pesagem dos doces. “Não tenho uma batedeira na fábrica. Nossas maquininhas são todas manuais”, afirma Ester, que compartilha apenas com poucas funcionárias a técnica de embalagem dos doces.

Como se trata de um produto cuja compra geralmente se dá por impulso, boa apresentação é fundamental. Mesmo porque hoje já existem outras empresas disputando o mesmo filão no mercado. “Como se não bastassem copiar, tem uns que colocam até uma etiqueta parecida com a nossa”, reclama Rodrigues.

A Beijo Doce já conseguiu registrar a marca e agora tenta proteger a logomarca. Mas é principalmente na qualidade e na apresentação dos doces que a empresa busca se diferenciar da concorrência. “Só usamos matéria-prima de primeira. Só faço brigadeiro com Leite Moça e chocolate da Nestlé”, afirma Elias.

Por mês, são consumidos cerca de 200 kg de chocolate só para a fabricação de brigadeiros. Com a concorrência crescente, a empresa não informa os números de sua produção. Revela apenas que opera com uma margem de lucro de 20%.

O crescimento da Beijo Doce já chamou a atenção também de redes maiores. Há pouco mais de um ano, a empresa foi procurada pela Amor aos Pedaços, que questionou o uso da nomenclatura Bicho de Pé, marca registrada da rede, nas etiquetas do doce cor de rosa à base de leite condensado e gelatina.

“Eu achava que era uma marca genérica como brigadeiro”, explica Elias, que passou a chamar o doce rosa de 'beijo doce tradicional'.

“Hoje já tem cliente que pede beijo doce na hora da compra”, diz Ester que comanda ao lado do filho o trabalho de divulgação e conquista de novos pontos de venda. “Tenho cliente que vou três vezes por semana”, afirma Elias.

O prazo de validade curto do produto, de 20 dias, é outro fator que exige um relacionamento contínuo entre a empresa e seus distribuidores. “É uma compra por impulso e temos que manter o produto sempre à vista, fresquinho e molinho”.

O catálogo da Beijo Doce inclui atualmente 16 sabores, incluindo versões com abacaxi, nozes, avelãs, limão e crispy. Os doces mais vendidos são o brigadeiro, o beijinho e o beijo doce tradicional. O preço sugerido de cada doce é entre R$ 2 e R$ 2,50.

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