Edição do dia 22/03/2011

22/03/2011 21h37 - Atualizado em 22/03/2011 21h37

EUA, França e Grã-Bretanha chegam a acordo sobre papel da Otan na Líbia

Nos bastidores da guerra, especialistas dizem que Nicolas Sarkozy pretende usar a ação militar como capital político nas próximas eleições.

Ilze ScampariniRoma, Itália

Estados Unidos, Grã-Bretanha e França chegaram a um acordo, nesta terça-feira (22), sobre a função que a Aliança Militar do Ocidente vai desempenhar nas operações militares contra o regime de Muammar Kadhafi. De Roma, a correspondente Ilze Scamparini informa que a Otan se declarou pronta para impor a zona de exclusão aérea em território líbio.

Depois de expor publicamente a divisão, a coalizão se recompõe. Todos os esforços são feitos para que a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) assuma o controle de uma guerra até agora sem comando ou com vários comandos, segundo o professor de Ciências Sociais da Universidade de Roma La Sapienza. “É uma competição de ambições pessoais e nacionais”, diz o estrategista Fabrizzio Battistelli.

O presidente americano Barack Obama telefonou, a bordo do Air Force One, em viagem pela América Latina, telefonou para o primeiro-ministro inglês e para o presidente francês. Os três líderes chegaram a um acordo para que a Otan exerça um papel de importância na ofensiva militar na Líbia.

Obama ligou também para o primeiro-ministro da Turquia, que era um dos obstáculos. Tayyip Erdogan defende a intervenção apenas com caráter humanitário e declarou que a Turquia jamais apontará armas para o povo líbio.

A grande resistência era da França. Nos bastidores da guerra, especialistas de países vizinhos dizem que o presidente Nicolas Sarkozy pretende usar esta ação militar como capital político nas eleições do próximo ano.

Filho de pai líbio e mãe italiana, o economista e especialista em relações internacionais, Karim Mezran, afirma que a França e a Inglaterra querem conquistar a Líbia para ocupar o lugar da Itália, de maior parceiro econômico, e reconstruir o país.

O diretor do Instituto de Estudos Americanos de Roma afirma que a Itália falhou na sua política e diplomacia ao não conseguir convencer Kadhafi a evitar este ataque.

O primeiro-ministro Silvio Berlusconi desabafou: disse que Sarkozy pensa que é o dono do Mediterrâneo e se confessou entristecido pela sorte do ditador.

Nesta terça, a Otan anunciou um bloqueio naval para impedir a chegada de armas à Líbia pelo Mediterrâneo. Criada em 1949 no contexto da Guerra Fria, a Organização Militar do Atlântico
Norte representa 28 países.

Em Moscou, o ministro da Defesa da Rússia recebeu o colega americano Robert Gates e pediu um cessar-fogo imediato no território líbio. Mas Gates confirmou apenas que as operações militares serão reduzidas nos próximos dias.

O governo francês declarou que a proposta de um cessar-fogo pode ser discutida quinta-feira no Conselho de Segurança da ONU.

Para os analistas de guerra, esse conflito pode estar chegando ao fim, se os objetivos são apenas os de proteger a população líbia. Os movimentos pacifistas começam a se organizar na Itália e prometem grandes passeatas.

Dois jornalistas da agência de notícias France Presse e um fotógrafo estão desaparecidos na Líbia desde sexta-feira (18). Segundo testemunhas, eles viajavam por uma estrada no leste do país quando foram detidos por soldados leais a Muammar Kadhafi.