Mundo

Editor de Paulo Coelho no Irã relaciona proibição a livros à perseguição que sofre desde 2009

Paulo Coelho e Arash Hejazi Reprodução
Paulo Coelho e Arash Hejazi Reprodução

RIO - O escritor Paulo Coelho anunciou nesta segunda-feira em seu blog ( www.paulocoelhoblog.com ) que o governo iraniano teria proibido seus livros no país. O autor de "O alquimista" publicou no site um email em que seu editor iraniano, Arash Hejazi, avisa que "o Ministério da Cultura e Orientação Islâmica do Irã baniu todas as suas obras" e que "nenhum livro com o nome de Paulo Coelho terá mais publicação autorizada no Irã". O editor atribui a informação a uma fonte no ministério. O governo iraniano não se manifestou sobre o assunto.

Em entrevista ao GLOBO por email, Hejazi relaciona a proibição com a perseguição que tem sofrido desde que testemunhou o assassinato de Neda Agha-Soltan em Teerã, em junho de 2009, durante os protestos contra a reeleição do presidente Mahmoud Ahmadinejad, acusado de fraude pela oposição.

Formado em Medicina, ele estava perto de Neda no momento em que foi baleada, e pode ser visto tentando socorrê-la no vídeo que registrou a morte da ativista. O vídeo ganhou repercussão mundial na época, tornando-se símbolo da repressão no Irã. Depois disso, Hejazi se exilou em Londres, onde vive até hoje. De lá, soube que sua editora, a Caravan Books, foi fechada pelo governo no ano passado. Ele acredita que as manifestações de Coelho a seu favor provocaram a censura.

- Todos que comentaram sobre a morte de Neda ou outras mortes que ocorreram no mesmo período sofreram imensamente. Precisei deixar o país por segurança e a Caravan Books foi fechada por ordem do Ministério da Cultura, apenas porque testemunhei aquele crime horrível. Agora, parece que Paulo Coelho está pagando o preço por te me defendido naquela situação. Ele foi uma das primeiras pessoas a me identificar no vídeo. Paulo também já se manifestou a favor de Shirin Ebadi, a vencedora do Nobel da Paz de 2003, exilada por suas críticas à situação dos direitos humanos no Irã. Sua popularidade no país também pode ser uma questão. Minha experiência diz que este governo detesta qualquer um que é extremamente popular e não está sob seu controle - avalia Hejazi.

Os livros de Paulo Coelho são traduzidos no Irã desde 1998 e o autor estima já ter vendido seis milhões de exemplares no país, que tem uma população de cerca de 70 milhões de pessoas. Em entrevista ao GLOBO por email, o escritor prefere não especular as razões da proibição, mas se mostra otimista:

- Não existe nenhuma lógica por trás do que aconteceu: manter os livros editados por tantos anos e, da noite para o dia, proibi-los. Tenho muita esperança de que a situação seja revertida daqui até o final da semana - diz Coelho, que esteve no Irã em 2000, naquela que foi a primeira visita de um escritor não-muçulmano ao país depois da Revolução Islâmica de 1979. - Quando aceitei a visita, o grande motivo foi manter viva a ponte cultural com o país. Continuo achando que a cultura, de uma maneira geral, é um dos poucos canais de comunicação que temos hoje.

Informada sobre o caso durante uma visita a projetos do governo federal no complexo do Alemão, a ministra da Cultura, Ana de Holanda, disse considerar qualquer tipo de censura "lamentável". Ela anunciou que conversaria com o ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, sobre a situação de Paulo Coelho. O presidente da Funarte (Fundação Nacional de Artes), Antonio Grassi, que acompanhou a ministra na visita, classificou a decisão iraniana de "absurda".

Leia a íntegra na edição digital do GLOBO (exclusivo para assinantes)

Leia também:

Irã proíbe unhas longas, jeans justos e tatuagens em universidades