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A revolução árabe e a revolução tupiniquim

Uma onda revolucionária toma conta do mundo. Como se tivessem tocado um despertador na Tunísia e o som estivesse se propagando pela Terra. As mídias digitais propagam este som aos quatro cantos do planeta. Caiu um ditador enquanto outro, cambaleante, num acesso de loucura, diz que só sai do poder morto.

A morte é resultado da vida. O solo há de consumir cada um de nós algum dia, entretanto, enquanto resta uma golfada de ar nos pulmões, estamos vivos. Ou quase vivos. Pois em grande parte do globo ainda existem pessoas escravizadas, subjugadas por regimes autoritários e levianos. Como a morte é resultado da vida, em um ciclo perene, a democracia também é o resultado da ditadura, é a morte da ditadura, pois o ser humano nasceu para ser livre.

Na noite da última terça-feira, ao ver num telejornal a notícia sobre a jovem que morreu ao cair de um trio elétrico na orla carioca, me veio uma reflexão. Pensei: é a onda revolucionária em sua forma tupiniquim. Enquanto o povo vai às ruas no Oriente Médio, ocupa praças e parques, brada seu grito por liberdade, aqui, fazemos o que é estabelecido por nossa cultura.

Desculpem-me usar de ironia, mas, como bom brasileiro, foi dela que saíram estas mal traçadas linhas... Vejo estudos ditos científicos argumentando que catástrofe como a ocorrida na Região Serrana do Rio de Janeiro só acontece de 500 em 500 anos. Assisto, estupefato, ao discurso de políticos e funcionários públicos que dizem que o papelzinho que jogamos pela janela do carro é responsável pelas inundações e alagamentos. E mais: comentários nas notícias, que usam da mesma ironia, mesmo que de uma forma mais branda, alegando que a culpa é da própria população, do incauto cidadão desinformado.

Nossa presidente já teve uma loja de artigos de R$ 1,99 - os estabelecimentos deste tipo acabaram falindo em menos de três anos por causa da inflação. O nome da lojinha da senhora presidente era "Panem et circenses", a forma acusativa da expressão latina "panis et circenses", que significa "pão e jogos circenses", o popular "pão e circo". Esta foi a política adotada pelos antigos imperadores, ou devo dizer ditadores, romanos, que se fundava no provimento de comida e diversão ao povo, com o objetivo de diminuir a insatisfação popular contra os governantes.

Analisando o exposto, concluí que, depois do Oriente Médio, já começaram também por aqui as manifestações populares e a nossa revolução tupiniquim, estes distúrbios, devem durar ao menos até o próximo dia 9 de março. As agências de notícia já apontam ao menos uma morte relacionada a este levante popular: aconteceu em via pública, na orla de Copacabana.

Não contabilizei aqui os desencarnados do ataque da natureza, no fatídico janeiro passado, no qual mais de mil brasileiros e brasileiras perderam a vida... E que deve voltar a acontecer dentro de 500 anos. Mas fiquemos tranquilos, marchemos de cabeça erguida, pois na semana seguinte ao 9 de março o rei (Momo) finalmente será deposto... Este artigo foi escrito por um leitor do Globo. Quer participar também e enviar sua opinião? Clique aqui