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Jogador brasileiro convive com risco de guerra e serviço militar em Israel

Gabriel Griner não nega temor com a possiblidade de ter que ir para o campo de batalha: 'Aqui a guerra é de verdade, não é seriado americano'

Por Rio de Janeiro

Gabriel, brasileiro da Sub-19 da seleção de Israel (Foto: Divulgação)Gabriel na concentração de Israel (Foto: Divulgação)

O carioca Gabriel Griner, de 19 anos, passa por duas realidades distintas em sua vida. Além de ser a esperança do povo israelense no futebol, sendo o destaque da seleção sub-19 e eleito o melhor jogador das categorias de base do país em 2010, tem que cumprir com as exigentes obrigações militares de Israel e conviver com o risco permanente da explosão de uma guerra com um dos países vizinhos.

- É claro que tenho medo, como qualquer pessoa normal. Aqui a guerra é de verdade, não é um seriado de televisão americano - afirmou em entrevista por e-mail ao GLOBOESPORTE.COM.

Volante que às vezes atua como zagueiro, Gabriel não pode entrar em detalhes sobre o serviço militar sob o risco de punição. Encarregado pelo suprimento de combustível dos navios, o carioca, que chegou a Israel com apenas três anos de idade, tem regalias e consegue ser liberado para os jogos de seu time, o Maccabi Haifa, e para as concentrações da seleção. Alguns de seus amigos, entretanto, não tiveram a mesma sorte.

- Pelo fato de ser jogador de seleção e estar num dos melhores times do país, recebi uma distinção de "esportista de exceção". Isso me oferece muitas vantagens. Posso ir treinar todo dia no clube e, quando tenho concentração com a seleção, não sou obrigado a ir até a base que me foi designada. Mas estou em uma situação privilegiada, tenho outros amigos que não têm essas vantagens, o que praticamente determina que eles tenham que parar de jogar durante três anos e muitos deles não voltam a jogar mais - revelou.

Gabriel, brasileiro da Sub-19 da seleção de Israel (Foto: Divulgação)Brazuca em serviço na base militar(Foto: Divulgação)

Para os jovens israelenses, é difícil não pensar sobre a possibilidade de participar de uma guerra. No caso de Gabriel, os pais brasileiros utilizaram um exemplo comum no Brasil para ensiná-lo a lidar com a situação com mais facilidade.

- Existe um temor, sim. Mas é como meus pais contam da vida no Brasil, não dá para ficar pensando a cada segundo que podemos ser assaltados numa rua qualquer, senão não daria para viver - explicou.

A nacionalidade brasileira ajuda Gabriel na relação com as pessoas não apenas em Israel como em toda a Europa. Não é difícil notar que o jogador nasceu em terras tupiniquins. Basta vê-lo em campo.

- Ser brasileiro é sempre gostoso no exterior. O pessoal de Israel e da Europa tem um carinho e admiração singular pelos brasileiros. Toda vez que faço alguma jogada bonita, creditam ao fato de eu ser brasileiro. Alguém me disse, após uns jogos amistosos contra uma seleção da Europa: "Você é brasileiro? Eu sabia, você não joga como israelense!" - divertiu-se.

Gabriel, brasileiro da Sub-19 da seleção de Israel (Foto: Divulgação)Gabriel é destaque do sub-19 (Foto: Divulgação)

Apesar da distância e de passar anos longe de sua terra natal, Gabriel mantém a paixão e a vontade de jogar por um clube muito popular do Rio de Janeiro. O problema é que o sonho não é compartilhado por todos na família.

– Gostaria de jogar pelo Flamengo mas meu pai gostaria de me ver jogando no São Paulo - admitiu.