Rio

Depois de 20 anos, vereadores voltam a contar com carro oficial; cada um custará R$ 69,1 mil, mais seguro

RIO - A Câmara dos Vereadores vai gastar mais de R$ 3,1 milhões com a compra de carros e o pagamento de seguros do novo Jetta modelo 2012 da Volkswagen (R$ 69.178,20 a unidade, já com desconto de fábrica). Os carros vêm com câmbio automático e bancos de couro sintético. Os quatro primeiros veículos, de um total de 43, devem chegar esta semana e ser distribuídos por sorteio.

GRÁFICO : Os detalhes da nova frota

O Legislativo tem 51 cadeiras, mas seis vereadores abriram mão da regalia e dois deles não podem usufruir dos carros por estarem presos: Luiz André Deco , acusado de chefiar uma milícias em Jacarepaguá, e Fausto Alves , suspeito de homicídio.

A compra dos veículos foi decidida pela Mesa Diretora, que ressuscitou um benefício extinto há 20 anos. A regalia fora suspensa por determinada da ex-presidente Regina Gordilho, como parte de uma política de austeridade.

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O retorno da frota ocorre pouco mais de um ano depois de o presidente Jorge Felippe (PMDB) ter anunciado que a Casa precisava apertar os cintos para economizar mais de R$ 70 milhões por ano. No ano passado, a Câmara criou um programa de antecipação de aposentadorias e devolveu aos órgãos de origem dezenas de assessores. O corte foi necessário devido à aprovação da emenda constitucional que, em junho de 2009, reduziu o gasto máximo do Legislativo de 5% para 4% dos orçamentos municpais.

Casa já distribui cota mensal de mil litros de combustível

Felippe, que defendeu a nova despesa, nega que haja contradição no fato. Para ele, o carro oficial ajudará no exercício do mandato, aproximando o político da população. Hoje, a Casa tem sete Kombis para atender às demandas dos vereadores no contato com o cidadão.

- Os veículos não serão dos vereadores, mas da instituição. A Casa tem 22 comissões temáticas, que tratam de assuntos de interesse do cidadão. Isso inclui a Comissão de Defesa do Consumidor e a dos Direitos da Pessoa com Deficiência. Queremos que os vereadores estejam mais próximos da população - disse Felippe.

Os carros chegarão emplacados com as mesmas características dos veículos de passeio. Mas, posteriormente, receberão placas de bronze. Os vereadores poderão abastecê-los com a cota de mil litros de combustível mensal a que já têm direito, mas precisarão arcar com a manutenção. Felippe defendeu a ideia de que a população fiscalize o uso dos automóveis e denuncie ao Conselho de Ética da Casa se suspeitar do uso para fins particulares. Vereador argumenta que Alerj tem carro oficial

O vereador Renato Moura (PTC) aprovou a novidade. Ele argumentou que na Alerj todos os deputados têm veículo oficial, sem qualquer problema:

- O carro será um instrumento de trabalho que a Casa vai oferecer. Assim como um laptop. Não vejo motivo para recusar.

Já o vereador Paulo Pinheiro (PPS), ex-deputado, abriu mão do carro, argumentando que há diferenças entre a Alerj e a Câmara:

- Os vereadores exercem seu mandato nos limites do Rio. Na Alerj, é diferente: o deputado precisa viajar por vários municípios. Esses são recursos que, se ficassem no Tesouro municipal, ajudariam a resolver problemas como a falta de leitos na saúde.

Os outros vereadores que informaram oficialmente não querer os carros são: Leonel Brizola Neto (PDT), Eliomar Coelho (PSOL), Andrea Gouvêa Vieira (PSDB), Tio Carlos (DEM), Teresa Bergher (PSDB) e Carlos Bolsonaro (PP). Roberto Monteiro (PCdoB) disse que não fará uso do carro, mas a decisão não foi comunicada oficialmente à Mesa Diretora.

Andrea Gouvêa argumenta que carro oficial não faz falta. Ela critica o gasto, lembrando que recentemente a Casa aumentou os subsídios dos vereadores de R$ 9.228 para R$ 15.031 , por causa do reajuste concedido nas Assembleias Legislativas e no Congresso:

- A prova de que os carros não fazem falta é que, em 20 anos, ninguém deixou de exercer o mandato por causa disso.

Para Tio Carlos, o cidadão já contribui indiretamente com seus deslocamentos:

- Tenho a cota de combustível, embora muitas vezes não seja suficiente, por eu integrar 12 comissões e rodar a cidade toda exercendo o papel de fiscal do poder público. Mas fui eleito sabendo que seria assim.