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Projeto 'novo Barça' de sheik qatari reacende paixão da torcida do Málaga

Fãs estão em lua de mel com dono do clube que tem projeto visionário: elenco forte, novo estádio, complexo desportivo e uniforme 'à la Barça'

Por Rio de Janeiro

É cada vez mais comum ver sheiks árabes comprando clubes europeus. Fãs do esporte, eles torram fortunas apostando em times do Velho Continente. Mas um deles vive um caso de amor com os fãs, incomum entre torcidas e dirigentes. Depois de adquirir o Málaga por € 36 milhões (R$ 82,4 milhões) em junho de 2010, o sheik Abdullah bin Nasser bin Abdullah Al Ahmed Al Thani caiu nas graças dos torcedores e reacendeu a paixão deles pelo clube e pelo esporte.

O projeto megalomaníaco de transformar o time em uma espécie de "Novo Barcelona" passa por uma reformulação completa, e conta com o apoio massivo da torcida. Para o malaguista, Pablo Torres, os fãs tem muito carinho pelo sheik, tanto que fizeram longas filas para se filiar no programa de sócios.

- Penso que cedo ou tarde seremos grandes. Ele é muito sério com esse projeto. O que ele está fazendo pelo clube e pela cidade de Málaga não tem preço. Ele já ganhou a torcida toda, porque a relação é muito boa. No primeiro dia de campanha para novos sócios, a fila no estádio dava voltas, teve gente acampada toda a noite para conseguir se associar logo cedo. Estamos acreditando muito porque é um sonho que virou realidade - disse, em entrevista ao GLOBOESPORTE.COM.

sheik Abdullah al Thani dono malaga (Foto: agência Reuters)Sheik Abdullah Al Thani, o dono do Málaga (Foto: agência Reuters)

Outro fã, Juan Bertin Gutierrez, diz que a cidade se tornou um "continente de felicidade"

- Imagine só? Estão loucos de felicidades. E agradecidos a este homem capaz de transformar uma cidade em um continente de felicidade. Não tem o que dizer, alguém que põe seu patrimônio em dinheiro, sem pedir nada em troca, já merece confiança e respeito. O povo malaguenho o considera um dos nossos. Muitos passaram por aqui e só pensaram em si próprios. Mas este não é o caso. Será em pouco tempo um clube de elite - apostou.

Prova dessa confiança é a quantidade de seguidores do Málaga no Twitter, cerca de 10 mil. Além disso, os fãs esgotaram os dois primeiros lotes de carnês para novos associados. Para o terceiro, já há 500 pessoas na lista de espera, e a diretoria espera ainda mais. Assim que comprou o clube, Al Thani fez uma promessa aos malaguistas. 

- Nossa meta é ajudar o Málaga no que precisar para se consolidar no Campeonato Espanhol e reforçar a excitação e esperança dos torcedores.

fila málaga (Foto: Divulgação/Site Oficial)Foto da fila de fãs para se tornarem sócios
(Foto: Divulgação/Site Oficial)

Na ocasião, torcedores postaram mensagens de apoio ao qatari em um fórum do site oficial do clube. Um deles, apelidado de Golito, deu as boas-vindas ao novo proprietário.

- Bem-vindo à casa da melhor torcida do mundo, em suas mãos está o sonho de fazer um Málaga grande como Deus. Espero que acerte em suas apostas e nos reforços que trouxer. Sorte e espero que o Málaga continue com a fé de sempre. Bem-vindo à cidade da alegria, da fé e da garra.

Além de ser membro da família real do Qatar, Al Thani faz parte da Federação Equestre do país e da diretoria do Doha Bank. Ele também preside, desde 1990, a companhia Nasser bin Abdullah and Sons, e é primo do emir do Qatar, Hamad bin Khalifa Al Thani.

Elenco andaluz de peso

Al Thani está investindo pesado em reforços: são € 98 milhões (R$ 225 milhões) para contratar. O qatari já começou a sua investida por grandes nomes quando anunciou o brasileiro Júlio Baptista (Roma) e o argentino Demichelis (Bayern) em dezembro do ano passado. O jogadores caíram como uma luva na equipe e ajudaram o Málaga a terminar o Campeonato Espanhol na 11ª colocação, após um início ruim.

No fim da última temporada, ele fechou com os holandeses Ruud van Nistelrooy e Mathijsen (Hamburgo), com o francês Toulalán (Lyon) e com o argentino Diego Buonanotte (River Plate), Nacho Monreal (Osasuna). Além disso, o dirigente negocia com o brasileiro Lúcio (Inter de Milão), Lucho González (Marselha), Pastore (Palermo) e Joaquín (Valencia).

Demichelis  Julio Baptista   Van Nistelrooy málaga montagem (Foto: Getty Images)Demichelis, Júlio Baptista e Van Nistelrooy são reforços do Málaga (Foto: Getty Images)

Pablo relatou que os reforços animaram os malaguistas.

- É algo a longo prazo. Os reforços vão ajudar o time, pouco a pouco, a crescer nas mãos do técnico Manuel Pellegrini. Nistelrooy, por exemplo, tem 35 anos e a idade pesa, mas não perdeu o faro de gol. Se receber dentro da área, não perde o gol. Monreal é um dos melhores laterais esquerdos da Espanha, e pode ser substituto de Capdevila na seleção. São grandes jogadores e seguramente darão certo.

O amor ao Málaga já quebrou fronteiras geográficas. O mexicano Edgar Dominguez, que mora na Cidade do México, acompanha de outro continente as contratações do clube do qual é fã.

-  A partir da chegada dele, virou uma ameaça para os grandes da Espanha. Tem bons titulares e grande elenco. Chegou Demichellis, que começou a base do novo time, Julio Baptista, que já jogou em grandes clubes, além de Van Nistelrooy, com muito poderio ofensivo. E já tem mais jogadores interessados no projeto. Acertou também ao contratar Pellegrini, que dará ordem.

Apesar disso, a torcida ainda mantém os pés no chão e evita comparações com o Real Madrid e o Barcelona.

- Creio que um dia, no futuro, talvez não muito longe, o Málaga pode estar lutando com o Real Madrid e o Barcelona. Mas hoje não, são as melhores equipes do mundo, sempre lutam pelo Espanhol - relatou o torcedor.

Espelho do Barça até no patrocínio

Para deixar o Málaga cada vez mais parecido com o clube de Pep Guardiola. O sheik Al Thani tomou uma medida ousada. Ele trocou a marca esportiva Li-Ning pela Nike, a mesma do Barcelona. Quanto ele recebeu por isso? Nada. O qatari pagou para ter o logo da empresa americana na camisa. Mesmo assim, a torcida aprovou a iniciativa.

- É um grande passo trocar a marca esportiva por uma das maiores do mundo - opinou Pablo.

Abdullah Al-Thani málaga camisa (Foto: Agência Reuters)Abdullah Al Thani posa com a camisa 'à la Barça' (Foto: Agência Reuters)

Além disso, o sheik também abriu os cofres para conseguir estampar no peito o símbolo da Unesco, órgão responsável pela cultura e educação na ONU. O Barça tinha na parte frontal do uniforme o logo da Unicef, ligada ao apoio à crianças do organismo. Agora, o time de Messi & cia, tem um novo patrocínio: a Qatar Foundation, mas continuará com a Unicef nas costas.

Caldeirão moderno à vista

Em 2010, assim que a Espanha anunciou a candidatura ibérica, junto com Portugal, para sede da Copa do Mundo de 2018, o sheik ficou interessado e lançou um projeto para um novo estádio do Málaga. Mas mesmo após a derrota para a Rússia, que sediará o torneio, o qatari não abandonou a ideia de ter um moderno caldeirão, com capacidade para 65 mil pessoas.

Inicialmente, o projeto imitaria o estádio do Real, Santiago Bernabéu, que tem espaço para cerca de 80 mil torcedores, mas Al Thani resolveu contactar um dos arquitetos responsáveis pelos novos estádios da Copa do Mundo do Qatar, em 2022, em busca de algo inovador.

estádio málaga (Foto: Divulgação/Site Oficial)Projeto do novo estádio do Málaga: design inovador (Foto: Divulgação/Site Oficial)

O chamado "Qatar Stadium" tem um orçamento que gira em torno de € 200 milhões (R$ 454 milhões), mas segundo o jornal local "Sur", o valor pode aumentar ainda mais. Segundo o jornal "Málaga Hoy", ele também adquiriu uma área próximo ao local onde ficará o estádio para construir a "cidade esportiva do Málaga", um complexo de 120 mil metros quadrados. Na ocasião, o proprietário se mostrou empolgado com o projeto.

- Com o Qatar nomeado sede da Copa do Mundo de 2022, quero construir um estádio que terá o nome do meu país. É o primeiro desse tipo e a capacidade será de 65 mil espectadores. Será o terceiro maior da Espanha, depois de Real e Barça (98 mil pessoas). Isso se o Atlético de Madri não construir mesmo o estádio que querem, para 73 mil pessoas. Mesmo assim, isso será um grande objetivo para um clube modesto como o nosso - concluiu.

Málaga: um Manchester City espanhol

Apesar de se espelhar no Barcelona, o projeto do sheik Al Thani lembra o de outro clube do Velho Continente: o Manchester City. Em setembro de 2008, o time inglês foi comprado pelo sheik árabe Mansour bin Zayed bin Sultan Al Nahyan, que colocou Khaldoon Al Mubarak como presidente da equipe. A chegada de Mansour foi marcada pela badalada contratação do atacante brasileiro Robinho, que deixou o Real Madrid, em uma transação avaliada em € 40 milhões (R$ 90,9 milhões).

Mas o City só iria conseguir títulos na temporada 2010/2011. O primeiro foi a FA Cup. Além disso, a campanha dos citizens ainda foi premiada com a terceira colocação na Premier League, e a vaga na Liga dos Campeões da Uefa. Atualmente, a equipe começa a brigar com os rivais United, Arsenal e Liverpool, mas o projeto do sheik demorou pelo menos dois anos para dar resultado.