Edição do dia 23/05/2011

24/05/2011 00h57 - Atualizado em 24/05/2011 01h43

Série especial mostra desafios no crescimento do ensino superior

‘Universidade, chave do futuro’ mostra como está a estrutura das universidades para formar um número crescente de brasileiros que ingressam no ensino superior.

Rodrigo Alvarez

 Símbolo de status, de emprego e de vida melhor, o diploma universitário está hoje ao alcance de um número recorde de brasileiros. Mas as faculdades brasileiras atendem às necessidades e esperanças dos estudantes? O desafio de formá-los está na série "Universidade, chave do futuro".

"Dizem que eu estou com um brilho diferente nos olhos e eu acredito que sim, porque agora eu acredito também em mim, eu acredito muito que eu sou capaz”, diz a estudante de serviço social, Carla Tavares.

Mais de cinco milhões de brasileiros nas universidades. Presenciamos um momento histórico depois de mais de uma década de explosão nas matrículas no ensino superior. Se o Brasil tem pressa para crescer, tem urgência na formação de profissionais. Será que as nossas escolas estão formando corretamente? Qual o papel da universidade?

"Começou assim, eu trabalhava em obra, trabalhava como servente, lavando banheiro químico”, conta o estudante de engenharia, Franklin Salvador.

Mesmo depois do supletivo, do curso técnico e da promoção, Franklin achava impossível subir ao mundo dos doutores e bacharéis. "Faculdade, universidade, eu nem pensava, jamais, eu pensava que não era pra mim, pensava que era pra filhinho de papai”.

Mas aquele era outro Brasil. Depois que a economia deu um salto, milhões de brasileiros descobriram na universidade o melhor caminho para continuar subindo. Ergueram-se escolas gigantes.

O número de faculdades se multiplicou pelo país. O de universitários triplicou em apenas  15 anos e quem alimentou essa expansão foram  particulares. Donas hoje de 70% ddas matrículas.

"Shopping Centers de ensino", gritam os críticos. Sim, existe clima de liquidação. O valor das mensalidades muito nas últimas décadas.

Mas é consenso no setor que as faculdades precisam crescer e devem cumprir o papel de preparar os jovens para o mercado de trabalho.

“O que a universidade contribui para mover a economia de um país é a boa educação que ela faz pros estudantes”, diz diretor científico da Fapesp, CarlosHenrique de Brito Cruz.

"Nós temos que na verdade atender a uma variedade maior de estudantes com vocações diferentes e que se encaminhem pra vida com multiplicidades de novas ocupações que estão sendo criadas a cada dia”, fala a pesquisadora da Usp, Eunice Ribeiro Durcham.

"O perfil do nosso egresso é uma pessoa que esteja voltada pra imediata inserção no mercado de trabalho”, explica o coordenador de engenharia da Estácio de Sá, Jorge Luis da Rocha.

Mas está dando certo? Eles estão saindo preparados? Em fevereiro, o Jornal da Globo publicou a série Emprego, sobre mercado de trabalho no Brasil. Mostrou empresas com tanta dificuldade para contratar que apelavam para ex-funcionários aposentados ou corriam para roubar mão de obra dos concorrentes ou buscavam até na Alemanha e Japão o candidato que não encontravam.

No setor industrial, por exemplo, 69% das empresas têm dificuldade para encontrar profissionais qualificados e se for comparar o Brasil com uma indústria, é como se máquinas estivessem à espera de alguém que saiba usá-las para multiplicar a produção. E se os universitários não preenchem as vagas é por falta de qualidade no ensino superior.

Há sete anos, o Ministério da Educação reforçou o controle de qualidade com a criação do Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes - o Enade. Mas os resultados ainda estão longe do ideal.

Como acontece na escola, as instituições de ensino superior no Brasil passam por uma prova anual. A escala vai de um a cinco. As notas um e dois são como médias vermelhas no boletim escolar. E é o nível alcançado por quase metade das faculdades particulares, avaliadas em 2009. As melhores notas ficam com as públicas, mais de 30% delas tiveram boa avaliação, contra menos de 5% das privadas.

“É uma situação de inércia de baixíssima qualidade, mas em que todo mundo está feliz e esse é o problema. Se você não tem uma educação de bom nível, você jamais vai ter uma economia desenvolvida e isso precisa ser tanto na educação básica como cada vez mais hoje no ensino superior”, afirma o economista especializado em educação, Gustavo Ioschpe.

Visitamos a maior instituição de ensino superior do Maranhão. "Toda comissão do MEC que vem aqui, o nosso ponto que temos q melhorar é pesquisa, porque é um estado em que não tem”, conta Marcos Barros e Silva, pró-reitor acadêmico da Uniceuma.

Com falta de pesquisadores no Nordeste, a Uniceuma tenta atrair profissionais até de fora do Brasil. Investiu em infraestrutura e aumentou o salário inicial dos professores-doutores, segundo o reitor, para R$ 12 mil.

A direção da Universidade mostrou o curso de medicina que recebeu nota quatro do MEC, numa escala que vai de um a cinco. A nota que ele se refere é da avaliação in loco. Mas, segundo o Mec, o índice mais importante é o de qualidade do curso, que leva em conta as instalações da faculdade, como os professores dão as aulas e o desempenho dos alunos.

Com duas avaliações diferentes, as universidades, é claro, escolhem a nota mais alta para falar do seu curso. Ainda assim, notas baixas costumam resultar em cursos melhores.

"Está se incorporando nas públicas e nas privadas essa cultura de avaliação", fala o secretário de ensino superior do Mec, Luiz Cláudio Costa.

O frio na barriga continua a cada degrau e é bom que fique claro que nada diminui o mérito de alunos como Carla Tavares, 38 anos, costureira durante o dia e realizadora de sonhos, durante a noite. "Quando você não chega à uma universidade, você não acredita que você é capaz de realizar, capaz de conquistar e agora percebi que sou capaz disso e de muito mais", diz Carla.