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Cidade da moda, Milão se torna uma das capitais do futebol brasileiro

O ‘SporTV Repórter’ foi à Itália mostrar o que representa um clássico entre Milan e Inter e conhecer histórias de brasileiros que vivem no país

Por Rio de Janeiro

O "SporTV Repórter" viajou a Milão, na Itália, para explicar como a capital da moda e do design tornou-se também uma das cidades mais poderosas do futebol mundial. Juntos, os dois grandes times locais, Inter e Milan, somam dez títulos da Liga dos Campeões e sete Mundiais de clubes. Essas duas superpotências formam há cem anos uma das maiores rivalidades esportivas do planeta.

- Acho que nenhuma outra cidade tem outros dois times tão importantes quanto Milão. Isso faz com que aqui exista uma competitividade constante, que faz com que a cidade viva em ebulição – afirma Leonardo, atual técnico do Internazionale.

Uma rivalidade que começou em 1910, mas que em 1926 foi acentuada com a criação do estádio San Siro. Criado na época para abrigar o Milan, em 1946 também se tornou casa do Inter de Milão. Em 1980, o principal palco do duelo entre as duas equipes foi rebatizado, com o nome de Giuseppe Meazza, em homenagem ao jogador que passou pelos dois clubes, mas que fez mais sucesso no Inter. Para os torcedores do Milan, o estádio continua com o mesmo nome de sempre, San Siro. Com capacidade para 80 mil pessoas, o estádio lota para a partida mais importante: o Derby della Madonnina, o clássico entre Inter de Milão e Milan.

No último duelo, válido pela 31ª rodada do Campeonato Italiano, Milan venceu por 3 a 0 e disparou na liderança do campeonato, que conquistaria. O nome do jogo, com dois gols, foi o atacante brasileiro Alexandre Pato, que saiu de campo ovacionado pela torcida.

Ligação antiga com o Brasil

Como não poderia deixar de ser em um local que respira futebol, Milão também tem uma ligação forte e antiga com o Brasil. De José Altafini, o Mazzola, no final dos anos 50, aos jovens Alexandre Pato e Philippe Coutinho, os brasileiros sempre fizeram sucesso na cidade italiana.

Atualmente, Inter e Milan têm juntos um treinador e sete jogadores brasileiros. Na equipe rubro-negra são três: Thiago Silva, Robinho e Alexandre Pato. Do outro lado, no maior rival, Júlio César, Maicon, Lúcio e Philippe Coutinho, além do técnico Leonardo. Muitas vezes, são estes jogadores os principais responsáveis pelas vitórias e conquistas das equipes.

Chamado de "Judas" pela torcida do Milan, por ter se tornado técnico do rival Internazionale, o brasileiro Leonardo, ex-jogador do Rubro-Negro, explica porque os brasileiros fazem tanto sucesso na Itália.

- Eu acho que italianos e brasileiros têm uma história comum muito bacana. Com as histórias que Milão viveu nos últimos anos com Júlio César, Maicon, Lúcio, com o (Philippe) Coutinho que está chegando e é uma grande esperança. Histórias de dez anos pra cá, como Ronaldo, o Rivaldo... Tem tem várias histórias que com certeza contribuíram para que essa paixão entre brasileiros e italianos aumentasse.

Boa adaptação em Milão

Além da paixão pelo futebol brasileiro, a boa recepção do povo italiano e as boas condições de trabalho nos clubes aumenta ainda mais essa parceria de sucesso. Com centros de treinamentos de alto nível, com restaurante, sala de estar e de imprensa, e instalações modernas, estes clubes são os sonhos de consumo de jogadores.

- Tem tudo, tem comida, dormitórios, tem tudo aqui. Te deixa muito tranquilo para fazer o que a gente sabe, que é jogar futebol – afirmou Pato, atacante do Milan.

A estrutura dos times, porém, não é a única explicação para o sucesso dos brasileiros em Milão. Bem adaptados à cultura local, os jogadores comemoram a semelhança entre a cidade e o Brasil.

Milão é muito parecido com o Brasil. Tirando o frio, não tem muita diferença."
Thiago Sila, zagueiro do Milan

- Milão é muito parecido com o Brasil. Tirando o frio, não tem muita diferença. Tem churrascaria, a gente come muito bem. Tudo quanto é prato a gente come . Você não tem preocupação, você chega aqui e se sente muito tranqüilo, muito à vontade - explicou o zagueiro Thiago Silva.

Além do futebol, a cidade de Milão também respira moda. E os jogadores, acostumados a se dar bem com a bola nos pés, não ficam alheios às tendências do mundo fashion. Ex-jogador das duas grandes equipes de Milão, Ronaldo Fenômeno relembra os anos em que viveu na cidade.

- Obrigatoriamente a gente acompanha o mundo fashion em Milão, o grande centro de moda no mundo. Os clubes têm acordo de parceria com grandes marcas e oferecem muitos descontos aos jogadores. Então eles passam a se vestir melhor.

As brincadeiras com as roupas dos jogadores passaram a fazer parte do dia a dia do Fenômeno em Milão.

- O dia que algum jogador ia com uma roupa mais chamativa, normalmente a gente pegava o cabide com a roupa, pendurava em um lugar de destaque no vestiário ou até mesmo no campo para sacanear o jogador que estava vestindo.

Desde que chegaram à cidade, Robinho, Pato e Thiago Silva passaram a cuidar mais do visual para tentar fugir de provocações.

- Eu dei uma melhorada, viu? Porque aqui os caras cornetam se você chega mal vestido"
Robinho, sobre a moda em Milão

- Eu dei uma melhorada, viu? Porque aqui os caras cornetam se você chega mal vestido, colocam dinheiro no bolso, e Milão é a terra da moda – disse Robinho, se referindo ao costume dos jogadores, que dão dinheiro para ajudar o companheiro a ‘comprar uma roupa melhor’.

Atletas em boa forma física, os jogadores são vistos como ótimos modelos e às vezes trocam suas vidas dentro de campo pelas passarelas.

- Aqui a gente recebe bastante proposta, até porque jogador de futebol sempre tem, a maioria, um corpo legal, barriga tanquinho. No Milan, tem um patrocínio que paga, então você acaba tirando uma foto mais sensual. As pessoas pegam no pé. Não é bem a minha, pagar de modelinho assim. Mas de vez em quando tem que fazer. Eu faço as fotos normais - ressaltou Robinho.

Brasileiros em Milão

Seguindo o mesmo caminho, Bruno Cabrerizo foi para Milão tentar a vida no futebol, mas conseguiu um emprego de modelo e hoje é um grande sucesso na Itália. Além das inúmeras campanhas espalhadas pelo país, o brasileiro pode ser visto semanalmente na televisão. Ele é um dos participantes do quadro "Dança dos Famosos" de uma televisão local. Assim como Bruno, são cerca de 50 mil brasileiros em Milão. Muitos não jogam bola, mas trabalham diretamente com o futebol.

Há 17 anos na cidade italiana, Clóvis deixou o interior do Rio Grande do Sul para trabalhar em uma churrascaria. O garçom passou a conviver com diversos jogadores que queriam matar as saudades do Brasil com um churrasco gaúcho.

- Quando eu cheguei na Itália, eu tive muito contato com os jogadores, Roberto Baggio, George Weah, Pagliuca, eles frequentavam a churrascaria que eu trabalhava. O Ronaldo Fenômeno ia lá jantar e depois ficava tomando cerveja com a gente e jogando porrinha. Ronaldo era uma pessoa simples, muito bacana.

Atualmente, Clóvis, além de trabalhar a noite como garçom no restaurante, é motorista do goleiro Júlio Cesar.

Há sete anos trabalhando nos principais hotéis milaneses, a brasileira Giovana Giosa relembra passagens memoráveis e festas de jogadores nos hotéis.

- Um hóspede célebre num desses hotéis que eu trabalhei era o Adriano. Ele vinha bastante, com muita freqüência. Fazia essas festinhas privadas dele, era um problema porque no dia seguinte ele ia treinar e deixava convidados que, às vezes nem ele conhecia direito. (...) Muitas vezes não eram os próprios jogadores, mas os convidados deles que faziam estragos no hotel, a piscina da suíte cheia de latinha de cerveja boiando no dia seguinte, tinha que limpar, esvaziar, cortina queimada de cigarro e mais. Mas faz parte - relembra Giovana.

Um anônimo no meio dos famosos. Adílson ganha a vida em Milão trabalhando para jogadores brasileiros. Atualmente, seu patrão é o Thiago Silva.

- No meu primeiro ano, que eu fiquei seis meses sem jogar, eu ia a todos os jogos do Milan e normalmente eu ia sempre com ele. Essa amizade foi aumentando de uma tal forma que hoje a gente sente muito seguro tendo o Adílson para trabalhar – explicou o zagueiro.