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Dirigente inglês levanta suspeita sobre Teixeira e membros da Fifa

Ex-presidente da Federação Inglesa afirma que dirigentes pediram vantagens na disputa pela Copa de 2018. CBF responde em nota

Por Londres

O ex-presidente da Federação Inglesa de Futebol (FA), o lorde David Triesman, fez uma grave acusação nesta terça-feira, em Londres. Segundo o dirigente, quatro membros do comitê executivo da Fifa teriam pedido vantagens para apoiar a candidatura da Inglaterra à Copa de 2018, que foi derrotada pela Rússia. Os alvos do dirigente foram Jack Warner (presidente da Concacaf, a confederação das Américas do Norte e Central), Nicolas Leoz (presdidente da Conmebol, confederação da América do Sul), Ricardo Teixeira (presidente da CBF e do COL, o comitê organizador do Mundial de 2014), e Worawi Makudi, representante da Tailândia na Fifa.  As informações foram divulgadas pela BBC (veja no vídeo ao lado).

No caso de  Ricardo Teixeira, o dirigente inglês disse ter interpretado uma frase do brasileiro como pedido de vantagem.

- Teixeira me disse "Lula não é nada, você venha e me diga o que você tem para mim. Entendo, claro, que isso possa ser ambíguo o suficiente para se referir a uma variedade de coisas - mas achei uma maneira surpreendente e chocante de falar - porque seria fácil interpretar - disse Triesman.

Contra os outros dirigentes, as acusações foram mais objetivas. Leoz teria pedido uma indicação para virar sir (cavaleiro) do Reino Unido. Já Warner teria pedido dinheiro para construir um centro de ensino em Trinidad e Tobago e para comprar direitos de TV do mundial. Makudi também teria pedido direitos de TV do Mundial. 

Lord Triesman, ex-diretor da FA Cup (Foto: Getty Images)Lord Triesman, ex-diretor da FA Cup (Getty Images)

Triesman, disse que vai levar às acusações até o alto escalão da Fifa, e classificou a atitude dos dirigentes como "eticamente inaceitável". O ex-presidente da FA afirmou ainda que os membros do comitê da Inglaterra deveriam ter informado a atitude de alguns dirigentes de forma imediata, o que acabou não ocorrendo. Além da Rússia, que vai ser sede em 2018, o Qatar foi escolhido para receber o Mundial de 2022. 

Na noite desta terça, a CBF publicou em seu site um comunicado oficial de Teixeira, que nega as acusações, diz que nunca esteve com Triesman e anuncia que vai processá-lo pelas "absurdas declarações que na verdade buscam esconder seu fracasso na condução da candidatura da Inglaterra, que só obteve um voto além do dado por ela mesma". 

Triesman mal pôde acompanhar a candidatura inglesa. Em maio de 2010, pouco após o lançamento da mesma, o dirigente - que é casado -  enfrentou um escândalo que forçou sua renúncia: uma amante de 37 anos gravou uma conversa em que Triesman dizia que a Espanha tentaria subornar juízes na Copa de 2010 com ajuda da Rússia. 

Apesar de estar disposto a levar o caso à frente, o ex-dirigente admitiu que a acusação não deverá dar em nada dentro da Fifa. Segundo Triesman, a federação inglesa não fez as acusações anteriormente por medo de uma represália contra a candidatura da Inglaterra. O presidente da Fifa, Joseph Blatter, prometeu apurar os fatos para tomar as atitudes cabíveis contra os acusados.

- Eu fiquei chocado, mas é preciso ver as provas. Eles (membros acusados) estão vindo de outras confederações, por isso não posso dizer que são todos anjos ou demônios. Vamos agir contra todos que violaram as regras do código de ética - disse Blatter, afirmando que os membros do comitê executivo não foram eleitos em um pleito como ele.

Triesman detalhou os pedidos feitos pelos membros da entidade. Segundo o ex-presidente da FA, Jack Warner, atual vice-presidente da Fifa, pediu cerca de R$ 6,5 milhões para construir um centro de ensino em Trinidad e Tobago, além de R$ 1,3 milhão para comprar os direitos de televisão do Mundial para serem transmitidos no Haiti, nação atingida por um terremoto no início do ano passado.  O paraguaio Nicólas Leoz, presidente da Conmebol, teria pedido para receber o título dado aos nobres, personalidades ou cidadãos britânicos por serviços prestados à rainha ou à Inglaterra. Em nota oficial, a Conmebol afirmou que sempre apoiou à candidatura ibérica (Espanha e Portugal, que acabou derrotada) e lamentou profundamente as acusações.

Por outro lado, o tailandês Waziri, além dos direitos da Copa de 2018, teria pedido também direitos de um amistoso a ser realizado entre Inglaterra e Tailândia. Em entrevista à Sky Sports, Warner disse que as acusações feitas contra ele por Triesman eram "um pedaço de bobagem".

- Eu nunca pedi nada a Triesman nem para outras pessoas por meu voto. Estou na Fifa há 29 anos e isso vai surpreender muita gente - disse.

No ano passado, pouco antes da escolha das sedes da Copas do Mundo de 2018 e 2022, em reportagem da imprensa inglesa, dois membros do comitê executivo foram acusados de aceitar propina por seus votos. Na época, Issa Hayatou, de Camarões, e Jacques Anouma, da Costa do Marfim, foram envolvidas e afastados da escolha das sedes.