04/10/2011 09h07 - Atualizado em 04/10/2011 14h02

'A gente ganha mais dinheiro', diz temporária que trabalha em cruzeiros

A bordo de navios, assistente de garçonete conheceu cerca de 14 países.
Série do G1 dá dicas sobre como conseguir emprego temporário.

Roseane AguirraDo G1, em São Paulo

Selo de temporários - 2º dia - cruzeiros (Foto: Editoria de Arte/G1)

“Eu conheci por volta de 14 países e mais de 30 cidades, entre eles Croácia, Rússia, Egito, Israel, Itália, Grécia, Espanha, França, Turquia e outros que não lembro o nome”, conta a assistente de garçonete Luana de Oliveira Silva, de 25 anos, que trabalhou em dois contratos temporários em cruzeiros internacionais e, neste mês, vai para seu terceiro contrato, pelo Mar Mediterrâneo, África e Ásia. Apesar do "glamour", o trabalho em navios dura em média seis meses e exige ficar longe da família e de amigos. Por outro lado, os salários costumam ser mais altos que em terra e são pagos em dólar.

(Série Como conseguir um emprego temporário: o G1 publica nesta semana reportagens com exemplos de pessoas que têm trabalhos desse tipo e dicas de onde e quando procurar, os direitos dos temporários, entre outros tópicos.)

“A gente faz mais dinheiro, até porque não temos os gastos comuns em terra, como conta de água, luz, aluguel, telefone e condução. Claro que pagamos para falar com o mundo exterior do navio, com internet e telefonema externo, e gastamos com kit de higiene, mas de resto é tudo seu”, diz Luana, que recebe salários de US$ 1.200 a US$ 1.300, variando conforme a companhia e a lotação do navio.

Mas, segundo ela, a maior recompensa é conhecer o mundo sem gastar nada. “Um dia eu dormi na Grécia e acordei com um sol maravilhoso na Itália. Também tive a oportunidade de ver na Antártida o sol da meia-noite. Eram 15 para a meia-noite e tinha um pôr-do-sol maravilhoso de um lado e a lua do outro. Para mim, foi o máximo. Não tem dinheiro que pague.”

O início
Com um inglês intermediário e alguma experiência como garçonete de bufê, Luana embarcou pela primeira vez em maio de 2010, na Itália. “Eu achei que ia querer chorar, ir embora, querer morrer, mas não, o pessoal me ajudou muito. Eu sempre tive sonho de trabalhar fora, mas, como a situação da minha família não era muito satisfatória, tive que procurar outras formas de ir. Meu inglês era mais ou menos, então procurei um curso específico de inglês para área de restaurante.”

Após o término do primeiro contrato, em novembro passado, Luana teve 2 meses de férias e embarcou pela segunda vez em janeiro, mas diz ser difícil pensar sobre a saudade da família. “Você fica naquela escala frenética de trabalhar 12 horas por dia, acorda às 6h da manhã, vai trabalhar, aí, quando você deita na cama, só dorme. Às vezes a gente vai para o bar para relaxar, mas pensa que já tem que dormir, para acordar cedo no dia seguinte, às 5 da manhã”, explica. Para enfrentar a rotina pesada de trabalho, a jovem tem a ajuda do namorado, também empregado no navio.

Sem fim de semana
Colocando na balança os prós e contras da experiência, Luana afirma que o esforço vale a pena. “O único contra nessa vida é que você trabalha seis meses apertados, sem fim de semana, trabalhando todo santo dia e às vezes até doente. Mas você vai conhecer os lugares e ter férias de dois meses que vai até se cansar. Depois que acabar o contrato, você pode descer na África do Sul, por exemplo, e ficar mais uns dias para passear. Acho ótimo, não tem como reclamar.”

Luana de Oliveira Silva temporária (Foto: Arquivo pessoal)Para Luana, maior recompensa é conhecer o mundo sem gastar nada (Foto: Arquivo pessoal)

Os passeios durante o trabalho podem ser feitos nas horas de folga, já que não há sábados e domingos de descanso. “Normalmente você trabalha de manhã, depois, na hora do almoço, tem um tempo vago; dependendo da escala tem 3 horas para passear. E a gente tem um psicólogo a bordo que, nesses intervalos, monta um tour com a gente”, conta Luana. “No Egito, por exemplo, o porto é muito longe das pirâmides, quase três horas de viagem. E eles liberaram para a gente conhecer também junto com os passageiros, foi muito legal.”

O que diz o recrutador
Marcelo Del Bel, gerente de recrutamento para cruzeiros da agência Infinity Brazil, concorda com Luana sobre a compensação financeira ser atraente nesse tipo de trabalho temporário. “Acredito que a maioria das funções ganha mais em navio, fora o beneficio de ter disponível o salário inteiramente pra você”, diz.

Os salários, que começam entre US$ 580 e US$ 600 dólares para funções operacionais, geralmente ligadas a limpeza, chegam a US$ 1.800 dólares para cargos que incluem contato com o público e podem ultrapassar esse valor, ainda mais com a possibilidade de fazer trabalhos extras e aumentar os ganhos. “Compensa mesmo ficando dois meses de férias, sem receber”, afirma Del Bel.

Assim como Luana, o gerente afirma que os ganhos são maiores do que apenas financeiros. “Você está aprimorando seus conhecimentos do inglês, eventualmente conhecendo um segundo ou terceiro idioma, conhece no mínimo oito países por contrato e está em contato com cerca de 45 nacionalidades que trabalham dentro do navio: são ganhos sem valor.”

Para a área de turismo e hotelaria, Del Bel afirma que trazer a experiência para o Brasil aumenta muito o valor do profissional e melhora os serviços de qualquer estabelecimento. “A pessoa volta com uma bagagem internacional, de atendimento superior que eles praticam, de governança, recepcionista, qualquer coisa, padrão internacional de qualidade, mais o aprimoramento da língua. Então, aqui sabem que ela não vai fazer corpo mole.”

Não é para todos

Apesar das vantagens, nem todos os candidatos possuem o perfil procurado pelas companhias. “Precisa ter postura, personalidade agradável, boa comunicação, espírito de querer entreter uma pessoa e aparência de hotelaria. Se chega um candidato com piercing ou o cabelo do Neymar, pode ser bonitinho para trabalhar em outro lugar, mas aqui vai ser desconsiderado", explica Del Bel. Outro ponto importante é o domínio do inglês. “Normalmente a gente pede inglês, se ela tiver muita dificuldade para falar eu já não considero esse candidato, o inglês é o calcanhar de Aquiles para muitos, cerca de 30%.”

É com a experiência internacional adquirida que Luana conta ao pensar no futuro profissional. “Pretendo fazer mais uns três contratos pra agarrar um dinheiro e depois montar um negócio legal. Eu e meu namorado, depois que a gente se juntou, começamos a pensar no futuro. Eu não gostaria de ficar por aqui, eu gosto de aventura e ele também, então a gente está interessado em morar fora, mas continuar na área de turismo.”

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