17/09/2011 07h17 - Atualizado em 17/09/2011 08h40

Quase 5 mil famílias temem despejo por obra da Copa na Zona Leste de SP

Comunidades reclamam da falta de informações sobre eventuais mudanças.
Prefeitura afirma que não haverá desocupações por conta das obras.

Raphael PradoDo G1 SP

A dona de casa Diana do Nascimento, que mora em seis numa casa simples da Favela da Paz, tem medo de ser despejada para a construção de um Terminal Rodoviário de acesso ao estádio (Foto: Raphael Prado/G1)A dona de casa Diana do Nascimento, que mora em seis numa casa simples da Favela da Paz, tem medo de ser despejada para a construção de um Terminal Rodoviário de acesso ao estádio (Foto: Raphael Prado/G1)

Moradores de cinco comunidades da Zona Leste de São Paulo estão preocupados desde que as obras do estádio do Corinthians começaram em Itaquera, em maio. Quase 5 mil famílias, segundo a União dos Movimentos de Moradia de São Paulo, temem ser despejadas para dar espaço a obras viárias e de infraestrutura para acesso à arena.

Há quatro meses a associação Movimento Nossa Itaquera tenta, junto à Prefeitura, saber quais serão as obras no entorno do estádio, quando elas começarão e qual o destino das famílias que vivem ali. Mas a ONG diz que o poder público não responde às contestações. Líderes comunitários dessas áreas decidiram se reunir neste sábado (17) com a Defensoria Pública do Estado para pedir que seja cobrada judicialmente uma resposta da administração municipal.

Na Favela Três Cocos, onde, segundo a Prefeitura, apenas 30% das casas têm saneamento básico e a coleta de lixo é parcial, o temor dos moradores é que a necessidade de alargar a Avenida Itaquera exija a remoção dos barracos. A via é um dos principais acessos ao futuro estádio, que pode abrir o Mundial de 2014.

A diarista Maria das Graças da Silva posa em frente à casa que pode perder para o alargamento da Avenida itaquera (Foto: Raphael Prado/G1)A diarista Maria das Graças da Silva posa em frente
à casa que pode perder para o alargamento da
Avenida itaquera (Foto: Raphael Prado/G1)

O frentista Damião da Silva, que mora na comunidade há 15 anos, começou uma reforma em casa, mas interrompeu as mudanças. "Para que continuar construindo se eu não sei se vou ficar?", diz. A diarista Maria das Graças da Silva, vizinha do frentista, conta o motivo de tanta preocupação: "Nós queremos casa aqui perto, não queremos ir pra longe, não. A gente acostumou a morar aqui."

Em Cidade AE Carvalho, alguns dos barracos são quase palafitas, construídos sobre uma área alagada. Ao menos 520 imóveis estão nesta área. A preocupação é que haja despejo para a expansão da Radial Leste, que margeia um dos lados do estádio. Há 23 anos na ocupação, o pedreiro José Sebastião diz que não vai aceitar qualquer valor de indenização, caso tenha que sair. "Como ele [o governo] arrumou um monte de dinheiro pra ajudar o Corinthians ali, ele vai ter que arrumar casa pro povo aqui", afirma.

Foram concedidos R$ 420 milhões em incentivos fiscais pela Prefeitura para a obra do estádio em Itaquera. O governo do estado contribuirá com R$ 70 milhões para o aluguel de uma estrutura móvel de arquibancada para atingir o mínimo de lotação exigido pela Fifa numa eventual abertura da Copa em São Paulo.

Moradores de outras três comunidades dizem se sentir ameaçados de despejo pelas obras que vão facilitar o acesso ao estádio: Favela da Paz, Viela Boa Vista e Caititu.

Sem remoção
A Prefeitura afirma que prevê investir, junto com o governo do estado, R$ 478 milhões em obras estruturais na Zona Leste, entre elas a melhoria de acessibilidade ao Metrô e aos trens, um fórum, uma rodoviária, escolas técnicas, postos da Polícia Militar e bombeiros e um Parque Linear.

Nenhuma dessas obras, no entanto, de acordo com a Prefeitura, deve desalojar famílias. Em nota, a Secretaria de Comunicação do governo municipal diz que "a área onde os equipamentos estão previstos de serem implantados é pública e encontra-se desocupada". Sobre os prazos, afirma: "A previsão de conclusão da Fatec (Faculdade de Tecnologia) é no primeiro semestre de 2012. Já o Terminal Rodoviário deve ficar pronto até o final de 2013. Os demais equipamentos encontram-se em diferentes estágios de desenvolvimento de seus projetos".

Segundo a Prefeitura, nenhuma das obras viárias representará despejo das famílias que vivem nas comunidades do entorno de Itaquera. As mudanças que serão feitas, segundo a Secretaria de Comunicação, são:

- Novas alças de ligação no cruzamento da Avenida Jacu-Pêssego com a Avenida José Pinheiro Borges (Nova Radial);
- Nova avenida de Ligação Norte-Sul, no trecho entre a Avenida Itaquera e a Nova Radial, incluindo as transposições em desnível sobre as linhas do Metrô e da CPTM;
- Avenida articulando a Ligação Norte-Sul com a Avenida Miguel Inácio Curi, junto à adutora da Sabesp existente;
- Adequação viária no cruzamento da Avenida Miguel Inácio Curi com a Avenida Engenheiro Adervan Machado;
- Passagem em desnível na Rua Dr. Luis Aires (Radial Leste), no trecho em frente às estações do Metrô e da CTPM.

Em nota, a administração municipal afirma: "Não está prevista remoção em nenhuma das obras supracitadas. Também é infundada a preocupação dos moradores da Favela da Paz com relação ao Terminal Rodoviário, já que sua implantação está prevista em área contígua a estação de metrô Corinthians-Itaquera e também não acarretará em remoções".

Mapa das áreas que podem ser removidas pelo estádio do Corinthians (Foto: Arte/G1)
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