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Meu Jogo Inesquecível: Nasi e o São Paulo herói contra o Guarani em 1986

Aposentando visual Wolverine, cantor, que participou com o Ira! do Rock in Rio 3 em 2001, recorda garra tricolor para obter vitória de gibi nos pênaltis e o título

Por Rio de Janeiro

Não era um filme ou desenho animado, mas foi pela televisão que o cantor Nasi, ex-vocalista do Ira! e ‘clone’ do personagem dos quadrinhos americanos Wolverine, viu o São Paulo dar uma de herói na final do Campeonato Brasileiro de 1986. Na ocasião, o Tricolor perdia para o Guarani por 3 a 2, já no segundo tempo da prorrogação, quando se inspirou nos roteiros épicos do cinema e tirou uma carta da manga no último instante: com um gol de Careca no minuto final, o time empatou o jogo e levou a decisão para os pênaltis, onde saiu vencedor nas cobranças, conquistou o bicampeonato brasileiro e garantiu o final feliz da trama para sua torcida.

jogo inesquecível Nasi ex-Ira! são paulo (Foto: Alexandre Durão / Globoesporte.com)Fã de Rogério Ceni, cantor já foi goleiro de futebol na infância (Foto: Alexandre Durão / Globoesporte.com)

- Poderia citar vários jogos, mas esse foi especial pela emoção. Eram dois timaços. O São Paulo tinha Careca, Gilmar, Muller, Zé Sérgio... E o Guarani também, com Evair, João Paulo... Um dos melhores elencos que o Guarani já teve. O São Paulo só levou o jogo para os pênaltis com um gol do Careca no último minuto. Foi emoção do início ao fim, pois foram viradas sucessivas e até os pênaltis foram bem disputados - analisou o músico, que já sentiu também o arrepio de tocar para multidão no Rock in Rio 3, em 2001, com o já extinto Ira!.

Folha de São Paulo: São Paulo bicampeão brasileiro em 1986 (Foto: Reprodução)Capa da Folha de São Paulo, no dia seguinte, dá
destaque ao título do Tricolor (Foto: Reprodução)

De fato, a final do Brasileiro foi tão equilibrada entre as duas equipes que até o número de gols contra foi igual para os dois lados. A começar por Nelsinho, do São Paulo, que ao tentar cortar o cruzamento de Zé Mário mandou contra o próprio patrimônio, aos dois minutos de jogo. Mas o Guarani não tardou a devolver a gentileza: aos nove, após cobrança de escanteio, Bernardo cabeceou, a bola desviou na zaga adversária e matou o goleiro Sérgio Néri. Apesar dos dois gols em menos de dez minutos, o placar não mudou mais até o fim do tempo regulamentar. O resultado levou a partida para a prorrogação, já que o primeiro confronto, no Morumbi, também terminou empatado por 1 a 1.


Mas foram justamente os 30 minutos finais que reservaram as maiores emoções ao público. Logo no primeiro lance da prorrogação, Pita escorou cruzamento de Careca e virou o jogo para o Tricolor. Só que, seis minutos depois, Marco Antônio Boiadeiro, de cabeça, deixou tudo igual novamente. Na segunda etapa, o Guarani chegou a virar de novo o placar a seu favor: aos cinco, João Paulo aproveitou falha do zagueiro Wágner Basílio, avançou livre e tocou na saída do goleiro Gilmar, 3 a 2. Mas enquanto a torcida da casa, que lotou o estádio Brinco de Ouro em Campinas, no interior de São Paulo, já comemorava o título, Careca, no último minuto de jogo, pegou uma sobra na área e soltou a bomba para empatar.

Foi emoção do início ao fim, pois foram viradas sucessivas e até os pênaltis foram bem disputados"
Nasi

Na decisão por pênaltis, em cinco chutes para cada lado, o São Paulo levou a melhor com quatro cobranças convertidas contra três do Guarani, conquistando o bicampeonato brasileiro. Nasi, que não foi ao estádio naquela final, garante ter sofrido com o time mesmo de longe, e deve ter precisado até de superpoderes para aguentar as emoções.

- Vi pela televisão, o que às vezes é mais duro do que se estivesse no estádio (risos) - obervou, lembrando dos momentos de calafrios durante a partida.

O sonho da música pelo futebol

Com a família descendente de italianos e predominantemente palmeirense, o cantor começou a torcer pelo São Pauloi por forte influência do pai, que o levava aos jogos. Depois, já perto de meados dos anos 80, essa paixão aumentou quando os são-paulinos na época viram surgir os  “Menudos do Morumbi”. O time, com vários jogadores da base, foi batizado em alusão à banda porto-riquenha “Menudo”, que fazia sucesso estrondoso no Brasil.

nasi ct são paulo (Foto: Divulgação)Identidade secreta? Por baixo da jaqueta, músico exibe a camisa de seu clube do coração (Foto: Divulgação)

- Eu cheguei a ter esse sonho e fui fazer teste em 1977. Naquela época não existia ainda nem o CT de Cutia, então era num terrão ao lado do estádio do Morumbi. Fomos eu e mais três colegas do time do colégio. Mas chegando lá era aquela coisa, né? Sessenta caras, você entrava e tinha uns dez minutos para jogar. E, num campo como aquele, acho que peguei umas duas vezes na bola. Mas acredito que foi o rumo certo porque depois me dediquei a outra profissão (risos). Fui concluir meus estudos e a música apareceu na minha vida - afirmou.

Eu sempre usei costeletas, mas porque é uma coisa típica de rock. Na verdade, fui descobrir o personagem depois. Mas agora vamos mudar um pouquinho: ex-Wolverine (risos)"
Nasi

Segundo o cantor, esse sonho é algo em comum entre os músicos, e a mesma regra se aplica ao contrário.

- Num documentário sobre o Wilson Simonal (cantor brasileiro que fez sucesso entre os anos 60 e 70), que era fanático por futebol e queria ser jogador, o Pelé disse uma frase bem ilustrativa: "Todo músico, em sua maioria, já teve o sonho de ser jogador de futebol; e todo jogador de futebol, ou a maioria, tem a vontade de ser músico." São, talvez, as duas grandes paixões do brasileiro: o futebol e a música - contou Nasi, fã de Rogério Ceni e que começou a praticar futebol como goleiro, mas passou a jogar de volante por causa de sua baixa estatura.

“Wolverine brasileiro”

Nasi como Wolverine em seu CD de 2006 (Foto: Divulgação)Nasi como Wolverine na capa do CD solo "Onde os
anjos não ousam pisar", de 2006 (Foto: Divulgação)

Nasi assumiu o visual do Wolverine e já até posou caracterizado como o personagem no seu primeiro CD solo, “Onde os anjos não ousam pisar” (2006). Nesse mesmo álbum, ele gravou uma música com o nome “Wolverine Blues”. Além disso, a semelhança com o herói dos quadrinhos lhe rendeu até o papel de protagonista no desenho animado "Rockstar Ghost", na MTV.

Mas, enquanto segue sua carreira musical, a “vida” de super-herói parece estar chegando ao fim. Mudando a aparência naturalmente, o cantor explica que não pretende fazer esforço para manter o visual do personagem.

- Eu quis mudar de visual, e minha costeleta já está grisalha. Pintá-la seria demais, né? (risos). Eu sempre usei costeletas, não só por causa do Wolverine, mas porque é uma coisa típica de rock. Sempre gostei. Na verdade, fui descobrir o personagem depois, quando começaram a me chamar de Wolverine e fui ver quem era nos quadrinhos. Mas agora vamos mudar um pouquinho: ex-Wolverine (risos).

jogo inesquecível Nasi ex-Ira! são paulo (Foto: Alexandre Durão / Globoesporte.com)Sem o visual do Wolverine, Nasi posa como heroi mascarado (Foto: Alexandre Durão / Globoesporte.com)

E para aposentar o herói de garras afiadas nas mãos, o músico elegeu o homônimo do Wolverine dos gramados. Para Nasi, o volante Chicão (Francisco Jesuíno Avanzi), capitão do São Paulo no primeiro título brasileiro do clube, em 1977, foi o jogador que mais apresentou garra em campo.

- Ele era o próprio Wolverine. O anti-heroi, amado e odiado, às vezes era violento quando tinha que ser, brigão... (risos).

Guarani 3 (3) x (4) 3 São Paulo
Sérgio Néri, Marco Antônio, Ricardo Rocha, Valdir Carioca e Zé Mário; Tozin, Tite (Vágner) e Marco Antônio Boiadeiro; Catatau (Chiquinho Carioca), Evair e João Paulo Gilmar, Fonseca, Wágner Basílio, Darío Pereyra e
Nelsinho; Bernardo, Silas (Manu) e Pita; Müller, Careca e Sídnei (Rômulo)
Técnico: Carlos Gainete Técnico: Pepe
Gols: Nelsinho (contra), aos dois minutos, e Ricardo Rocha (contra), aos nove do 1º tempo. Pita, a um minuto, e Boiadeiro, aos sete, da 1ª etapa da prorrogação; João Paulo, aos cinco, e Careca, aos 14, do 2º da prorrogação
Cartões amarelos: Ricardo Rocha e Valdir Carioca; Cartão vermelho: Vágner
Local: estádio Brinco de Ouro, em Campinas (SP). Data: 25/02/1987. Competição: Campeonato Brasileiro. Árbitro: José de Assis Aragão (SP). Público: 37.370 pagantes.