14/10/2011 09h47 - Atualizado em 14/10/2011 10h54

Preocupação agora é rever alvarás no Centro, diz Crea-RJ após explosão

Coordenador diz que lei ainda não sancionada prevê vistoria em prédios.
Explosão na quinta-feira deixou 3 mortos e 17 feridos; 3 estão graves.

Carolina LaurianoDo G1 RJ

Funcionários se emocionam ao voltar para pegar pertences em prédio do Centro do Rio após explosão que deixou 3 mortos na quinta-feira (13) (Foto: Carolina Lauriano/G1)Funcionários se emocionam ao voltar para pegar
pertences em prédio do Centro do Rio
(13) (Foto: Carolina Lauriano/G1)

Um dia depois da explosão em uma lanchonete que deixou 3 mortos e 17 feridos, a preocupação agora é rever os alvarás dos imóveis no Centro do Rio. A informação é do  coordenador da Comissão de Análise e Prevenção de Acidente do Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia do Rio (Crea-RJ), Luis Cosenza.

A loja onde houve a explosao não tinha permissão para utilizar gás e, segundo ele, há informações de que o alvará da prefeitura era provisório.

"Essa é a preocupação nesse momento, saber se tem outros casos aqui no Centro iguais a esse que vimos. A explosão foi muito violenta. Nós acreditamos que o vazamento de gás foi proveniente de uma fonte que ainda vai ser encontrada porque a quantidade de gás para provocar o que vimos aqui acho que é muito maior do que aqueles de 13 kg que foram retirados", afirmou.

Segundo ele, há uma lei que prevê a vistoria prévia em prédios que ainda não foi sancionada. "Isso que é importante, que esses prédios tenham fiscalização de 2 em 2 anos, principalmente aqui no Centro, que sao prédios antigos", disse ele.

O assessor jurídico do Sindicato de Bares e Restaurantes, Ricardo Rielo, também esteve no local da explosão nesta manhã e disse que é preciso mais fiscalização. "Não é lícito ter um alvará provisório renovado por 2 ou 3 anos", contestou.

Manifestação
Duas mães que perderam as filhas num acidente com gás foram ao Centro nesta manhã se manifestar sobre as mortes. Elas são do movimento "Morte por gás nunca mais", que existe há 5 anos e tenta sancionar lei de vistoria bianual, gratuita e obrigatória nos imóveis da cidade.

"Tudo começou na conversão de gás, foi quando perdemos nossos filhos", afirmou Fátima Rodrigues, que perdey a filha Carolina, de 19, quando a filha foi tomar banho.

Limpeza e ruas fechadas
Os trabalhos de limpeza no local foram retomados nesta manhã. Segundo o subsecretário de Defesa Civil, Márcio Mota, o trabalho recomeçou às 7h e é feito por equipes de uma empreiteira contratada pela Prefeitura.

Para facilitar o trabalho, algumas ruas da região permanecem interditadas. São elas: Rua Visconde de Rio Branco (na altura da Praça Tiradentes), Rua da Carioca, Rua da Assembleia (a partir da Avenida Rio Branco) e Avenida República do Paraguai (em frente à Rua Evaristo da Veiga, em direção à Rua da Carioca).

A CET-Rio instalou quatro painéis móveis informando sobre as interdições. Os painéis ficam nos seguintes locais: Rua República do Paraguai, antes do Largo da Lapa, sentido Praça Tiradentes; Avenida Marechal Floriano, antes da Av. Passos, sentido Rio Branco; Rio Branco, antes da Rua da Carioca; e Avenida Passos, antes da Avenida Presidente Vargas.

Até a noite de quinta-feira, quatro vítimas da explosão permaneciam internadas em hospitais da rede pública do Rio.

Dono de restaurante recebe alta
Em estado de choque, o dono da lanchonete, Carlos Rogério do Amaral, chegou a ser hospitalizado ao saber do acidente, mas já teve alta. Ele deu entrada no Hospital Quinta D´Or, em São Cristóvão, na Zona Norte. Segundo amigos, Carlos Rogério desmaiou e teve aumento na pressão arterial. Ele recebeu sedativos e acompanhamento psicológico e foi liberado.

Vazamento de gás
Baseado em 12 depoimentos de testemunhas, o delegado da 5ª DP (Mem de Sá), Antônio Bonfim, responsável pela investigação, afirmou que foi comprovada a existência de vazamento de gás. Segundo a polícia, o dono do restaurante pode responder por homicídio doloso.

“Falar em crime em primeiro momento é meio complexo. Mas que ele (o dono) vai ser responsabilizado, sim. Tem uma série de crimes, até o próprio homicídio por dolo eventual, se ele tinha consciência de uma situação dessa natureza e não tomou medida nenhuma. Mas só as investigações vão chegar objetivamente à responsabilizar alguém. Ele pode responder por uma série de outros crimes, mas vamos primeiro verificar o que temos e o que leva à responsabilidade da pessoa dele”.

Depoimentos
De acordo com um dos ouvidos na delegacia, o jornaleiro Jorge Luis Rosa Leal, o funcionário que morreu no local chegou a dizer para ele que o cheiro de gás estava “insuportável”. O sushiman, identificado como Josimar, também afirmou ao jornaleiro que o gás estaria vazando desde terça-feira (11).

Jorge contou ainda que o chef de cozinha, Severino Antônio, perguntou se ele possuía o telefone do dono do estabelecimento, pois precisava avisar sobre o cheiro de gás. Os dois morreram na explosão.

Uma funcionária da lanchonete, Michele Medeiros dos Santos, de 29 anos, afirmou que, quando chegou ao local, Antônio solicitou que ela não entrasse na lanchonete. E perguntou se ela tinha o telefone dos donos do local, alegando que sentia um forte cheiro de gás”.

Michele disse que, após retornar ao local da explosão, também chegou a sentir cheiro de gás. "Senti, mas seu Antônio, o chefe de cozinha, falou que estava muito forte e que era para eu não entrar. Quando eu sai para entregar uma mochila em um prédio ao lado, aconteceu a explosão", contou ela.

Ferido presta depoimento

Michele disse que foi Deus quem a salvou. "Fico triste pelos meus colegas de trabalho". Ela trabalhava na balança do restaurante e foi quem identificou os corpos dos dois funcionários do estabelecimento que morreram. A terceira vítima fatal ela disse que nao conhecia.

Um dos 17 feridos na explosão também prestou depoimento. Ele foi levado para o Hospital Souza Aguiar também no Centro, e recebeu alta. De acordo com o balconista aposentado Marcio Antonio de Souza, ele foi atingido por um pedaço de concreto na cabeça.

“Eu só escutei aquele barulho e um negócio batendo na minha cabeça. Caí no chão, tive uma escoriação, minha perna está toda inchada, não consigo andar direito. Quase fiquei surdo na hora”, disse Márcio.

Ele ainda afirma que ao cair no chão, tentou se levantar, mas permaneceu deitado até que o socorro chegasse. “Tentei me levantar, mas caí de novo. Um rapaz me falou para ficar deitado que o bombeiro estava vindo”, relata o balconista.

Segundo Márcio, ele estava a pelo menos a 40 metros da explosão e seguia para uma consulta no Hospital Universitário Gaffrée e Guinle, na Tijuca, na Zona Norte.

Cigarro pode ter causado explosão, diz polícia
O delegado informou ainda que o jornaleiro acredita que um cigarro possa ter causado a explosão. "Um jornaleiro disse que vendeu um cigarro para uma pessoa e disse a ela que não entrasse no prédio, porque estava um cheiro muito forte (de gás)", afirmou o delegado, acrescentando que, ainda segundo o jornaleiro, essa pessoa entrou no prédio.

"Mas logo em seguida, ainda segundo o jornaleiro, chegou outro funcionario que comprou um cigarro e se dirigiu ao interior do restaurante. Daí a alguns minutos, ele ouviu a explosão. Ele acredita que essa pessoa acendeu o cigarro lá dentro", completou o delegado.

O comandante do Corpo de Bombeiros e secretário estadual de Defesa Civil, coronel Sérgio Simões, afirmou que a lanchonete não tinha autorização para utilizar gás combustível e não tinha todos os papéis necessários para seu funcionamento.

“A edificação não foi aprovada para utilização de gás combustível, seja sob a forma de cilindros de GLP ou canalizado de rua, não sendo admitido abastecimento de qualquer tipo de gás combustível sem prévia autorização", diz o laudo dos bombeiros.

A Companhia Distribuidora de Gás do Rio (CEG) informou, por meio de nota, que "desde 1961 não fornece gás canalizado para o prédio".

veja também
Shopping
    busca de produtoscompare preços de