Ele mora no Brasil, mas a profissão o faz viajar pelo mundo. Jornalista, Décio Lopes comanda o programa "Expresso do Esporte", no SporTV, e entrevista atletas em diversos países. Há sete anos, ele visita a casa de jogadores brasileiros que vivem no exterior e sente nas entrevistas as dificuldades que atletas enfrentam fora do Brasil. (Confira a entrevista do jornalista ao lado)
- É um enorme desafio adaptar-se a uma nova sociedade, a uma nova cultura, a um futebol, a um ambiente de vestiário que é muito diferente do nosso. A comida, o clima, o treinador como chefe, que tem uma postura totalmente diferente dos técnicos brasileiros. Então é um baita desafio, é um recomeço. Ele está realizando um sonho, mas está começando um novo desafio, recomeçando a carreira do zero. Ele tem que sair do Brasil sabendo disso: "Olha, agora é o primeiro ano do resto da minha vida" - disse em entrevista exclusiva ao "SporTV Repórter".
Para Décio, a transferência para o exterior é vista como um triunfo pelo jogador, como sinônimo de sucesso.
- Eu acho que é a realização de um sonho para a maioria deles, desde a divisão de base eles sonham com esse momento. É você ser reconhecido socialmente aqui no Brasil. O torcedor, a família, a imprensa, todo mundo vê com muita felicidade uma transferência para o exterior, como uma vitória, é uma vitória que o jogador está conseguindo na sua carreira.
Apesar da alegria de jogar em um clube fora do Brasil, o jornalista acredita que os atletas não vão preparados para recomeçar a carreira em um lugar desconhecido. Por isso, muitos não se acostumam com a nova vida e sentem falta de casa.
- Naturalmente que, quando a câmera liga, há sempre um esforço para passar uma imagem melhor, uma imagem feliz. O jogador acaba que sempre se cuida na hora da câmera de dar uma levantada no astral. Mas já vi jogares bem tristes, jogadores que, quando desliga a câmera, ele reclama muito e só fala que precisa ir embora daquele lugar e que está muito infeliz. Isso realmente acontece. A gente acha que não, a gente tende a pensar muito que um salário enorme significa uma grande felicidade.
Para os que buscam viver o glamour e usufruir dos milhões de euros prometidos por quem acena com uma transferência para o futebol europeu, o jornalista garante que isto nem sempre é realidade.
- Eu acho que morar no exterior não é fácil. A gente cria uma fantasia de que o jogador na Europa tem uma vida muito glamurosa, uma vida espetacular, e não é nada disso. É claro que têm as grandes estrelas, mas você tem a imensa maioria dos jogadores que levam uma vida bastante pacata, bastante tediosa, e que pode perfeitamente levar a momentos de tristeza e até de depressão nos casos mais graves, especialmente no inverno.
Não faltam destinos para a transferência de um atleta. No futebol, o mundo árabe e o mercado asiático entram no roteiro de quem quer tentar uma vida melhor no exterior. A Itália, Espanha, Itália e Alemanha seguem sendo o principal destino no futebol europeu. Para Décio, a língua diferente é apontada como a grande vilã dos problemas de adaptação dos atletas. (Assista à íntegra do programa no vídeo ao lado)
- Obviamente que quem vai para Portugal, para Itália, para Espanha, tira de letra. Agora, quem vai pra Alemanha... Eu diria que, na maior parte dos casos, o jogador não aprende o idioma. Ele aprende o rudimentar, ele aprende o beabá, o que ele vai falar dentro de campo e fica nisso. Porque ele não vê tanto motivo para investir tempo nisso porque já sabe que, mais cedo ou mais tarde, ele vai embora, então isso é péssimo para o convívio social.