Economia

Chevron: fonte do vazamento foi vedada e só resta óleo residual

Presidente da empresa diz não ter condições de calcular o volume de óleo derramado
Imagens do derramamento de óleo no fundo do mar da área do Frade ,explorada pela Chevron, na Bacia de Campos Foto: Divulgação/ANP
Imagens do derramamento de óleo no fundo do mar da área do Frade ,explorada pela Chevron, na Bacia de Campos Foto: Divulgação/ANP

RIO e BRASÍLIA — O presidente da Chevron Brasil, George Buck, informou na tarde desta sexta-feira que a fonte do vazamento de petróleo no poço do Campo de Frade, na Bacia de Campos , foi vedada desde a a último domingo, dia 13 de novembro. Segundo Buck, o óleo que ainda está surgindo na superfície do mar é residual.

O executivo explicou ainda que, no dia 14, quando a empresa estimou que teria chegado à superfície a maior quantidade de óleo em um dia, a estimativa era de que a mancha correspondia a 882 barris, mas hoje o óleo que vaza no local seria equivalente a 18 barris.

O presidente da Chevron disse não ter condições de quantificar o total de óleo derramado, até porque uma parte dele se evapora e outra acaba se dispersando. Ele explicou ainda que o problema começou com uma falha na modelagem que calcula o peso da "lama" — fluido injetado durante perfuração. Segundo ele, num determinado momento no dia 7 de novembro, o peso da lama foi insuficiente para conter a pressão do poço e o petróleo subiu pela coluna do poço e vazou para o solo, a uma profundidade de 560 metros do fundo do mar. Esse óleo provocou então sete fissuras, por onde ainda está vazando.

O Grupo de Acompanhamento criado para fiscalizar as medidas que vem sendo tomadas pela Chevron para conter o vazamento de óleo, concluiu que o processo de cimentação do poço, iniciado na madrugada do dia 15, tem dado "resultados positivos, com redução substancial do vazamento". O grupo é formado pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) e a Marinha e está se baseando em imagens submarinas captadas pelo ROV (sigla em inglês para veículo operado remotamente).

Em sobrevoo realizado nesta sexta-feira, os técnicos do Ibama também observaram uma diminuição da mancha, que continua se afastando do litoral. Os técnicos estimam que a mancha estejam com 18km de extensão e 11,8 quilômetros quadrados de área, contra uma área 13 quilômetros quadrados na do dia 14 . No período de 12 a 14, a dimensão da mancha chegava a 68 km de extensão, com cerca de 160 quilômetros quadrados de área.

As estimativas da ANP indicam que a vazão média de óleo derramado estaria entre 200 e 330 barris por dia, entre os dias 8 a 15 de novembro

Minc diz que vazamento continua

Mais cedo, o secretário estadual de Ambiente, Carlos Minc, havia afirmado que, ao contrário do que informa a Chevron, o óleo continua vazando. Segundo Minc chamou atenção para o fato de que serão necessárias mais cinco operações de cimentação para vedar completamente o poço.

— A mancha é muito grande e o óleo continua vazando. Por estar poluindo o litoral fluminense, por estar afetando a biodiversidade, por ter subdimensionado o vazamento e por estar sonegando informações, a Chevron deve receber um multa muito rigorosa — comentou Minc, admitindo que a ação da Polícia Federal estar corretíssima.

Minc também admitiu que este o acidente da Chevron acendeu o "sinal vermelho", porque o fato do Estudo de Impacto Ambiental (EIA) não apresentar a falha geológica é um "erro gravíssimo":

— Não podemos minimizar este acidente, ainda que ele seja bem menor do que o da British Petroleum no Golfo do México. Mas ele está se mostrando um festival de erros. Não é a primeira vez no mundo que se tem um acidente com estas característica e a Chevron parece não estar preparada para lidar com este tipo de problema. Temos que tirar lições deste acidente.

Também recai sobre a empresa americana a suspeita da contratação de estrangeiros ilegais no Brasil. A suspeita vai ser investigada pelo chefe da Delegacia de Meio Ambiente e Patrimônio Histórico da Polícia Federal no Rio, Fábio Scliar, que também investiga crime ambiental no derramamento de óleo. Ainda que o emprego de técnicos sem visto para trabalhar Brasil não se relacione diretamente com o acidente, especialistas dizem que tal irregularidade seria um indicativo de que a Chevron não estaria cumprindo toda a legislação brasileira. O presidente da Chevron , no entanto, nega a contratação de trabalhadores ilegais.

Scilar deve começar a convocar representantes da empresa para serem ouvidos no inquérito. Ele afirmou que a lista, pode incluir executivos, técnicos e funcionários embarcados nas plataformas de petróleo:

— Ainda não sei quantas pessoas vamos convocar, mas sabemos que há uma peculiaridade neste caso, pois pessoas que eu quero ouvir estão nas plataformas e vão depender de uma certa logística para chegar aqui. Devemos ouvir estas pessoas na próxima semana — disse o delegado, que na quinta-feira definira o acidente como “uma catástrofe”.

Na manhã desta sexta-feira, ativistas da ONG Greenpeace protestaram contra a petrolífera Chevron, na sede da empresa no Brasil, em um edifício comercial no Centro do Rio. Os manifestantes derramaram uma substância líquida semelhante a petróleo na porta do prédio.

“O Greenpeace quer transparência da Chevron e dos órgãos do governo a respeito do acidente. As informações que se tem até agora são contraditórias. A empresa minimiza o problema. Mas a mancha de óleo pode ultrapassar 160 quilômetros quadrados de extensão”, afirma Leandra Gonçalves, da campanha de Clima e Energia do Greenpeace, em nota distribuída pela ONG.

E técnicos da Marinha, da Agência Nacional do Petróleo (ANP) e do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) sobrevoaram a Bacia de Campos, no norte fluminense. O objetivo era verificar a dimensão da mancha de óleo. Além dos técnicos desses órgãos, o secretário estadual de ambiente, Carlos Minc, também participou do sobrevoo.

Cabral ressalta importância dos royalties em casos de acidentes

Em sua primeira declaração pública sobre o acidente, o governador Sérgio Cabral disse, nesta sexta-feira que está preocupado com os danos ambientais que o vazamento de óleo pode causar à costa fluminense. Ele ressaltou a importância dos recursos dos royalties para se lidar com esse tipo de problema.

— Sem dúvida, é um momento de tensão para o nosso estado, para a nossa costa, para a fauna. Esse acidente é a demonstração clara do que significa um dano ambiental num estado produtor de petróleo. Neste momento temos que somar esforços para mitigar, reduzir os danos e, ao mesmo tempo, punir os responsáveis —afirmou o governador, durante a inauguração da fábrica da Nestlé em Três Rios (RJ).

Vazamento pode ser 23 vezes o informado pela empresa

Até quinta-feira, a Chevron vinha informando que a mancha de óleo localizada a 120 quilômetros da costa equivalia ao volume de 65 barris na superfície, e que o total vazado ao longo dos dias teria chegado a 650 barris. O geólogo americano John Amos, da ONG SkyTruth , estima, entretanto, com base em imagens captadas pela Nasa, que houve o vazamento de 3.738 barris por dia entre 9 e 12 de novembro. Isso daria um total de, pelo menos, 15 mil barris despejados no oceano, ou seja, 23 vezes o cálculo da empresa.

Em conversas com parlamentares do Partido Verde, o presidente da Agência Nacional do Petróleo (ANP), Haroldo Lima, teria calculado que o derramamento de óleo equivale a 3,3 mil barris desde o dia 7 de novembro — cinco vezes mais do que afirma a Chevron. Em conversas com o deputado Sarney Filho (PV-MA) e a diretora da ANP Magda Chambriard, Lima teria dito que houve erro da Chevron na prestação de informações à ANP. Lima informou a Sarney Filho que a Chevron deverá ser punida também por isso, além de multada pelo crime ambiental.

Executivos da Chevron devem ser convocados pelo presidente da Comissão de Meio Ambiente da Câmara, deputado Giovani Cherini (PDT-RS), para uma audiência pública na próxima semana. No Senado, o presidente da Comissão de Meio Ambiente, Rodrigo Rollemberg (PSB-DF), também disse que tomará providências. Na segunda-feira, pretende pôr em votação um requerimento para convidar a empresa, a ANP, o Ministério Público e o secretário Minc.