Edição do dia 19/12/2011

20/12/2011 02h21 - Atualizado em 20/12/2011 02h59

Samoa usa futebol para se unir após tragédia que devastou o país

País com 175 mil habitantes tem duas ilhas e fica na Polinésia.
Tsunami atingiu arquipélago em setembro de 2009 e matou 143.

Andrei KampffÁpia, Samoa

A Samoa é um país que tem duas ilhas e fica na Polinésia, no meio do oceano Pacífico. No país, moram 175 mil pessoas. A natureza sempre foi generosa com Samoa, pelo menos até 29 de setembro de 2009.

No dia, houve muita devastação. Barcos estacionados nas ruas, carros levados para o mar, casas que desapareceram e 143 vidas que se foram. “Setembro de 2009 foi um mês trágico para nós. Muitas vidas perdidas. Muito triste mesmo. Quando eu assisti pela TV, eu me dei conta que estava chorando. Chorando por ver meus amigos de Samoa perdendo suas famílias, seus lares”, afirma Faiuasso.

Faiuasso mora em uma casa simples, com mais 13 pessoas, e é o craque da seleção de futebol de Samoa e do Lepea, atual tricampeão samoano. Depois do tsunami, vestiu a camisa dos voluntários. “Eu ajudei entregando roupas. Eu pegava sacos na federação de futebol e entregava nos vilarejos mais atingidos, junto com água e remédios”, afirma.

O povo de Samoa seguiu em frente, mas as dificuldades continuam. Belos resorts estão vazios.
O turismo, que emprega 30% da população, perdeu quase metade dos visitantes. Turistas, dinheiro e vidas perdidas. Mesmo com todas as dificuldades, os samoanos nunca perderam a esperança, nem o sorriso.

Em uma das regiões mais afetadas pelo tsunami, dois anos depois, ainda é fácil encontrar marcas da tragédia. Um carro foi carregado pelo mar. O samoano não quer esquecer o que aconteceu. O que ele faz questão de mostrar é que a vida continua e que pode voltar a ser como antes.

Faiuasso pega a bolsa, coloca o chinelo e parte para a concentração. A seleção de Samoa é uma das quatro que participaram da primeira fase das eliminatórias da Oceania para a Copa do Mundo do Brasil.

Além de Samoa, entraram em campo outros três países da Polinésia: Samoa americana, Tonga e Ilhas Cook. Destes quatro países, só um passa para a segunda fase. Tem ainda uma terceira.
O campeão ganha o direito de enfrentar o quarto colocado da Concacaf. Se vencer, aí sim se classifica para 2014. “Eu estou realizando um sonho que é jogar pela seleção de meu país. Agora, o que eu mais quero é continuar representando Samoa em outras competições internacionais”, afirma Charles.

Charles é zagueiro, capitão de Samoa e funcionário do porto de Ápia, um vilarejo que é a capital do país. É o trabalho do porto que sustenta a família. Nem ele, nem Tisan, das Ilhas Cook, nem Malakai, de Tonga, nem ninguém que entrou em campo consegue viver somente do futebol.

Faiuasso, o atacante que foi voluntário no tsunami, é o craque de Samoa e ganha menos de R$ 200 por mês para jogar futebol. Faiuasso sabe que, mesmo com o belo futebol apresentado por ele, o campeonato não vai render um contrato milionário. Nem o capitão da seleção, Charles, vai deixar de trabalhar no porto. “Nós estamos fazendo o nosso melhor. Tentando jogar futebol e aprender com países como Brasil, França e Alemanha. Isso é o que importa”, explica.

Mesmo sem grandes jogos, mesmo sem grandes craques, Charles e Faiuasso já sentiram a força transformadora da bola. No mundial deles, já no primeiro jogo, vitória por 3 a 2 sobre as Ilhas Cook, comemorada como título.

Sorrisos, Confraternização e agradecimento. Aos poucos, a vida em Samoa retoma um cotidiano perdido, e o futebol teve um papel importante nisso. É sempre importante agradecer.