05/11/2011 06h31 - Atualizado em 05/11/2011 06h32

O Brasil tem terremotos, sim

País está em cima de uma única placa tectônica, mas já contabiliza mais de 15 tremores de terra com magnitudes maiores ou iguais a 5.0 desde 1922

Mapa da Sismicidade Brasileira (Foto: Divulgação / Observatório Sismológico)Mapa da Sismicidade Brasileira (Foto: Divulgação / Observatório Sismológico)

 

Os brasileiros sempre se gabaram de não precisarem ter medo de terremoto, afinal, o país está em cima de uma única placa tectônica, e é justamente o encontro de duas delas que causam os maiores desastres em países como Estados Unidos e Japão. Mas essa história não é tão simples assim. Os riscos são menores, mas não nulos. E o Brasil já contabiliza mais de 15 tremores de terra (ou abalos sísmicos) com magnitudes maiores ou iguais a 5.0 desde 1922. Fora os mais de 3.140 eventos sismológicos contabilizados com menores ocorrências de Norte a Sul (os dados são da SISBRA/UnB, o Boletim Sísmico Brasileiro de 2008). Acredita-se que dificilmente o Brasil terá um terremoto como o que destruiu partes do Japão em março deste ano. Mas, dizer nunca, jamais.

“A possibilidade é quase zero, mas não podemos dizer que é zero porque a gente tem muito pouca informação sobre a Terra. Nosso planeta foi mapeado centenas de anos antes de Cristo, só que ele tem quatro bilhões de anos. Em 1811-1812, por exemplo, houve um terremoto de magnitude 7.7 em New Madri, no Missouri (EUA) no meio da placa tectônica norte-americana. No Brasil, há pouquíssima gente estudando esses fenômenos e há muito para se entender sobre os terremotos da intraplaca, ou seja, como se comportam as falhas geológicas supostamente ‘estáveis’”, diz o George Sand França, professor do Observatório Sismológico da Universidade de Brasília.

Além do professor da UNB, há cerca de dez doutores em sismologia no Brasil, sendo que três deles em Brasília e três no Rio Grande do Norte, um dos estados mais atingidos por tremores: o município de João Câmara sofreu abalos sísmicos de 5.1 e 5.0 em 1986 e 1989, respectivamente. O tremor mais forte já registrado no Brasil desde o início das primeiras medições instrumentais, na década de 50, ocorreu em 1955 em Serra Tombador (MT), com 6.2 de magnitude. Em 2010, um terremoto de 5 pontos foi registrado na divisa de Goiás e Tocantins. O tremor foi sentido até em Brasília (a 254 km), mais especificamente no Palácio do Planalto.

“As pessoas começam a perceber os tremores quando eles estão acima de 2.0 de magnitude, dependo da distância em que estiver do epicentro do abalo. Os de 3.0 e 3.5 já começam a amedrontar a população. Sofrem mais as cidades que não estão preparadas para isso, com construções não estruturadas para esse tipo de experiência. Recentemente, mesmo distante, Brasília viveu essa experiência para um terremoto de magnitude 5.0”, comenta o professor.

George Sand França, professor do Observatório Sismológico da Universidade de Brasília (Foto: Divulgação)George Sand França, professor do Observatório
Sismológico da UNB (Foto: Divulgação)

Um evento pode durar segundos ou minutos. Acredita-se que, no Brasil, os tremores podem ocorrer devido a existência de falhas geológicas. As maiores falhas geológicas, com potências fortes de terremotos, estão exatamente no limite das placas, e a mais famosa é a de San Andres, na Califórnia. No entanto, essa falhas existem também no interior delas, que foram oriundas de movimentos anteriores da placas ou de placas que já foram consumidas. Essas falhas antigas também estão sujeitas a tensões e podem causar o deslocamento da placa, gerando os tremores denominados tremores intraplacas. O Brasil também sofre reflexos de terremotos com epicentro em outros países da América Latina, mas sem alarde, pois esses só fazem vibrar grandes edifícios, sobretudo na Avenida Paulista. O professor George Sand França atribui outro fator importante: o aumento da população.

“Existe a pressão interna da placa listosférica, que tem fraturas. A pressão na rocha é muito grande, então, ela se desloca. A população aumentou muito e por isso percebe mais os terremotos que tempos atrás”, comenta.

George Sand França estudou Física e fez mestrado na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e doutorado na Universidade de São Paulo (USP). Seu interesse por tremores surgiu quando, em 1989, sentiu um forte em João Câmara (RN), onde vivia.

“Sempre conto essa história aos meus alunos. Sou potiguar e, ali, ao sentir o tremor em João Câmara, decidi ser sismólogo. Achei que estava no lugar certo. Ciência é aquela coisa sobre a qual você tem interesse, mas não entende. Descobri que a ciência sismológica tem apenas um século de estudos. É uma ciência nova”, diz.

De acordo com o professor, o avanço da tecnologia nos ajuda com mais repostas, mas infelizmente ainda não é possível evitar um terremoto. O que se pode fazer é se preparar para não sofrer consequências caso viva algum tremor.

“O que não pode é entrar em pânico. É preciso educar a população para isso. Se estiver na cama, é bom botar o travesseiro na cabeça para não se assustar com o barulho. O ideal é ir para baixo da cama. Em regiões em que há tremores, é bom fixar armários nas paredes e não deixar copos ou vidros em lugares altos”, avalia.

O único caso de morte registrado no Brasil foi em 2007, quando um terremoto de 4.9 graus de magnitude atingiu a comunidade rural de Caraíbas, situada ao norte de Minas Gerais. Uma criança de cinco anos morreu esmagada pela parede de sua casa, que não resistiu ao abalo e caiu. Cinco pessoas ficaram feridas e centenas desabrigadas. Essa, sem dúvida, foi a experiência mais marcante na carreira do professor George:

“Gosto muito do meu trabalho, mas o maior desafio é não só entender as causas do terremoto, como também a parte social a que ele está ligado. Vivi um pouco dessa experiência de Caraíbas, pois fui dar uma palestra logo depois de ter ocorrido um tremor de magnitude 3.5. Tentei ensinar as pessoas a como se comportar. Dois meses depois, soube da tragédia.”

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