Rio

Em três dias, preço de imóvel na Rocinha aumenta 50 %

Donos de casa de dois quartos na Rua 1 queriam R$ 26 mil, mas agora exigem R$ 40 mil
Lenita Rocha teve o imóvel, com vista privilegiada, valorizado
Foto: O Globo / Pablo Jacob
Lenita Rocha teve o imóvel, com vista privilegiada, valorizado Foto: O Globo / Pablo Jacob

RIO - O casal de comerciantes Sebastião Alves e Lenita Maria Gomes da Rocha fazia planos para vender a casa e passar adiante o bar que têm na Rua 1 na Rocinha. A disposição de se mudar para um sítio em Itaboraí continua, mas não os preços para fechar negócio. Antes da ocupação da favela, concordavam em vender a casa de dois quartos, sala e cozinha por R$ 26 mil. Agora, querem R$ 40 mil. Pelo bar, bem localizado, cujo ponto alugam por R$ 500 mensais, pretendem cobrar luvas de R$ 20 mil.

— A Rocinha tem de tudo. Quem mora aqui não precisa nem ir a shopping. Além disso, está perto da Zona Sul. É claro que a tendência é que tudo se valorize — disse Lenita Maria.

Um taxista que se identificou apenas como Carlos Henrique aumentou de R$ 40 mil para R$ 50 mil o preço de venda de um imóvel herdado do pai, perto dos apartamentos construídos pelo PAC:

— Antes da ocupação, chegaram a me oferecer R$ 30 mil e não quis vender. Agora, acho que vou encontrar comprador e ainda está barato — diz.

A valorização, porém, não é novidade em alguns pontos. O mercado dos imóveis mais próximos à Estrada da Gávea já estava aquecido antes mesmo da ocupação. O líder comunitário Adelson Guedes explica:

— Especula-se que traficantes estavam investindo em imóveis em bons pontos da favela. Além disso, sabia-se que, mais cedo ou mais tarde, a favela

seria pacificada e os pontos mais próximos do asfalto se valorizariam. Além disso, também tivemos as obras do PAC — enumerou.

Corretores informais que trabalham dentro da Rocinha também já começam a acenar com o encarecimento de casas e apartamentos na comunidade a partir da chegada da UPP. Um estudo feito pelo Centro de Políticas Sociais (CPS) da FGV estima que o índice de valorização em comunidades pacificadas pode chegar a quase 7% acima da taxa média dos últimos três anos como antecipou, na terça-feira, a coluna do Ancelmo Gois.

O coordenador do CPS, Marcelo Neri, acredita que pelo fato da Rocinha estar na Zona Sul e próxima da Barra, que é uma área que tem se expandido, pode aumentar ainda mais a valorização dos imóveis da comunidade. Para Neri, a boa localização geográfica e aumento da especulação imobiliária pode ser um fator preocupante para o crescimento desordenado na comunidade.

— Pela avaliação dos moradores, a Rocinha não tem uma boa estrutura para moradia. Agora, a Rocinha vai ficar cada vez mais atrativa e Isso pode piorar ainda mais o problema habitacional — avaliou.

A ocupação da Rocinha para a implantação da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) deverá ter impacto na valorização dos imóveis dentro da favela e também no seu entorno. Repetindo um fenômeno já atestado pelo mercado imobiliário em outros bairros com UPPs, espera-se que o metro quadrado em São Conrado, hoje avaliado em R$ 13 mil na orla, suba de 23% a 30% nos primeiros meses após a pacificação, segundo cálculos da Associação dos Dirigentes do Mercado Imobiliário (Ademi) e do Sindicato da Habitação (Secovi-Rio).

Para o vice-presidente da Ademi, Rubem Vasconcelos, morar na Avenida Prefeito Mendes de Moraes, em São Conrado, deverá ficar, em seis meses, mais caro do que viver na Avenida Sernambetiba, na Barra da Tijuca, onde o metro quadrado custa R$ 16 mil. Apenas as avenidas Delfim Moreira e Vieira Souto, no Leblon e em Ipanema, são mais valorizadas. Nelas, ter um metro quadrado para chamar de seu custa R$ 50 mil. Sem espaços novos para construção, a valorização da orla, diz Vasconcelos, será dos imóveis já existentes.