Edição do dia 29/11/2011

29/11/2011 08h57 - Atualizado em 29/11/2011 09h24

Falsas citações, atribuídas a grandes autores, circulam na internet

Não adianta escrever o texto e depois assinar. Na internet, a autoria se dissolve e se transforma. As palavras de um viram as palavras de todos.

São inúmeras as contribuições da internet para a vida moderna. Agora, não dá para acreditar em tudo que aparece na rede. Muita gente já teve os textos copiados e atribuídos a outros autores. Ou pior: alguém escreve um texto ruim e diz que é de um autor consagrado só para ganhar reconhecimento e chamar atenção. O mais engraçado é que, às vezes, o falsificador erra o nome do autor.

O escritor Ricardo Gondim sempre gostou de ler e de escrever. Tem 26 livros publicados, crônicas e temas existenciais. Nunca ninguém duvidou da veracidade dos textos que escreve até o dia em que postou um texto na internet e viu sua escrita ganhar novos donos.

“Pegaram o texto e primeiro atribuíram o texto como se ele fosse de um autor anônimo – não existem nem autores anônimos – e depois foram atribuindo para pessoas mais diferentes possíveis a autoria do texto que era meu. Eu fiquei até surpreendido”, contou o escritor Ricardo Gondim.

Não adianta escrever o texto e depois assinar. O que cai na rede vira quase de domínio público. Na internet, a autoria se dissolve e se transforma. As palavras de um viram as palavras de todos. Quase uma sombra persegue o professor Pasquale Cipro Neto na internet. Vira e mexe, tropeçam na língua portuguesa justo na frente dele.

“Eu nunca escrevi, por exemplo, uma lista de provérbios que correm pela internet que já começa errada pelo título. Vem lá: ‘Direto do professor Pascoale’, com ‘ ‘C’ e ‘O’. Eu sou Pasquale, nome italiano, com ‘QU’. Pegam-se provérbios consagrados e clássicos, alguns deles universais. ‘Quem tem boca vai a Roma’, por exemplo, é um provérbio que existe em outras línguas, com algumas adaptações, mas com o mesmo sentido. Na internet, está lá: ‘Quem tem boca vaia Roma’, do verbo vaiar”, revela o professor Pasquale Cipro Neto.

Nestes tempos em que somos todos internautas, já não acreditamos em tudo o que está escrito na tela. “Principalmente se você já tem algum conhecimento. Se você conhece, por exemplo, o autor, você vai ler e vai falar: ‘Isso é verdade’”, afirma psicóloga Denise Gomes.

“Tem de procurar em livros também, porque a internet não é tudo”, explica estudante Amanda de Jesus Freitas. “É uma série de informações que a gente recebe pela internet que a gente tem de se cercar de outros tipos pra encontrar a verdade”, diz a vendedora Ana Cláudia Araujo.

“Eu leio jornal diariamente e assisto à televisão diariamente. Então o que eu vejo na internet eu assimilo. Faço a comparação para ver se está coerente”, revela o assistente de produção Jailson de Lima.

Doutora em literatura da PUC de São Paulo, Vera Bastazin diz que o importante, seja na internet ou fora dela, é a formação do leitor.

“A questão da leitura é uma questão, eu diria, de segurança nacional. Você quer formar uma grande nação? Você tem de investir em bons leitores. O bom leitor é aquele que vai construir um pensamento próprio. Eu costumo dizer que aquele que constrói um pensamento próprio tem um voo de autonomia. Isso é uma autonomia de voo, porque ele sabe pensar sozinho”, defende Vera.

O escritor Ricardo Gondim chegou a ser denunciado por uma leitora porque teria roubado um texto de Oswald de Andrade batizado de "O valioso tempo dos maduros". Na verdade, o texto chama-se "Tempo que foge", é do Ricardo Gondim e está devidamente publicado em uma coletânea. Agora o que se pergunta é quem tem tempo e disposição para procurar textos na internet, mudar palavras e o autor e sair distribuindo por aí.

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