Coluna
Luiz Paulo Horta Jornalista e acadêmico

Artigo: quando um prefeito sai da sua órbita

Crítico de música clássica do GLOBO comenta as declarações de Eduardo Paes sobre a OSB

Chamado a explicar a decisão da Prefeitura de não dar mais apoio à Orquestra Sinfônica Brasileira, o prefeito Eduardo Paes, como se diz na gíria, “surtou”. Seus comentários fariam sentido numa conversa de beira de piscina. Como declarações de um prefeito, e de uma cidade como o Rio de Janeiro, são de uma deselegância total, e de uma absoluta impropriedade. O que é mais triste: tudo isso por causa de 8 milhões, que é o que a Prefeitura dava à OSB, e que correspondem a 20% do orçamento total da orquestra. O equivalente a um show de rock, desses que a Prefeitura volta e meia patrocina.

Diz o prefeito: “Dinheiro público tem de ser investido em coisas que dão projeção à cidade. A OSB, infelizmente, podia dar mais projeção à cidade”. Isto, para o prefeito, seria conseguido se a OSB de fundisse com a Petrobras Sinfônica — a outra grande orquestra do Rio de Janeiro.

Por que será que a OSB “não dá projeção à cidade”? O prefeito não tem sido visto nos concertos da OSB. Não pode saber, portanto, se ela está tocando bem ou mal. A verdade é que, depois da grande crise do ano passado, a orquestra tem mostrado um nível bastante alto de execução. Por que não faz mais? Porque (como se vê agora) o apoio oficial está sempre sujeito a chuvas e trovoadas. Em São Paulo, a Osesp tornou-se um conjunto de nível internacional porque, anos a fio, encontrou o apoio necessário das autoridades.

Patrocínio privado é bom — e a OSB, no momento, conta com esses apoios, vindos da Vale, do BNDES. Mas perder de repente 20% do orçamento é uma bruta demonstração de desinteresse das autoridades.

Quanto a fundir orquestras, é coisa que às vezes acontece. Já se falou nisso. Mas o modo como o prefeito abordou o assunto é um desrespeito à OSB e à Petrobras Sinfônica. O Sr prefeito/crítico/de/música está dizendo que cada uma, de per si, não se sustenta. Talvez ele pudesse ouvir a classe musical, antes de ser tão categórico. Aparentemente, o prefeito está nervoso porque tem grandes eventos pela frente. Grandes eventos, entretanto, se enfrentam com sangue frio, e sem sacrificar o dia a dia das pessoas que estão aqui antes dos eventos, e que continuarão aqui depois que a tempestade passar.

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