Rio

Acusado de agredir três jovens em festa na Gávea é transferido para Bangu 10

José Phillipe Ribeiro de Castro foi preso em casa neste domingo e passou a noite na delegacia do Leblon
José Phillippe deixa a delegacia e segue para Bangu 10 Foto: Gabriel de Paiva / Agência O Globo
José Phillippe deixa a delegacia e segue para Bangu 10 Foto: Gabriel de Paiva / Agência O Globo

RIO - José Phillippe Ribeiro de Castro, de 28 anos, acusado de agredir três pessoas durante uma festa na Gávea, na madrugada de sábado, foi transferido para o presídio Bangu 10, no Complexo Penitenciário de Gericinó, no início da tarde desta segunda-feira. O promotor de eventos foi preso, em casa, na manhã deste domingo. Acostumado com o luxo, ele passou maior parte do tempo deitado numa cela da 14ª DP (Leblon),  e comeu uma quentinha com arroz, feijão, batata, contra filé e salada, enquanto aguardava sua transferência. Alegando estar passando mal, ele chegou a ser levado para o Hospital municipal Miguel Couto, na Gávea.

A delegada titular da 14ª DP, Monique Vidal, aguarda a chegada da noiva de José Phillippe e do irmão dele, João Gabriel, para prestarem depoimento. O agressor é acusado de por fim, de forma violenta, uma festa organizada pelo irmão, João Gabriel, na casa da família, na Gávea. Na ocasião, três dos 12 convidados que permaneciam à beira da piscina foram feridos a golpes de lâmina — investigadores encontraram no local um saca-rolha sujo de sangue. Uma das vítimas, Ana Carolina Romeiro, atingida pelo menos três vezes no peito, foi levada em estado grave para a Clínica São Vicente, no mesmo bairro.

José Phillippe Ribeiro de Castro: suspeito de ferir três jovens durante festa na Gávea Foto: Reprodução / Facebook
José Phillippe Ribeiro de Castro: suspeito de ferir três jovens durante festa na Gávea Foto: Reprodução / Facebook

Promotor de eventos e integrante de uma família que é dona de uma usina de açúcar e faz negócios no ramo da pecuária e no mercado financeiro, José Philippe apresenta um histórico de passagens pela polícia que começou em 2002, quando ele tinha apenas 16 anos. Dali em diante, protagonizou crimes como lesão corporal, violência doméstica, violação de domicílio e constrangimento ilegal. São, no total, oito casos registrados em delegacias da Zona Sul e de Búzios, além de um na Delegacia Especial de Atendimento à Mulher (Deam) de Florianópolis, em Santa Catarina. A análise das autuações revela o perfil de um jovem instável e agressivo, sobretudo com mulheres.

Em metade dos casos, mulheres foram vítimas. Duas tiveram relacionamentos amorosos com José Phillippe. Uma delas relatou, em setembro de 2010, ter sido agredida e ameaçada de morte no quarto do promotor de eventos. Apesar de o episódio ter ocorrido seis meses antes, no Rio, ela só recorreu à polícia ao voltar à cidade natal, Florianópolis. No registro feito na Deam, argumentou não ter procurado uma delegacia no Rio temendo represálias do ex-namorado, que foi autuado por lesão corporal e violência doméstica.

Um ano depois, o promotor de eventos foi autuado na 12ª DP (Copacabana). Dessa vez, por violação de domicílio e constrangimento ilegal. Na ocasião, outra ex-namorada procurou a polícia para contar que o rapaz havia arrombado a porta de seu apartamento, na Ladeira Saint Roman. Não fosse a intervenção do porteiro e de uma amiga, que dormia no imóvel, a jovem poderia ter sido agredida.

RELATO DO ATAQUE

Ana Carolina Romeiro Foto: Reprodução
Ana Carolina Romeiro Foto: Reprodução

Características do comportamento violento de José Phillippe também vieram à tona no depoimento de Lourenço Mayer Brenha, ouvido na noite de sábado na delegacia do Leblon. Frequentador da casa da família Ribeiro de Castro, na Gávea, ele estava na festa e acabou ferido em uma mão ao tentar conter o promotor de eventos, que acabara de golpear Gabriel Silva e sua namorada, Ana Carolina. Gabriel teve uma orelha decepada. Ana Carolina foi operada no sábado e, até ontem, permanecia internada em estado grave na UTI da Clínica São Vicente.

Em seu relato à polícia, Lourenço disse que, ao ver Ana Carolina caída, sangrando às margens da piscina, o agressor gritou para que sumissem com ela dali. Foi Lourenço e João Gabriel, irmão de José Phillippe, que levaram a jovem à clínica.

Já Gabriel Silva pulou o muro da casa para escapar da fúria do promotor de eventos. Sangrando muito, ele foi amparado por vigilantes e levado por uma ambulância do Corpo de Bombeiros ao Hospital Miguel Couto, onde passou por uma cirurgia para ter a orelha implantada. Gabriel foi transferido ontem para o Hospital Copa D’Or. O cenário de horror à beira da piscina foi descrito por testemunhas e vizinhos, que apontaram um rastro de sangue saindo da casa e se estendendo por parte da Rua Embaixador Carlos Taylor.

Saca-rolha com vestígio de sangue apreendido pela polícia na casa onde aconteceu a festa Foto: Divulgação
Saca-rolha com vestígio de sangue apreendido pela polícia na casa onde aconteceu a festa Foto: Divulgação

Apesar da gravidade das acusações, José Phillippe não demonstrou remorso ao ser preso e levado à 14ª DP (Leblon). Aos policiais, disse ser formado em economia e afirmou que não foi à delegacia por contar com advogados para isso. Vestindo bermuda e camisa polo amarela, ele alegou em depoimento que foi agredido por trás quando chegou do trabalho com sua namorada, por volta das 5h. José Phillippe disse ter reclamado que os jovens faziam algazarra e urinavam à beira da piscina.

O promotor de eventos afirmou ainda que havia saído cansado da festa All Black Party, organizada por ele na casa de shows Miranda, na Lagoa, e se deparou com um cenário de desordem em sua casa. José Phillippe disse que sua namorada foi atacada por Gabriel, que, segundo ele, estava urinando no jardim. O promotor de eventos afirmou que, apesar de ter ficado em uma festa desde as 18h de sexta-feira, não havia bebido, e que, ao chegar em casa, teria reconhecido apenas Lourenço Brenha.

Na versão de José Phillippe, Ana Carolina pulou em seu pescoço, cravando as unhas em suas costas. Nesse momento, de acordo com ele, houve uma briga generalizada. O rapaz disse não se lembrar de mais nada.

Carro da PM fica em frente à casa onde houve festa na Gávea Foto: Guilherme Leporace / Agência O Globo
Carro da PM fica em frente à casa onde houve festa na Gávea Foto: Guilherme Leporace / Agência O Globo

Pela versão das testemunhas ouvidas na delegacia, José Phillippe estava muito alterado, gritando com o irmão, João Gabriel, e com os poucos convidados que permaneciam na festa.

Para a delegada Monique Vidal, titular da 14ª DP, o histórico de José Phillippe comprova que ele é um jovem agressivo e que conta com a proteção de parte da família. Num dos depoimentos, uma testemunha afirma que um parente do promotor de eventos teria lhe pedido para ‘‘abafar o caso’’.

— Ele precisa responder por isso, não importa a sua classe social. A lei tem que ser igual para todos — disse a delegada.

Os advogados Ary Bergher e Raphael Mattos, contratados para defender o suspeito, disseram que vão recorrer à Justiça para tentar libertá-lo logo. Segundo eles, José Phillippe trabalha, tem endereço fixo e não coloca a investigação em risco.